Correio braziliense, n. 19944, 31/12/2017. Política, p. 2

 

Na dança da desilusão dos eleitores em 2018

Denise Rothenburg e Natália Lambert 

31/12/2017

 

 

Diante da descrença da população nos partidos tradicionais, políticos de menor tradição veem a oportunidade de subir ao grupo especial do carnaval eleitoral

Assim como a Unidos da Tijuca soube aproveitar o momento para investir na tecnologia e na criatividade para se tornar a grande revelação do carnaval do Rio de Janeiro nos últimos tempos, com três títulos de 2010 para cá, políticos de partidos com menor expressão nacional querem aproveitar o desgaste dos medalhões tradicionais — apresentados na edição de ontem — para se lançar ao Planalto e conquistar a avenida.

Na ala direita do sambódromo, o principal deles é o deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ). O político está na Câmara desde 1991 e acredita que agora é o momento para um desfile mais ousado. Assim como ele, o senador Alvaro Dias (Podemos-PR) também deixa o conforto do quarto mandato consecutivo no Senado para subir no carro alegórico e tentar sacudir a galera.
Com um enredo diferente, mais alinhado ao do PT, a deputada estadual pelo Rio Grande do Sul Manuela D’Ávila (PCdoB-RS) pretende conquistar os jovens e as mulheres para se tornar a segunda mulher detentora do estandarte de ouro da história do país. E, já no alvorecer do segundo dia de desfiles, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), pode surgir como uma surpresa aos espectadores.

Jair Bolsonaro

» Agremiação: PEN (Patriotas)

» Conjunto: 75.413 filiados, 0,451% do eleitorado brasileiro

» Alegorias: 3 deputados federais, 14 deputados estaduais, 51 prefeitos

» Evolução: deputado federal (1991-atualidade) e vereador (1989-1991)

» Enredo: discurso radical à direita com foco em segurança pública e família

» Mestres-salas: Flávio Bolsonaro e Eduardo Bolsonaro

» Comissão de frente: os deputados delegado Waldir (PR-GO), delegado Éder Mauro (PSD-PA), delegado Fernando Francischini (SD-PR) e Onyx Lorenzoni (DEM-RS)

Folia com disciplina

Com o rigor da disciplina militar, o deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ) pretende entrar na avenida no melhor estilo abre-alas. A missão: conquistar o estandarte de ouro a partir de 2019. Com uma campanha caseira, na qual dispensará marqueteiros “para não perder a essência”, o enredo será focado em segurança pública, família e soberania nacional. Vindo de uma candidatura que parecia brincadeira das redes sociais, o parlamentar despontou nas pesquisas de intenção de voto e se consolidou como um nome para chegar a um eventual segundo turno.

A onda de apoio se refletiu no Parlamento. Se, no começo de 2017, na eleição para a presidência da Câmara, Bolsonaro teve tímidos quatro votos, na última semana de trabalho, já contava com uma dúzia de discursos efusivos na tribuna, especialmente, dos deputados da bancada da bala. Um dos nomes que estará ao seu lado é Onyx Lorenzoni (DEM-RS). “O discurso dele não é radical. É equilibrado, único e inédito”, afirma Lorenzoni.

Um dos primeiros problemas para o candidato é definir a agremiação pela qual entrará no sambódromo. De público, Bolsonaro pode até parecer um democrata. Mas, nos bastidores, ele tem se mostrado disposto a ingressar num partido em que possa mandar. Por enquanto, o compromisso é com o Patriotas (PEN), mas só irá se a legenda cumprir exigências, entre elas, o controle de diretórios estaduais e da executiva nacional. De acordo com a assessoria dele, isso não é obstáculo, já que “há uma lista de legendas interessadas”.

Por enquanto, a ideia é se unir aos pequenos e médios partidos para aumentar o tempo de campanha no rádio e na TV. “Ele é o único candidato que tem militância espontânea e, por isso, o principal meio será a internet, mas ele sabe que a televisão é importante”, diz um coordenador da campanha que ainda prefere se manter no anonimato.

