O Estado de São Paulo, n. 45266, 23/09/2017. Economia, p.B3

 

 

 

Precatórios viram ‘reserva de contingência’

Dinheiro de ações judiciais deve ser usado pelo governo para cobrir frustrações de receita

Por: Adriana Fernandes

 

Adriana Fernandes / BRASÍLIA

Depois de uma tensa negociação com a Advocacia-Geral da União, a secretária do Tesouro Nacional, Ana Paula Vescovi, adiou a decisão de assinar uma portaria para viabilizar o repasse ao caixa da União de receitas de precatórios que estão depositados na Caixa Econômica Federal e no Banco do Brasil.

A portaria permitiria um aumento entre R$ 2 bilhões a R$ 4 bilhões de ingresso de receitas para o governo até o final do ano, garantindo uma liberação de despesas do Orçamento maior que a anunciada ontem, de R$ 12,8 bilhões – poderia chegar a até R$ 17 bilhões. Mas Ana Paulo convenceu o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, a esperar um pouco mais, conseguindo mais tempo para uma análise detalhada da viabilidade técnica e jurídica da portaria para a devolução de precatórios bloqueados pela Justiça. Os precatórios são pagamentos devidos pelo governo após condenações definitivas na Justiça.

A vantagem é que o dinheiro dos precatórios vai virar uma espécie de “colchão de segurança” caso haja mais frustrações de receitas até o final do ano. Segundo fontes, a decisão de adiar a edição da portaria também evita uma corrida maior de gasto num momento de forte aperto das despesas e necessidade de controlar “no laço” o Orçamento para o cumprimento da meta fiscal de déficit de R$ 159 bilhões. Se houvesse uma liberação maior agora, a margem de manobra ficaria menor nos meses que faltam para o fim do ano.

Até na noite de quinta-feira, véspera do anúncio do corte do Orçamento pelo ministro do Planejamento, Dyogo Oliveira, a expectativa era de que Ana Paula aceitasse a recomendação da AGU para assinar a portaria. Mas a secretária manifestou resistências desde o início.

Legislação recentemente aprovada permitiu ao governo reaver recursos não reclamados há mais de dois anos por quem ganhou a ação judicial. Para acessá-los, o governo contava com a assinatura, pela advogada-geral da União, Grace Mendonça, de um parecer favorável ao repasse, o que não ocorreu. Segundo fontes que acompanharam as negociações, a AGU alegou que o parecer só atingiria órgãos jurídicos do governo, e não os ban- cos. Para garantir um trâmite menos complexo e demorado, a AGU terceirizou a tarefa para o Tesouro, recomendando a edição de uma portaria, com efeito imediato, autorizando que os bancos oficiais fizessem a operação. Mas a solução causou des- conforto na Fazenda.

Empenhado em garantir alívio maior para os ministérios, o ministro do Planejamento manifestou ontem confiança de que o impasse seja resolvido até o final do ano. O ingresso de receitas dos precatórios também pode aumentar mais R$ 1 bilhão com o fluxo daqueles que completam dois anos parados.

Oliveira explicou que a lei já disciplina a possibilidade do resgate, mas há valores bloqueados pela Justiça porque a própria União questiona o valor da dívida. “A própria Justiça reconheceu a viabilidade da contestação, tanto que fez o bloqueio. Isso significa que o beneficiário não pode sacar, pois não há certeza do valor. Nosso entendimento é que esse recurso, mais do que qualquer outro, pode ser devolvido”, disse.

O ministro minimizou o problema. Segundo ele, o que está em discussão é como se dá o procedimento da devolução do dinheiro à União nesses casos. Isso porque, se a Justiça resolver decidir sobre o valor, é preciso estabelecer um procedimento de restituição.

 

PARA ENTENDER

O Congresso autorizou o governo a mudar a meta de déficit primário em 2017 de R$ 139 bilhões para R$ 159 bilhões. A equipe econômica calculou uma nova frustração de R$ 4,90 bilhões nas receitas, além de aumento de R$ 2,26 bilhões nas despesas para este ano. O saldo que restou para liberação foi de R$ 12,8 bilhões, dos R$ 45 bilhões que estavam bloqueados. Ou seja, fica um corte de R$ 32,1 bilhões. Do total liberado, R$ 1,01 bilhão vai para emendas parlamentares e o resto deve priorizar Segurança, Defesa, Educação, Ciência e Tecnologia, além de programas sociais.

 

 

 

 

Ministério rejeita recurso da Cemig

Por: ANDRÉ BORGES E LUCI RIBEIRO

 

O Ministério de Minas de Energia (MME) rejeitou recurso apresentado pela Cemig para rever as indenizações relacionadas aos investimentos feitos pela estatal nas hidrelétricas de São Simão e Miranda, ambas em Minas Gerais, que serão leiloadas na próxima quarta-feira.

A decisão publicada ontem no Diário Oficial da União é assinada pelo ministro do MME, Fernando Coelho Filho. A proposta do governo fixou em R$ 1,027 bilhão o valor total de indenizações das usinas. O MME não informou qual era o valor pedido pela estatal mineira.

Essas indenizações referemse a investimentos que a empresa fez nas usinas, mas que ainda não foram plenamente amortizados. No caso de São Simão, o valor foi fixado em R$ 243,5 milhões. Para a hidrelétrica de Miranda, o pagamento será de R$ 784,1 milhões.

As concessões dessas usinas à Cemig venceram e não foram renovadas. Elas serão oferecidas ao mercado. O governo tem o objetivo de arrecadar pelo menos R$ 11 bilhões com o leilão da próxima semana. A expectativa é de que haja disputa pelas usinas. /ANDRÉ BORGES E LUCI RIBEIRO