O Estado de São Paulo, n. 45266, 23/09/2017. Política, p.A7
A procuradora-geral da República, Raquel Dodge, exonerou ontem o procurador regional da República Sidney Pessoa Madruga do cargo de coordenador do Grupo Executivo Nacional da Função Eleitoral. Foi a primeira saída de um integrante da equipe de Raquel, que assumiu o cargo na segunda-feira.
A exoneração, segundo a as- sessoria da procuradora-geral, foi feita a pedido de Madruga.
O procurador foi flagrado pela reportagem do jornal Folha de S.Paulo em conversa em restaurante em Brasília na qual fala que a “tendência” no órgão é investi- gar o procurador Eduardo Pelella, ex-chefe de gabinete do exprocurador-geral Rodrigo Janot.
De acordo com a assessoria da Procuradoria, o pedido de exoneração da equipe foi apresentado “com a finalidade de evitar ilações impróprias e indevidas”. A PGR informou ainda que ele não atua em matéria criminal e não teve acesso a nenhuma investigação ou ação penal conduzidas pela atual equipe do grupo de trabalho da Lava Jato, em Brasília.
Em carta enviada à procuradora-geral, Madruga diz que sai para “preservar a instituição”: “Ressalto, desde logo, que assim o faço para preservar a credibilidade da instituição a que sirvo há mais de duas décadas com honra e zelo e, igualmente, para não permitir que se atinja o trabalho dos colegas que integram a valorosa equipe e a gestão que se inicia.”
Atuação. Segundo o jornal, na conversa Madruga falava sobre a atuação de Pelella, braço direito de Janot, na negociação da delação do grupo J&F. De acor- do com a reportagem, o procurador conversava com a advogada Fernanda Tórtima, que atuou na negociação da delação premiada da JBS, empresa do grupo J&F, mas deixou o caso depois de ser citada em gravação de conversa entre o empresário Joesley Batista e o executivo Ricardo Saud. Antes da exoneração do procurador, a Secretaria de Comunicação da PGR havia informado que as afirmações de Madruga faziam parte de uma “conversa privada”.
Ontem à tarde, Pelella encaminhou ofício endereçado a Raquel Dodge no qual se coloca “a exemplo do ocorreu durante todo o período de transição, à disposição para qualquer esclarecimento que entenda necessário”. Procurada, a advogada não havia se manifestado até a conclusão desta edição.
EQUIPE
- Luciano Maia
Vice-procuradorgeral
Subprocurador-geral da República, atua em questões indígenas. Substitui Raquel Dodge em caso de impedimentos e viagens.
- Humberto J. de Medeiros
Vice-procuradorgeral Eleitoral
Atua no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Foi vice-presidente da Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR).
- José Alfredo de Paula Silva
Coordenador da Lava Jato
O procurador tem experiência em investigações criminais, incluindo o trabalho no caso do mensalão.
- Raquel Branquinho
Secretária da Função Penal no Supremo
O grupo de trabalho da Lava Jato é subordinado a essa secretaria. Atuou nos casos Banestado e mensalão.
- Alexandre Camanho
Secretário-geral Jurídico
Foi presidente da ANPR. Atua desde 2014 no combate à lavagem de dinheiro e ao financiamento do terrorismo.
- André de Carvalho Ramos
Secretário de Direitos Humanos
Procurador é professor de Direito Internacional e Direitos Humanos da USP.
- Paulo Gonet
Secretário da Função Constitucional
Subprocurador-geral da República, com atuação nas Turmas do Supremo.
O ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, rejeitou ontem habeas corpus ajuizados pelas defesas de Joesley e Wesley Batista, do Grupo J&F, que buscavam reverter a prisão preventiva dos irmãos. A prisão foi decretada no processo que aponta que os dois teriam lucrado indevidamente no mercado de ações e usado informações privilegiadas antes de vir à tona o acordo de delação que firmaram com o Ministério Público Federal.
Gilmar é crítico da delação da J&F, que fundamentou duas denúncias da Procuradoria-Geral da República contra o presidente Michel Temer. O ministro discordou do argumento da defesa de que a decretação da prisão preventiva é desproporcional. “A gravidade concreta do crime é um indicativo válido da periculosidade do agente e de seu potencial para reiterar ilícitos”, disse o ministro. / RAFAEL MORAES MOURA, BRENO PIRES e LUIZ VASSALLO