Correio braziliense, n. 19936, 23/12/2017. Política, p. 2

 

Popularidade é uma jaula

Rodolfo Costa 

23/12/2017

 

 

Mesmo sem a reforma da Previdência ter sido aprovada, o balanço político de 2017 do governo federal é altamente positivo, avaliou ontem o presidente Michel Temer. Em café da manhã com jornalistas, no Palácio da Alvorada, o peemedebista enfatizou todas as conquistas no ano e respondeu solicitamente a questionamentos feitos por meio de sorteio.Otimista, assegurou que continuará trabalhando no processo de convencimento junto aos parlamentares da importância de se aprovar a proposta que atualizará o sistema previdenciário.


Sem citar nomes, Temer não perdeu a oportunidade de criticar o empresário Joesley Batista, sócio da JBS, e o ex-procurador-Geral da República, Rodrigo Janot. Atribuiu a incapacidade de votar a reforma da Previdência a uma “irresponsabilidade de setores privados e a um setor público pelo menos”. Mas não deixou de agradecer o apoio dado pelo Congresso Nacional, a quem julga que deixou de ser uma espécie de “apêndice” do Executivo.

O diálogo mantido com o Congresso, para Temer, foi fundamental para aprovar as várias medidas e as reformas encaminhadas pelo governo ao Congresso Nacional. Como a trabalhista, a  do Ensino Médio, o Novo Fies, o reajuste e melhoria do Bolsa Família, entre outras. E todas essas ações foram adotadas, de acordo com o peemedebista, sem incorrer ao populismo.

Para Temer, o populismo é uma “jaula” que impede o representante público de praticar “certos atos indispensáveis” por questões eleitorais. Quanto ao pleito de 2018, o peemedebista não disse se será candidato à reeleição. Tampouco revelou se o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, presente no encontro, será o representante do governo, embora tenha sugerido que o subordinado poderá ser beneficiado pelos ganhos na economia.

O presidente garantiu que o controle da Embraer não será vendido a estrangeiros, e também anunciou mudanças na data de saque do PIS (leia na página 9). Abaixo, os principais trechos do que disse.

Previdência
(Em caso de derrota na reforma) perde o governo até simbolicamente. Mas, na verdade, o que pode ocorrer é quebrar o controle que, hoje, existe sobre a inflação e os juros. Seria péssimo para a economia, além do descrédito de natureza nacional e internacional. Me recordo que, em 1995 e 1996, teve uma reforma da Previdência proposta pelo governo FHC (Fernando Henrique Cardoso, ex-presidente da República). Perdeu por um voto. Aí, fez-se uma emenda aglutinativa e o presidente pediu que eu relatasse. Fiz o relatório, que acabou sendo aprovado. E acrescento um dado para os nossos colegas parlamentares, que temem em votar por conta do ano eleitoral. Tinha sido eleito em 1994 com 71 mil votos. Depois, fui o relator, e fui reeleito com 206 mil votos. As pessoas perceberam que a reforma não era um bicho papão. Foi em benefício do país e não causou prejuízo a ninguém.

Votação
A ideia é que (a reforma) se mantenha na pauta (até ter o número de votos). Se não conseguir, paciência. Não quero ser pessimista, mas otimista. A esta altura, já há esclarecimentos dos mais variados que levarão aos colegas parlamentares a convicção de que vale a pena aprovar a reforma da Previdência.

Alinhamento
Vários partidos já fecharam questão: PMDB, PPS, PTB, PSDB, fecharam questão. Eu penso que, até o momento da votação, outros partidos fecharão questão. Agora, não me parece que isso seja um fator envolvendo eventuais candidaturas.

Populismo
Apresentei e fiz tudo o que o Brasil precisa. A popularidade é uma jaula. Quando procura o populismo, você se enjaula. Porque você quer se reeleger, ou algo dessa natureza, e fica com medo de praticar certos atos indispensáveis para o Brasil. E, com isto, vejam o que aconteceu com a inflação e com os juros. Vejam o que aconteceu com todos os índices estritamente favoráveis neste ano e meio de governo. Não adotamos medidas populistas. Não temos a preocupação com isso. Medida populista, repito sempre, é aquela que pratica hoje, é aplaudido amanhã, e é criticado severamente depois de amanhã. Nós praticamos, quem sabe, medidas populares. São aquelas que se praticam hoje, com certa pressão, mas que são aplaudidas e reconhecidas lá na frente. É isso que temos feito ao longo do período.

Popularidade
A questão da corrupção prejudicou muito o governo. E prejudica muito a popularidade. Uma pesquisa revela que as pessoas têm vergonha de dizer, embora aprovem o governo, que aprovam o que o presidente faz. Têm um certo pudor. Mas pensam “governo corrupto, todos são corruptos”, então cai a popularidade. Fruto do quê? Fruto de uma irresponsabilidade de setores privados e pelo menos um setor público. Isso prejudicou muito o país. Vocês sabem que estava tudo ajustado para aprovar a Previdência e, não foi em face daqueles fatos. Mas a pesquisa não levou em conta os benefícios que o governo traz. As pessoas ficaram naturalmente inibidas com a grande campanha “todos são corruptos etc”. E se baseiam não no que fizemos, mas no que os detratores disseram, e foram obrigados a desdizer. Mas o desdizer, às vezes, não tem muita significância do que dizem.

