Valor econômico, v. 17, n. 4334, 05/09/2017. Política, p. A8.

 

 

Maia diz que não há votos para votar PEC da Previdência

Ricardo Mendonça

05/09/2017

 

 

Presidente da República em exercício, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), disse ontem em São Paulo que o governo se enfraqueceu e que não há votos suficientes, hoje, para garantir a aprovação da reforma da Previdência.

Segundo ele, os defensores da reforma já haviam conquistado o apoio mínimo de 308 deputados para aprovação no primeiro semestre. Mas o processo retrocedeu, conforme sua avaliação, quando a denúncia contra Temer por corrupção passiva foi apresentada pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot.

Temer conseguiu vencer a PGR na Câmara e evitar abertura de processo contra ele. Mas a reforma acabou sendo adiada

Na contabilidade do presidente da Câmara, a reforma da Previdência tem hoje menos de 280 votos entre 513 deputados. "Na Câmara, o problema não é data, é ter voto", disse. Ele reconheceu que a proximidade da eleição de 2018 dificulta a aprovação. "Vai aprovar em outubro ou novembro, ou não vai aprovar. Vai adiar."

Maia participou de um evento organizado pela revista "Exame". Ele elogiou a reforma trabalhista e, com menos ênfase, defendeu também a reforma tributária.

Na opinião de Maia, a segunda denúncia da PGR contra Temer, aguardada para os próximos dias, "gera desgaste" entre os parlamentares e produz "desarticulação" na base governista. Ele evitou, porém, fazer qualquer tipo de previsão a respeito das chances de Temer na análise do caso.

Após a palestra, Maia disse a jornalistas que não cabe a ele fazer previsões sobre as chances de Temer em relação à próxima denúncia da PGR. Segundo ele, a ideia de que Temer teria mais dificuldade na segunda denúncia foi dita a ele por vários parlamentares que o visitaram nas últimas semanas. Não ficou claro se ele endossa ou discorda da tese.

Minutos antes, ele havia dito que era difícil discutir prazo para a votação da denúncia sem saber quando a PGR irá apresentá-la. Mas afirmou que o tema, quando for colocado, deverá ser tratado na Câmara de forma rápida.

O presidente da Câmara também falou sobre a necessidade de mais privatizações e de regulação de agências reguladoras. Em mais de uma ocasião, afirmou que os opositores da reforma da Previdência são melhores na comunicação que os liberais.

Maia ainda fez comentários sobre as eleições de 2018. Disse acreditar nas chances de algum candidato que faça discurso de centro, mas não citou quem seria esse representante. Afirmou que, na sua opinião, a polarização PT-PSDB acabou. Disse ainda que o mais provável é que o ex-presidente Lula vá ao segundo turno contra esse nome de centro.

Para Maia, Lula tem dado sinais de que está radicalizando o discurso pela esquerda. Nesse contexto, ele elogiou a estratégia que tem sido adotada pelo deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ). "Haverá pelo outro lado [pela direita] sempre alguém que vai querer fazer essa polarização. Foi construído nos últimos anos -acho que esse é o sucesso do deputado Bolsonaro- um debate muito radicalizado na questão dos valores", disse. "Bolsonaro, não tiro nenhum mérito dele, é muito competente, enxergou isso na frente dos outros."