Correio braziliense, n. 19944, 31/12/2017. Política, p. 4

 

Entrevista - Manuela D´ÁVILA

Natália Lambert 

31/12/2017

 

 

Pré candidata ao Planalto pelo PCdoB, deputada estadual diz que delação com o PT é fraterna,mas os caminhos agora são diferentes

Hora de olhar para frente"

Aos 36 anos, a gaúcha Manuela D’Ávila (PCdoB-RS) resolveu encarar a disputa presidencial no ano que vem por acreditar que o Brasil precisa de propostas que venham do movimento social. “As eleições de 2018 devem ser um momento de superarmos a crise e olharmos para frente. Um momento para o Brasil projetar o futuro que quer viver na próxima década”, comenta.
Contrária à proposta de reforma da Previdência apresentada pelo atual governo, a pré-candidata diz ser consciente da necessidade de alterações no sistema de aposentadorias, mas defende que as mudanças sejam feitas com a participação social. “Somos conscientes da problemática fiscal e do equilíbrio das contas públicas, no entanto, não podemos deixar desamparados os que suaram ao longo dos anos para construir o que somos.”

Vinda do movimento estudantil, Manuela foi eleita, em 2004, a vereadora mais nova da história de Porto Alegre, aos 23 anos. Dois anos depois, ela se elegeu para dois mandatos de deputada federal. Em 2014, conquistou um cargo na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul para conciliar o sonho de ser mãe com a política. E, baseada na própria história, acredita que os jovens e as mulheres serão os principais cabos eleitorais das suas propostas.

De um partido historicamente aliado ao PT, a gaúcha será o nome do PCdoB ao Planalto e, quanto a isso, ela não vê problema. “Temos uma relação fraterna com o PT, e essa relação se manterá. Estamos próximos porque temos identidade e sonhos próximos, mas estamos em pré-candidaturas diferentes”, afirma.

Candidatura

A nossa pré-candidatura é fruto de uma avaliação de que as eleições de 2018 devem necessariamente apresentar saídas para o povo brasileiro para enfrentar a crise econômica e política que vivemos nesse último ciclo. Ciclo aberto pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. O momento é adequado para que propostas sejam debatidas pela população. Ainda não tenho definido o momento que vou me licenciar da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, mas já estou visitando alguns estados e organizando essa agenda.

Crise econômica
Temos como saída para a crise um projeto nacional de desenvolvimento. A ideia é que esse grande projeto ou que esse sonho de país seja realizado por uma frente ampla popular em debate com os homens e mulheres comuns do Brasil, com o movimento social. Queremos que esse segmento seja o nosso principal cabo eleitoral. Acredito que, principalmente, as mulheres e os jovens terão atenção especial ao que será dito por nós, porque eles são os atores que sofrem de forma mais significativa os efeitos da crise e as medidas adotadas pelo governo de Michel Temer, como a diminuição do Estado e o congelamento dos gastos por 20 anos. A alteração da Taxa de Juros a Longo Prazo (TJLP) tira a perspectiva de retomada do desenvolvimento da indústria nacional e, com isso, a juventude perde a perspectiva dos empregos de melhor qualidade, de melhor remuneração.

Reforma da Previdência
Procuro fazer o debate previdenciário pensando nas pessoas que trabalharam ao longo da vida para construir o que somos hoje enquanto país. O debate sobre a reforma é importante e deve ser feito, de modo mais abrangente. A atual Proposta da Emenda Constitucional (PEC) restringe o problema à contribuição da população economicamente ativa, penalizando as pessoas mais pobres e mais vulneráveis, entre estes os trabalhadores rurais e as mulheres. A proposta do governo ignora que as desonerações em 2016 representaram 37,6% do deficit que o governo afirma existir. No entanto, nosso modo de governar será envolvendo as pessoas no debate dos problemas do país, e com elas fazendo grandes pactos, em busca de soluções. O fortalecimento do sistema de proteção social e da Previdência se dará com a retomada da economia, com a formalização do trabalho, com a valorização do salário mínimo, e com uma reforma tributária mais justa. Somos conscientes da problemática fiscal e do equilíbrio das contas públicas, no entanto, não podemos deixar desamparados os que suaram ao longo dos anos para construir o que somos.

Reforma trabalhista
Defenderemos referendos revogatórios do teto de gastos e da reforma trabalhista.

 

Lula
Não trabalho com o cenário de o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva não concorrer porque acho legítima a candidatura dele. Se ele não concorrer, a crise política será agravada. As eleições de 2018 devem ser um momento de superarmos a crise e olharmos para frente. Um momento para o Brasil projetar o futuro que quer viver na próxima década.

 

PT
Temos uma relação fraterna com o PT, e essa relação se manterá. Estamos próximos porque temos identidade e sonhos próximos, mas estamos em pré-candidaturas diferentes.

 

Bolsonaro
Existem candidaturas que tentam organizar o ódio e o medo da população brasileira. O medo diante da insegurança causada por essa grande crise que gera, inclusive, essa rejeição da sociedade com a política em geral. Precisamos apontar para a sociedade que o ódio e o medo não resolverão nossos problemas em 2018, 2019, 2020 ou 2021. É preciso proposta para enfrentar a crise, e isso Bolsonaro não apresenta. Em nenhuma das áreas. Precisamos debater a crise, como enfrentá-la e como garantir que as pessoas olhem para a frente. Nesse sentido, acredito que as intenções de voto dele tenham um teto, que é o bom senso do povo brasileiro.

 

Rejeição à política
Pra mim, o debate sobre o enfrentamento e a rejeição é natural. Sou desde sempre uma renovação na política. Fui eleita sem parentes importantes, sem sobrenome famoso, num partido pequeno, com origem no movimento social e eu dialogo com essa renovação. Não a renovação falaciosa, objetivo do marketing, mas a renovação que me motivou a fazer política e a não desistir dela, mesmo enfrentando tantas dificuldades, tanto machismo e tanto preconceito
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