O Estado de São Paulo, n. 45246, 03/09/2017. Política, p. A6.

 

Temer nega retorno antecipado ao País

Vera Rosa/Lígia Formenti/Rafael Moraes Moura

03/09/2017

 

 

Presidente diz que não voltará mais cedo da viagem a Pequim por causa de 2ª denúncia; Joesley chama peemedebista de ‘ladrão-geral da República’

 

 

O presidente Michel Temer disse ontem, em Pequim, que não vai antecipar sua volta ao Brasil, marcada para terçafeira. “Depois que disseram que eu vou voltar, eu vou voltar não. Vou ficar”, declarou o presidente, quando questionado sobre o assunto por jornalistas brasileiros.

A chegada de Temer ao Brasil está prevista para quarta-feira. A informação de que ele havia decidido antecipar em um dia o seu retorno foi dada por um assessor direto da Presidência. Depois que a notícia foi publicada, Temer ficou contrariado com a vinculação do assunto a uma estratégia política para enfrentar a provável nova acusação formal da Procuradoria-Geral da República contra ele.

Segundo interlocutores do presidente ouvidos pelo Estado, Temer realmente havia dito que mudaria sua programação. Argumentou que gostaria de estar em Brasília na terça-feira, quando o governo também precisa de forte articulação para que o Congresso termine de votar a meta fiscal. A votação ainda não foi encerrada por falta de quórum. Para antecipar sua volta, no entanto, o presidente teria de interromper a participação na cúpula dos BRICS, grupo de países formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Ontem, na capital chinesa, Temer encerrou um seminário com cerca de 300 representantes de empresas da China e do Brasil.

‘Ladrão-geral’. Em resposta a uma nota divulgada na sexta-feira pela Secretaria de Comunicação da Presidência (Secom), o empresário Joesley Batista, do grupo JBS, chamou ontem o presidente de “ladrão-geral da República” e disse que ele “envergonha” todos os brasileiros. Delator da Lava Jato, Joesley afirmou, também em nota, que a colaboração premiada é um direito e que o ataque a essa prerrogativa revela a “incapacidade” de Temer se defender “dos crimes que comete.”

Na sexta-feira, o Palácio do Planalto desqualificou o operador Lúcio Funaro, que firmou

JBS: R$ 5 mi a Bendine

Novos anexos da delação da JBS afirmam que, em 2013, Aldemir Bendine, foi à casa de Joesley Batista para pedir R$ 5 milhões emprestados. A defesa de Bendine não foi localizada ontem. acordo de delação com o Ministério Público, e sugeriu uma parceria entre ele e o dono da JBS. Na nota da Secom, Joesley foi classificado como “grampeador-geral da República.”

“A colaboração premiada é por lei um direito que o senhor presidente da República tem por dever respeitar. Atacar os colaboradores mostra no mínimo a incapacidade do senhor Michel Temer de oferecer defesa dos crimes que comete. Michel, que se torna ladrão-geral da República, envergonha todos nós brasileiros”, respondeu Joesley em seu comunicado.

O advogado Antônio Cláudio Mariz de Oliveira, defensor de Temer, disse que a declaração do empresário “não merece resposta em face da sua origem e do conhecido comportamento absolutamente reprovável do delator”.

O depoimento de Joesley serviu como base para a primeira denúncia apresentada contra o presidente pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, por corrupção passiva. “A resposta já foi dada pela Câmara dos Deputados, que rejeitou a denúncia”, afirmou Mariz.

A delação de Funaro ainda não foi homologada e está sob sigilo. As acusações do operador atingem Temer e outras figuras de expressão no PMDB, segundo apurou o Estado.