Valor econômico, v. 17, n. 4333, 04/09/2017. Brasil, p. A3.

 

 

Recuperação da economia brasileira virá pela infraestrutura e o consumo

Paula Gala

04/09/2017

 

 

O PIB do segundo trimestre aumentou 0,2% no mês/mês e 0,3% no ano/ano, puxado por serviços, principalmente comércio e logística. A indústria extrativa mineral também apresentou leve alta. Já a indústria voltou a cair e a agropecuária ficou estagnada. Os dados antecedentes como tráfego de veículos leves e pesados, produção de veículos automotores e os efeitos do FGTS no comércio varejista já indicavam uma aceleração maior que a prevista no PIB. Não à toa, boa parte dos dados recentes da economia brasileira superou a mediana das expectativas dos analistas nos últimos três meses.

O último canal que ainda não deu sinais claros de recuperação é o crédito; entretanto, quando observamos a recuperação do mercado de trabalho, há indícios de que esta retomada pode se materializar ainda neste ano. Do lado da demanda, o investimento continua em queda, ainda que em ritmo menor; as exportações desaceleraram a alta e o destaque ficou com a elevação do consumo das famílias.

Nossa recuperação não virá por investimentos em fábricas, galpões, prédios residenciais e comerciais ou shopping centers por um motivo simples: existe um excesso de oferta e capacidade ociosa no país nesses setores depois da enorme expansão observada de 2004 a 2014. As fábricas brasileiras continuam vazias e as máquinas quase paradas-- nenhum empresário vai investir para expandir capacidade em um ambiente desses.

Em infraestrutura, a história é outra: há gargalos de capacidade nos setores de mobilidade urbana, especialmente metrô, saneamento, rodovias, ferrovias e portos em todo o país. Aqui, apesar do recuo do investimento público e do BNDES, existe grande possibilidade de expansão com a agenda de PPPs e concessões. O investimento virá por aí.

A recuperação via consumo também vai ajudar. A melhora do clima e confiança mostrada nas sondagens trará um aumento de consumo das famílias, ainda que muito lento e gradual. A reversão da trajetória de alta de desemprego, ainda que com vagas informais e de baixa qualidade, trará algum estímulo para consumo. A forte queda da Selic vai contribuir para a redução do peso das dívidas das famílias e empresas e também para a canalização de poupanças para financiamento de projetos de infraestrutura de longo prazo via PPPs e concessões.

As exportações têm contribuído, também, mas apenas em commodities e setor agrícola, que têm poder de empuxo muito baixo em nosso PIB. No primeiro trimestre de 2017, 13% de alta de agricultura produziu pouco aumento de PIB no geral. O canal das exportações ajuda no momento mais por trazer dólares via commodities. Sem um câmbio competitivo, as exportações industriais não podem dar sua contribuição para a retomada da atividade de maneira robusta.

Ainda pensando sob a ótica da demanda, a política fiscal segue contracionista e por aí não virá a retomada. Estamos em um caso clássico de livro-texto de expansão monetária e contração do gasto público. Só que, dessa vez, a ociosidade da economia é enorme. Sob a ótica da oferta, nossa expansão de PIB se dará, portanto, pelos serviços e bens industriais ligados ao consumo, por obras e equipamentos ligados ao setor de infraestrutura e por produção de commodities e bens agrícolas.

Será uma recuperação lenta, pois o desemprego está ainda muito elevado e o investimento público em mínimas históricas. A volta da apreciação cambial também reduz o ímpeto industrial. A inflação seguirá baixa e os juros em patamares bem menores ainda por um bom tempo.