O Estado de São Paulo, n. 45262, 19/09/2017. Internacional, p.A10

 

 

 

Em jantar com Temer, Trump defende ações adicionais contra o chavismo

‘Inaceitável’. Presidente americano diz em Nova York que instituições democráticas estão sendo destruídas na Venezuela e cobra que países vizinhos façam mais para pressionar Caracas; líderes concordam que crise tem de ser superada sem intervenção externa

Por: Cláudia Trevisan

 

Cláudia Trevisan

ENVIADA ESPECIAL / NOVA YORK

 

Os EUA estão prontos para adotar ações adicionais contra a Venezuela, afirmou ontem o presidente Donald Trump, que pediu aos líderes de Brasil, Colômbia, Panamá e Argentina que estejam preparados para “fazer mais” em relação à crise do país.

“O regime de Nicolás Maduro desafiou seu próprio povo e roubou o poder de representantes eleitos para preservar o seu governo desastroso”, disse o americano na abertura de um jantar com representantes das quatro nações. “Nós defendemos a plena restauração da democracia e das liberdades políticas na Venezuela e queremos que isso aconteça muito, muito em breve.”

Em entrevista depois do encontro, o presidente Michel Temer disse que houve “concordância absoluta” entre os participantes sobre a importância da ajuda humanitária e do restabelecimento da democracia sem “intervenção externa”.

No mês passado, Trump declarou que não descartava uma ação militar para resolver a crise na Venezuela, o que é rejeitado por virtualmente todos os países da região. Segundo Temer, os participantes concordaram com a necessidade de incorporar países do Caribe à pressão internacional sobre Maduro.

Grande parte da região continua a apoiar Caracas em votações na Organização dos Estados Americanos (OEA), o que impediu até agora que a instituição agisse na busca de soluções para a instabilidade venezuelana.

O presidente do Panamá, Juan Carlos Varela, disse que houve concordância também com relação a coordenação de ações para “assegurar” que a Venezuela realize eleições presidenciais “transparentes” e “livres” em 2018. No entanto, ele ressaltou que cada país adotará medidas específicas, de acordo com decisões soberanas.

“Existe consenso geral de que a saída para a crise na Venezuela, que é uma crise humanitária e econômica, é pela via de eleições democráticas que respeitem a vontade popular e, dessa forma, o país possa encontrar a paz social que todos queremos”, disse o panamenho.

De acordo com Temer, não foi discutida a imposição de novas punições. Os EUA adotaram sanções financeiras contra a Venezuela e determinaram o congelamento de ativos de autoridades venezuelanas em território americano. “Sanções não foram exatamente discutidas. Falou-se em sanções, mas são sanções verbais”, observou. “Todos querem continuar a pressão para resolver, mas a pressão diplomática.”

A reunião foi a primeira do americano com um grupo de representantes da América Latina. Na avaliação do embaixador do Brasil em Washington, Sergio Amaral, o encontro demonstrou um interesse de Trump pela região que ainda não havia se manifestado.

Temer chegou com cinco minutos de atraso e foi alvo do protesto um pequeno grupo de manifestantes brasileiros. O presidente viajou a Nova York logo depois da posse da nova procuradora-geral da República, Raquel Dodge, e foi direto do Aeroporto JFK para o hotel Lotte New York Palace, local do jantar.

Temer faz hoje o discurso de abertura da Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), tradicionalmente realizado pelo presidente do Brasil. Hoje e amanhã, ele terá reuniões bilaterais com os líderes da Palestina, Mahmoud Abbas, de Israel, Binyamin Netanyahu, do Egito, Abdel Fattah el-Sissi, e do Irã, Hassan Rohani. O presidente retornará ao Brasil no começo da tarde de amanhã.

 

Encontro. Trump e Temer em jantar em Nova York; ambos discursarão hoje na Assembleia-Geral das Nações Unidas

 

Ajuda

“Os vizinhos e amigos da Venezuela têm a responsabilidade de ajudar a população local a recuperar seu país e restaurar a democracia”

Donald Trump

PRESIDENTE DOS EUA

 

Discursos

Desfalques

Reunião terá ausências importantes

A reunião de líderes mundiais que começa hoje em Nova York terá desfalques importantes. Faltarão o chinês Xi Jin Ping, o russo Vladimir Putin, o venezuelano Nicolás Maduro e a alemã Angela Merkel. Também decidiram não comparecer a líder de Mianmar, Aung San Suu Kyi, o cubano Raúl Castro, o sírio Bashar Assad e o peruano Pablo Kuczynski

 

Destaques

Principais oradores do 1º dia

O discurso mais aguardado é o primeiro do americano Donald Trump. O primeiro a falar por tradição será o presidente brasileiro. Também são esperadas as falas do francês Emmanuel Macron; do colombiano Juan Manuel Santos; do emir do Catar, Tamim bin Hamad al Thani, do turco Recep Tayyip Erdogan; e do israelense Binyamin Netanyahu.

 

 

Crítica prévia

Líder americano vê burocracia na ONU

Donald Trump criticou ontem a “burocracia” da ONU em uma reunião da organização. “A ONU deve se concentrar mais nas pessoas e menos na burocracia” e buscar “resultados”, defendeu o republicano. Ele disse em dezembro que a organização funcionava como um “clube para que as pessoas se encontrassem, conversassem e passassem um bom tempo”.