O globo, n.30852 , 25/01/2018. País, p.6

REAÇÃO FRIA MANIFESTAÇÕES PRÓ-LULA FORAM MAIS TÍMIDAS DO QUE O ESPERADO

SÉRGIO ROXO

GUSTAVO SCHMITT

 

 

No acampamento de Porto Alegre, militantes desmontaram suas barracas antes mesmo do resultado

 

Firme no apoio ao ex-presidente Lula até a véspera do julgamento em Porto Alegre, a massa de simpatizantes do petista não resistiu até o fim do julgamento. Ao contrário dos discursos inflamados que antecederam o chamado dia D, boa parte dos apoiadores do líder petista decidiu deixar a cidade antes da definição do placar que confirmaria a condenação do petista pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4).

O número de manifestantes era visivelmente menor. Os próprios organizadores haviam estimado, no dia anterior, que cerca de 70 mil pessoas estavam presentes no evento durante o discurso de Lula, que viajou à cidade. Ontem, calcularam em 30 mil a quantidade de apoiadores do PT.

O apelo de lideranças partidárias parece também não ter surtido o efeito imaginado. O senador Lindbergh Farias (PT-RJ) chegou a divulgar um vídeo no Facebook no qual defendeu “uma nova esquerda, pronta para o enfrentamento e lutas de rua e não uma esquerda frouxa”.

No campo oposto, o grupo contrário ao ex-presidente também não fez o barulho que anunciou na internet. Assim como em Porto Alegre — onde a manifestação se resumiu a um tímido buzinaço durante o julgamento —, em outras cidades o time anti-PT não conseguiu arregimentar a quantidade de manifestantes que queria. Pela manhã, foi inflado um boneco gigante de Lula presidiário num barco no Lago Guaíba, em Porto Alegre. A Secretaria de Segurança mandou retirar em seguida.

O clima ficou um pouco mais movimentado no início da noite, em São Paulo. Na Avenida Paulista, um pixuleco foi cercado por cerca de mil pessoas. Também em São Paulo, a maior manifestação a favor de Lula ocorreu à noite, na Praça da República, no Centro, com milhares de pessoas, sem estimativa oficial de público.

Já nas imediações do TRF-4, em Porto Alegre, entre os simpatizantes de Lula, muitos pareciam ignorar o voto do relator já no início do julgamento, e se distraiam com outros afazeres. Ao passo em que se reiteravam denúncias e provas contra o petista, manifestantes desmontavam barracas para deixar o acampamento, onde chegaram em quase 250 ônibus.

 

RODA DE MÚSICA GAÚCHA

Durante todo o julgamento, a atenção do grupo era dispersa. Cerca de 30 agricultores vindos da cidade de Ibiaçá, a 280 quilômetros de Porto Alegre, se divertiam em uma roda de músicas típicas gaúchas sob a sombra de uma barraca de lona preta. Ao lado, algumas pessoas aproveitavam para colocar o sono em dia.

Em outro ponto do Anfiteatro Pôr do Sol, área às margens do Guaíba onde foi montado o acampamento do MST, uma caixa de som foi instalada para transmitir a audiência, mas pouca gente se arriscava no sol forte para ouvir o que diziam os desembargadores. Praticamente não havia televisões no local.

No Parcão, que fica em bairro nobre de Porto Alegre, os atos pela manhã também não renderam forte manifestação contra Lula, salvo alguns motoristas que permaneciam na região fazendo buzinaço.

Vendedores ambulantes aproveitavam o clima de rivalidade para vender camisas e pixulecos contra e a favor do ex-presidente. Nos dois pontos de concentração, a grande reunião de pessoas se transformou também em chance para faturar. As lembrancinhas, porém, eram bastante diferentes de um lado e de outro.

Na área dos apoiadores de Lula, faziam sucesso panos de chão com o rosto do presidente Michel Temer vendidos a R$ 10. No Parcão, os itens mais vendidos eram pequenos bonecos infláveis, os chamados pixulecos, de Lula e da ex-presidente Dilma Rousseff com roupas de presidiários. Havia também um boneco inflável com o desenho do juiz Sergio Moro como herói.