Álvaro Dias

» Agremiação: Podemos (Antigo PTN)

» Conjunto: 162.165 filiados, 0,971% do eleitorado brasileiro

» Alegorias: 3 senadores, 17 deputados federais, 16 deputados estaduais, 30 prefeitos

» Evolução: senador (1983-1987 de 1999 à atualidade); governador do Paraná (1987-1991); deputado federal (1975-1983) e deputado estadual (1971-1975)

» Enredo: combate à corrupção, aos privilégios e a ruptura com o atual sistema político

» Mestres-salas: senadores Romário (RJ) e José Medeiros (MT)

» Comissão de frente: Renata Abreu (SP)

Clima de renovação

Apesar de carregar o peso da tradição, assim como a Estácio de Sá — medalha de ouro no quesito mais antiga no carnaval do Rio —, o senador Álvaro Dias (Pode-PR) pretende entrar no sambódromo com o discurso da novidade. Para ele, o novo que a população busca não é a ausência de rugas no rosto, é a inovação na forma de fazer política. “A população não está se valendo de rótulos. Ela não compactua com essa dicotomia de nós contra eles e eles contra nós. Se querem nova política, melhor que ela chegue por meio de alguém que a defenda há muito tempo. Eu sempre fui o contestador do sistema”, afirmou, em entrevista ao Correio.

Um dos principais focos do candidato será brigar contra a velha prática do “me dá um dinheiro aí”. E, como proposta inicial, pretende sugerir a privatização de parte das estatais e uma grande redução na máquina, com cortes, no Executivo e no Legislativo, no número de partidos. “Isso passa por uma redução de senadores, de três para dois por estado, e de deputados, de 20%. E a consequência também será a redução proporcional nas assembleias estaduais e nas câmaras de vereadores. Haverá uma monumental economia”, projeta Dias.

Na visão do especialista em marketing eleitoral Marcelo Vitorino, o candidato tem, de fato, potencial para representar o novo que a população quer, sem ser o aventureiro sem experiência. Entretanto, como se trata de uma eleição majoritária, Dias teria perdido a janela de oportunidade para se aliar a partidos pequenos e médios. “Ele se isolou e vai ficar sem tempo de televisão e rádio. Não vai ter deputados para puxar votos. É muito difícil pensar em uma campanha assim”, analisa.

Manuela D’Ávila

» Agremiação: PCdoB

» Conjunto: 394.900 filiados, 2,363% do eleitorado brasileiro

» Alegorias: 1 senador, 12 deputados federais, 25 deputados estaduais, 80 prefeitos

» Evolução: deputada estadual de 2015 à atualidade; deputada federal de 2007 a 2015 e vereadora de 2005 a 2006

» Enredo: discurso mais à esquerda com foco nas mulheres, na juventude e nas classes mais baixas

» Porta-bandeiras: as deputadas Jandira Feghali (RJ) e Alice Portugal (BA)

» Comissão de frente: Vanessa Grazziotin (AM), Nádia Campeão (SP)

