O Estado de São Paulo, n. 45247, 04/09/2017. Política, p. A4.

 

Doria admite sair do PSDB e descarta prévia com Alckmin

Pedro Venceslau

04/09/2017

 

 

‘A política traz sempre ares, tempestades e fatos que não estão dentro do seu prognóstico’, diz prefeito de São Paulo

 

 

ENTREVISTA - João Doria

Em entrevista ao Estado, o prefeito João Doria disse que as pesquisas de intenção de voto serão determinantes na escolha do candidato tucano ao Palácio do Planalto em 2018. Doria descartou a hipótese de disputar prévias com o governador Geraldo Alckmin. Questionado sobre a possibilidade de deixar o PSDB para concorrer à Presidência da República, ele não descartou: “Pretendo continuar, até que alguma circunstância me impeça disso”.

 

O sr. disse que o fator povo será importante para definir o candidato do PSDB...

Importante não, definitivo. Não se pode imaginar a decisão do PSDB sobre o nome que vai disputar a Presidência da República ou o Estado de São Paulo se você não ouvir o povo. Não há como imaginar que alguém possa ser indicado sem que seja pelo povo.
 
 
Isso significa que as pesquisas terão um papel importante na escolha do candidato do PSDB?

Ao meu ver, sim. Se alguém tiver dúvida em uma pesquisa, que faça duas. Se tiver dúvida em duas, que faça três. Não ouvir o povo pode ser um erro fatal para o PSDB.

 

Então se o governador Geraldo Alckmin estiver em uma posição abaixo da sua nas pesquisas, como está hoje, o sr. seria o candidato? O PSDB deve levar as pesquisas em consideração?

Essa é uma decisão a ser tomada mais adiante. Ainda é cedo para avaliar. Não faço uma defesa personalista, mas nacional. Acertar na indicação é ouvir a população.

 

O sr. defende as prévias. Enfrentaria Alckmin na disputa interna?

Não disputarei prévias com Geraldo Alckmin, embora defenda as prévias. Não faz o menor sentido. Não faria isso. Desde já me excluo dessa condição.

 

O sr. esteve com o presidente da França, Emannuel Macron, que foi eleito após criar uma novo partido. É, segundo disse, uma referência. Falando francamente: após receber convites do PMDB e DEM, descarta a possibilidade de deixar o PSDB?

A política traz sempre ares, tempestades e fatos que não estão dentro do seu prognóstico. Isso se aprende rápido na vida política. Estou na política, mas não sou político. Não tenho intenção de mudar de partido, mas é sempre bom ouvir de outros partidos que você é bem-vindo. Não é só o PMDB e o DEM. Outros dois partidos tiveram a gentileza e a delicadeza de abrir as portas caso necessário. Agradeci. Estou no PSDB desde 2001, muito antes de pensar em ser candidato. Não entrei por conveniência. Pretendo continuar no PSDB, até que alguma circunstância me impeça disso. Em relação ao futuro, cabe a Deus indicar, iluminar e definir qual é o destino.

 

O sr. adotou recentemente um discurso mais moderado, sem citar a bandeira vermelha do PT. Essa mudança veio para ficar?

São etapas. O discurso é como uma caminhada. Daqui a 10 metros não será mais o mesmo cenário. Sua reação pode ser diferente. Sou um conciliador. Sempre fui uma pessoa integradora. Eu respeito as pessoas. Embora eu seja firme na defesa das minhas posições, nunca desqualifiquei e xinguei.

 

Chamou a Dilma de anta...

Não foi a melhor posição. Até me desculpei em relação a isso. Não precisava me referir a ela dessa maneira. Reafirmo minhas desculpas.

 

O governador Geraldo Alckmin apoia o senador Tasso Jereissati para a presidência do PSDB. Já o sr. apoia o governador de Goiás, Marconi Perillo. O sr. e governador estão se distanciando?

Não há afastamento nem diferenças pessoais. Há posições que nem sempre são as mesmas. Mas isso não implica um distanciamento meu em relação ao governador e dele em relação a mim. Eu de fato apoio o Marconi Perillo para a presidência do PSDB. Entendo que o senador Tasso cumpriu um papel importante, mas é hora de renovar. A renovação tem no nome de Marconi Perillo uma pessoa vibrante e inovadora. Seria um ganho tê-lo como presidente e manter Tasso na executiva.

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Agenda do prefeito é negada por assessoria de primeiro-ministro

 Andrei Netto/Pedro Venceslau

04/09/2017

 

 

Programa de Doria previa almoço com Édouard Philippe, mas gabinete do francês diz que ele não estava nem em Paris

 

 

Na rápida passagem de João Doria por Paris, a agenda oficial do prefeito anunciou que ele teria um almoço reservado no sábado com o primeiro-ministro francês, Édouard Philippe, que não estava na cidade. A informação sobre o encontro bilateral foi enviada aos jornalistas brasileiros antes de chegada de Doria na cidade e confirmada na noite de sexta-feira, mas em nenhum momento constou da agenda oficial do líder francês.

Ao Estado, a direção de comunicação do primeiro-ministro informou que Philippe já tinha agendado previamente uma viagem a cidade de La Havre, no interior da França, e que o encontro nem sequer chegou a ser programado.

Segundo a assessoria de Doria, o que houve foi um desencontro. O almoço entre o prefeito e o primeiro-ministro teria sido articulado por canais não oficiais e adiado em cima da hora.

O interlocutor entre as duas partes foi o economista Jaques Attali. Considerado o ideólogo do presidente Emannuel Macron, Attali tem bom trânsito no primeiro escalão da política francesa. Ele foi o organizador do Global Positive Fórum, evento que reuniu líderes de vários países em Paris no fim semana. Doria foi o único político latino-americano presente.

Attali disse que a próxima edição do evento, em 2019, será em São Paulo. O economista promoveu uma rápida conversa entre o prefeito de São Paulo e Macron durante um coquetel na sede do governo francês após o encerramento do Fórum. Doria e o presidente conversaram rapidamente.

Em um vídeo gravado pela assessoria do prefeito e publicado nas redes sociais, apenas tucano falou, em francês. Segundo Doria, durante a conversa, Macron “prontamente” aceitou participar da próxima edição do Global Positive Fórum no Brasil.