Valor econômico, v. 17, n. 4333, 04/09/2017. Brasil, p. A2.

 

 

PIB per capita fica estável e sinaliza o fim do ciclo de empobrecimento

Bruno Villas Bôas

04/09/2017

 

 

O Produto Interno Bruto (PIB) per capita, medida do padrão de vida do brasileiro, ficou estável no segundo trimestre, após alta de 0,9% nos três primeiros meses do ano, sinalizando que o ciclo de empobrecimento médio da população pode ter finalmente se esgotado. Outra boa notícia é que o indicador - que consiste na divisão do PIB pelo número de habitantes do país - foi acompanhado por fatores favoráveis à sensação de bem-estar, como inflação baixa, renda em alta e sinais positivos do emprego.

Segundo Rodrigo Nishida, economista da LCA Consultores e autor dos cálculos, o PIB per capita no primeiro trimestre, embora tenha crescido, estava ancorado nos efeitos diretos e indiretos da safra agrícola recorde. O PIB da agropecuária registrou crescimento expressivo de 11,5% nos três primeiros meses do ano, na comparação ao quatro trimestre de 2016. Os componentes da demanda, porém, apresentavam taxas negativas, como no caso do consumo das famílias.

"O PIB per capita do segundo trimestre pode parecer menos expressivo, porque ficou estável após o avanço do começo do ano", disse Nishida. "Mas, ele foi sustentado pelo crescimento do consumo das famílias, o que não acontecia há nove trimestres, além da inflação dos alimentos em baixa, a renda real no campo positivo e primeiros sinais positivo do emprego. Com esse pano de fundo, a estabilidade do per capita corrobora uma melhora no bem-estar das famílias."

Divulgado na sexta-feira pelo IBGE, o PIB cresceu 0,2% no segundo trimestre, pela série com ajuste sazonal. O resultado foi melhor do que o esperado pela média das projeções de 18 consultorias e instituições financeiras, que apontava estabilidade no período. O consumo das famílias cresceu 1,4% período, após apresentar estabilidade no trimestre anterior. O per capita só não cresceu porque o resultado do PIB coincidiu com o aumento populacional, de 0,19%.

Mas, assim como a atividade econômica, a retomada do PIB per capita será lento e gradual, dizem economistas. Nas estimativas da LCA, o indicador levará mais cinco anos para recuperar o patamar registrado antes do início da crise, no primeiro trimestre de 2014. O PIB per capita precisará ainda crescer 10% para recuperar todas as perdas. Isso significa que o atual ciclo econômico - desde o início da piora até a efetiva recuperação - terá uma duração de 33 trimestre.

"Os ciclos recessivos anteriores tiveram uma duração média de 17 trimestres. O atual será, assim, o mais longo deles. O motivo é a retomada gradual demais. Na recessão iniciada em 1981, o PIB per capita levou 11 trimestres entre o fundo do poço até a recuperação das perdas. Na recessão atual, estamos falando em cinco anos, ou seja, cerca de 20 trimestres para recuperação das perdas", disse Nishida.

Thaís Zara, economista-chefe da Rosenberg Associados, diz que a retomada da economia será lenta, entre outros fatores, por conta da política fiscal contracionista e a baixa taxa de investimentos. "No caso do PIB per captia, você ainda tem um agravante que é o crescimento populacional, que desconta parte do crescimento", disse a economista.

Segundo Thiago Curado, sócio da 4E Consultoria, a atual "década perdida" da economia fez com que o Brasil ficasse ainda mais distante de países desenvolvidos em termos de PIB per capita. Dados do Fundo Monetário Internacional (FMI) mostram que o país tinha o 91º PIB per capita mais alto do mundo em 2013, de US$ 16.077,56. Em 2016, tinha o 121º, de US$ 16.077,56. Foi ultrapassado, por exemplo, pela Colômbia.

"O Brasil estava em um patamar muito distante dos países mais ricos antes da crise. O que poderia se esperar era uma convergência, ou seja, o PIB per capita brasileira aproximado-se das nações ricas. Mas o que vimos foi o contrário. O mundo continuou crescendo e melhorando, e nós não", disse Curado, que também prevê a recuperação do per capita brasileiro, em termos reais, somente daqui a cinco anos.