Reconhecimento
Veja que curioso: nossa popularidade aumentou 100%. Foi de 3% para 6%. Mas aumentar isso não é fácil (risos). Agora, estamos em dezembro. Imaginem quando chegar em março e abril. Eu penso que seja o Meirelles, ou quem for, nós, em março, abril, maio, junho, julho, agosto, o governo estará sendo reconhecido pelo desmascaramento dos que se mascararam para aludir, portanto, eu acho que nós teremos muitos eleitores nas eleições.

Eleições
O que eu acho que pode ocorrer no Brasil é que haverá candidatos mais externados e um candidato de centro. Não centro no sentido de esquerda ou direita, mas centro. O que as pessoas querem é uma política de resultados. E, quando se fala em política de resultados, o que querem é alguém moderado, que saiba compor as várias correntes políticas do país. Alguém que não seja guiado por um certo mal-estar. O que o povo vai procurar é isso. Vai acompanhar e vai dizer: “esse sujeito aí eu vejo na televisão”. E aí eu digo: o horário da televisão vai ser importante. Se houver uma grande conjugação de partidos, isso dará um grande horário de televisão. O horário de televisão vai ser importantíssimo para o candidato. O povo, o eleitor, vai olhar e vai dizer: “Acredito neste”. Os que se externarem acredito que terão dificuldades. Eu, naturalmente, até prefiro que seja alguém comprometido com a política de resultados. Mas vamos ver quais serão os candidatos em abril, maio. Vamos esperar.

Candidatura
Eu sou candidato a fazer um bom governo. Nada mais do que isso.

Lula
Não me atreveria a dar uma solução (sobre Lula ser candidato por meio de uma eventual liminar em caso de condenação em segunda instância), digamos, de natureza jurisdicional. Isso está sendo debatido no Supremo (Tribunal Federal, o STF), e vai ser debatido em dado momento. O que posso responder é que, aquele que for contra as reformas, primeiro penso que não terá apoio do eleitorado. Segundo, não terá apoio do governo. Se está se opondo ao que o governo fez, como que o governo vai apoiar? Não tem condições para apoiar isso. Acho, até, que é o único candidato que já se opôs às reformas.

Entrosamento
Fizemos um entrosamento extraordinário. Não há divergências entre ministros. Além do que, eu não centralizo. Eu centralizo decisões finais. Mas não centralizo a atividade. Conseguimos produzir muita coisa em face da descentralização que permiti no meu governo. Os ministérios seguem tocando adiante. Vejam que tudo deu certo, nos mais variados momentos e o número infindável de medidas que adotamos.

Petrobras
(Antes de assumir o governo) a Petrobras era uma palavra condenada, digamos assim. Era um vocábulo desprezado. Hoje, não. As ações cresceram e tudo isso foi feito com apoio do Congresso Nacional, dialogando. Temos que acabar com essa história de centralização absoluta.

Articulação
Conseguimos inaugurar uma fórmula muito positiva de governo, que foi a atuação conjunta do Executivo e do Legislativo. Não me canso de dizer isso. Vocês sabem, fui três vezes presidente da Câmara. O Legislativo sempre foi tido no nosso sistema como uma espécie de apêndice do Executivo. Eu quebrei essa fórmula. Voltei a sustentar que o Legislativo era um parceiro do Executivo, que governa junto. E não digo isso por conta própria, ou simplesmente porque penso dessa maneira, mas porque a Constituição assim determina.

Virtude
A virtude do nosso governo foi mostrar que, realmente, nós combatemos essa cultura centralizadora que temos. E, por isso, desde o primeiro momento, quando assumi, disse que temos que prestar atenção ao princípio da separação de poderes e ao princípio federativo. Tivemos ao longo do tempo uma separação de poderes capenga e um federalismo independente capenga. Então, o que fizemos ao longo deste período: em primeiro lugar, volto a dizer que fizemos uma combinação com o poder Legislativo. A palavra é diálogo. Precisa dialogar com o Congresso. Dialogar com a sociedade. Especialmente não ter nenhuma restrição a quem se opõe a você.

Mercado externo
Foi precisamente neste período que o Brasil assumiu a presidência do Mercosul. Nós revitalizamos o Mercosul. Ou seja, tiramos a ideia, vamos dizer assim, que podemos dizer ideológico do Mercosul. E voltamos a fazer com que o Mercosul voltasse às suas origens. Um bloco econômico, político e social. E assim se comportou. Os atos todos que assinamos ontem (quinta-feira) foram atos de natureza econômica, que facilitam o intercâmbio econômico entre os vários países do Mercosul e associados. Aproximamos uma aliança extraordinária com a Aliança para o pacífico. Fizemos avançar e eu acho que em brevíssimo tempo teremos fechado acordo com a União Europeia. São 22 anos e não se consegue. E, agora, dia 18 (de janeiro), estaremos em Bruxelas para fechar acordo do Mercosul com a União Europeia.

"A esta altura, já há esclarecimentos dos mais variados que levarão aos colegas parlamentares a convicção de que vale a pena aprovar a reforma da Previdência.”

“A Petrobras era uma palavra condenada, digamos assim. Era um vocábulo desprezado. 
Hoje, não.”

“O que as pessoas querem é uma política de resultados. E, quando se fala em política de resultados, o que querem é alguém moderado, que saiba compor as várias correntes políticas do país.”