Samba separado


No carnaval eleitoral de 2018, o PCdoB lançou candidatura própria e não estará no desfile como uma das alas do PT. A agremiação decidiu lançar candidato porque não quer fechar com o PT sem a segurança da candidatura de Lula e o julgamento de 24 de janeiro, em que o TRF-4 definirá sobre a condenação do petista em segunda instância, será essencial para traçar o destino. Se Lula sair na avenida, a sigla se cacifa para estar ao seu lado no carro alegórico no posto de vice. Se não, a legenda desfila sozinha pelo sambódromo.
A separação vem causando problemas internos na legenda que, em muitos lugares, tinha o casamento enraizado. O Maranhão é o um deles. O governador Flávio Dino, fiel aliado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, revelou, logo depois do Natal, que vai de Lula no ano que vem. Diz isso agora que sabe que precisa do PT para ampliar o tempo de tevê numa candidatura à reeleição.
O nome escolhido pela legenda é o da deputada estadual pelo Rio Grande do Sul Manuela D’Ávila. Duas vezes deputada federal, a jovem, vinda do movimento estudantil, voltou ao estado em 2015 para poder conciliar a carreira política com a maternidade. Chamou a atenção de todo o país ao amamentar a filha durante as sessões na Assembleia Legislativa e, justamente com esse tipo de bandeira, pretende ser a grande campeã do desfile rumo ao Planalto. “Eu me elegi sem parentes importantes, sem sobrenome famoso, num partido pequeno, com origem no movimento social e eu dialogo com a renovação”, afirmou em entrevista ao Correio.
A candidata conta com os jovens e as mulheres como principais cabos eleitorais, já que se sente capaz de representá-los. Em relação ao PT, ela vê como legítima a candidatura de Lula e diz estar tudo em paz. “Temos uma relação fraterna com o PT e essa relação se manterá. Estamos próximos porque temos identidade e sonhos próximos, mas estamos em pré-candidaturas diferentes”, comenta. E assim, a marchinha seguirá no “se acaso meu bloco encontrar o seu, não tem problema”.

Rodrigo Maia

» Agremiação: DEM

Conjunto: 1.095.371 filiados, 6,555% do eleitorado brasileiro

Alegorias: 4 senadores, 30 deputados federais, 48 deputados estaduais, 267 prefeitos

Evolução: deputado federal (1999 à atualidade)

Enredo: discurso mais centro-direita, pró-reformas e privatizações para uma economia mais liberal

Mestres-salas: César Maia (RJ) e José Agripino 
Maia (RN)

Comissão de frente: Efraim Filho (PB), Ronaldo Caiado (GO), ACM Neto (BA), Mendonça Filho (PE)

Esquentando
os tamborins


Ainda sem saber se haverá espaço no sambódromo eleitoral, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), um dos principais destaques da política em 2017, ainda está no ritmo de “deixa as águas rolar”. Ele é hoje uma espécie de regra de três para a Presidência da República dentro da correlação de forças que apoiam o governo. Apesar do entusiasmo de correligionários, como o presidente do partido, o senador José Agripino Maia, e o líder da bancada na Câmara, deputado Efraim Filho, a tendência, segundo especialistas, é de que o DEM saia como uma das alas do PSDB ou até mesmo de um candidato que venha carregar a bandeira do presidente Michel Temer.
Assim como no caso do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, do PSD, uma candidatura do DEM só será viável hoje se obtiver o apoio do PMDB. Maia até aqui jogou lado a lado com o presidente Michel Temer. O pequeno distanciamento ocorrido quando da votação das denúncias do ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot o aproximou do ministro Meirelles, outro presidenciável. Agora, porém, o enredo de Meirelles/Rodrigo já foi alterado no ensaio da reforma da Previdência, no início de dezembro.

Em conversas sobre futuros cenários, Maia tem dito que a prioridade hoje é concorrer a um novo mandato de deputado federal para, em 2019, pleitear mais uma vez a presidência da Câmara. Na última semana, subiu ao palco ao lado do prefeito de Salvador, ACM Neto, e do senador Ronaldo Caiado (GO) em um evento de inauguração de uma creche. No dia seguinte, em evento no Rio de Janeiro, chegou a dizer que é um "dos três ou quatro nomes" que o DEM pode apresentar como candidato no ano que vem, mas descartou afastamentos do governo de Michel Temer. Nos palanques recentes, os tambores aceleraram o ritmo de um voo solo do DEM, mas a orientação é esperar até abril para ver se algum dos candidatos de centro se mostram palatáveis ao eleitor. Até lá, o presidente da Câmara fará seus ensaios. Se subir para o grupo especial, não recusará o posto.