O globo, n.30842 , 15/01/2018. ECONOMIA, p. 14

Maia admite que será difícil aprovar a reforma da Previdência

HENRIQUE GOMES BATISTA

 

 

Presidente da Câmara diz que será ‘viável com a ajuda dos governadores’

 

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), admitiu ontem em Nova York que será muito difícil, mas ainda viável, aprovar a reforma da Previdência. Por outro lado, ele acredita que a piora das contas públicas dos estados pode facilitar a obtenção dos votos necessários.

— Sempre fui muito realista. O governo saiu de uma base de 316 deputados no fim de 2016 para terminar, após a segunda denúncia contra o presidente (Michel) Temer, com 250. É preciso recompor cerca de 70, 80 votos. A decisão do governo, depois da primeira denúncia, foi a de afastar quem não votasse a favor do presidente. Isso abriu um problema: como se faz agora para conquistar 308 votos? A reforma é urgente, precisa ser aprovada, mas, para isso, é preciso se reconstruir a base do governo tal como era para se ir ao plenário — disse.

Ao ser perguntado se seria viável aprovar a reforma em fevereiro, Maia respondeu:

— Construir uma base sólida de pelo menos 320, 330 deputados não sera fácil, vai precisar de muito diálogo e do envolvimento de outros políticos, inclusive dos governadores. Afinal, eles serão beneficiados. Este ano, cinco estados não conseguiram pagar o décimo terceiro do funcionalismo, este número aumentará no ano que vem se a reforma não for aprovada. É viável com a ajuda dos governadores. E não adianta vir tentar negociar soluções para fluxo de caixa a curto prazo, temos de reestruturar as contas públicas brasileiras já.

Perguntado sobre o estranhamento que teve com o ministro Henrique Meirelles (Fazenda) após o rebaixamento da nota do Brasil pela agência de classificação de risco Standard & Poor’s na semana passada, Maia defendeu o Parlamento:

— O Congresso votou matérias que todos consideravam praticamente impossíveis, como a reforma trabalhista. O governo encaminhou uma reforma tímida, com apenas cinco artigos, nós mudamos pelo menos cem artigos. Estamos colaborando muito com a agenda de reformas da economia brasileira, com a terceirização, com o projeto do présal, com a recuperação fiscal dos estados. Não pode parte do governo transferir para o Congresso uma responsabilidade que não é nossa. Em julho, a gente aprovaria a Previdência. O que não é justo e não é bom para a reforma é esse jogo de que não sou culpado, você não é culpado, porque todos estamos com o mesmo objetivo, que é reformar o Estado brasileiro.

 

TEMER SE REÚNE COM MINISTROS

Já em Brasília, Temer reservou a manhã de ontem para discutir o cenário econômico do país com alguns ministros, no Palácio do Jaburu. Estavam presentes Meirelles, Moreira Franco (Secretaria-Geral), Torquato Jardim (Justiça) e Gustavo Rocha (interino da Casa Civil).

Segundo a assessoria de imprensa da presidência, foram debatidas medidas adotadas para reduzir a inflação, a recuperação da economia, a necessidade de contenção de gastos, a reforma da Previdência e ações para gerar empregos.

Em uma rede social, Temer destacou que, antes da reunião, ele e os ministros caminharam do Palácio do Jaburu até o Alvorada, cerca de 1,5 quilômetro.