Correio braziliense, n. 19908, 24/11/2017. Política, p. 05.

 

 

PMDB expulsa Kátia Abreu

Rodolfo Costa

24/11/2017

 

 

PARTIDOS » Legenda adota tom mais duro contra parlamentares infiéis. Senadora era crítica do governo e votou contra reformas propostas pelo Palácio do Planalto. Conselho de Ética avalia também a situação do senador Roberto Requião (PR)

 

 

O Conselho de Ética do PMDB determinou, por unanimidade, a expulsão da senadora Kátia Abreu (TO) da legenda. A decisão foi prontamente acatada pelo presidente nacional da sigla, senador Romero Jucá (PMDB-RR), líder do governo no Senado Federal.

O desligamento da senadora não foi uma grande surpresa. Desde setembro, ela estava afastada, por recomendação da própria comissão de ética. Ligada à ex-presidente Dilma Rousseff, Kátia foi ex-ministra da Agricultura na gestão da petista e votou, em 31 de agosto do ano passado, contra o impeachment. Nas votações da chamada PEC do Teto dos Gastos, em dezembro de 2016, e da reforma trabalhista, em julho deste ano, a parlamentar tomou posição contrária ao governo do presidente Michel Temer.

À época do afastamento, Kátia acusou Jucá de querer expulsá-la para intimidar deputados federais que votariam a favor da admissibilidade da denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) contra Temer. A senadora alegou que o partido não havia proposto “nenhum tipo de punição a filiados condenados por crimes graves, como corrupção e formação de quadrilha”. Em uma rede social, ela questionou se o presidente do PMDB não pediria a expulsão da “turma da tornozeleira”. “Vai convidar Cunha e Geddel?”, indagou, com ironia.

 

Infiéis

No Senado, a expectativa é de que Kátia não será a única a ser expulsa do partido. Peemedebistas já esperam o desligamento do senador Roberto Requião (PMDB-PR), que também votou contra as reformas propostas pelo Palácio do Planalto. Em agosto, a Secretaria Nacional da Juventude do PMDB encaminhou à Comissão de Ética da legenda o pedido de expulsão do parlamentar. Naquela época, ele trocou ofensas com Jucá em vídeos divulgados nas redes sociais.

A comissão de ética ainda analisa a situação de Requião. Mas, diante da postura do partido e do governo, que promete não ser complacente com parlamentares infiéis, são grandes as probabilidades de expulsão do senador paranaense. A própria reforma ministerial, discutida no Palácio do Planalto, mostra que o governo pretende corresponder proporcionalmente ao apoio dado pelos partidos da coligação. O ex-ministro das Cidades, deputado federal Bruno Araújo (PSDB-PE), deu lugar ao deputado Alexandre Baldy (sem partido-GO), que deve se filiar ao PP nos próximos dias. Enquanto os tucanos ficaram divididos na segunda denúncia contra Temer, os progressistas mostraram fidelidade à gestão de Michel Temer.

 

Ataques

Ao comentar a expulsão de Kátia e as reformas apoiadas pelo PMDB no Senado, Jucá limitou-se a dizer que “a medida demonstra a nova fase de posicionamento da legenda”. Mas, em nota, o PMDB nacional mostrou uma postura mais agressiva. “O partido reforça o respeito às mais diferentes opiniões, mas não tolerará mais desrespeito e ataques tão sórdidos como aqueles feitos em diversas oportunidades pela senadora.”

Também em nota, Kátia Abreu afirmou ter sido expulsa da sigla por não ter feito “concessão à ética na política”. “Fui expulsa por defender posições que desagradam ao governo. Fui expulsa, pois ousei dizer não a cargos, privilégios ou regalias do poder. A mesma comissão de ‘ética’ não ousou abrir processo contra membros do partido presos por corrupção e crimes contra o país”, declarou.