Valor econômico, v. 17, n. 4307, 28/07/2017. Brasil, p. A5.

 

Temer tem a pior avaliação de governo desde a redemocratização

Raphael Di Cunto e Lucas Marchesini

28/07/2017

 

 

Primeiro presidente da República denunciado criminalmente no exercício do cargo, Michel Temer é o mais impopular pelo menos desde a redemocratização, segundo pesquisa Ibope contratada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) divulgada ontem. Com um detalhe que pode piorar ainda mais o quadro para o pemedebista em futuras avaliações: a sondagem ocorreu antes do aumento nos combustíveis.

A avaliação positiva do governo Temer é a pior dos últimos 31 anos, segundo a série histórica do Ibope. Apenas 5% dos entrevistados consideraram a gestão do pemedebista como ótima ou boa, enquanto 70% julgaram que é ruim ou péssima. A popularidade caiu desde março, data da última pesquisa quando 10% tinham uma percepção positiva do governo e 55%, negativa. De lá para cá, a delação premiada da JBS jogou o governo numa crise política e pôs sob dúvida a retomada da economia.

 

 

A rejeição atual de Temer só é comparável à da ex-presidente Dilma Rousseff, afastada do cargo por um impeachment no ano passado. Em dezembro de 2015, a petista também registrava os mesmos 70% de desaprovação. Mas seu nível de ótimo ou bom era superior, de 9%, contra 5% do pemedebista hoje - diferença que está no limite da margem de erro, de 2 pontos percentuais.

Esses 5% de aprovação são o pior resultado desde que a pesquisa começou a ser feita, ainda na gestão do presidente José Sarney (PMDB). Em junho e julho de 1989, seu pior momento, Sarney registrou 7% de avaliações boas ou ótimas, mas não era tão rejeitado: 62% e 64% dos entrevistados, respectivamente, consideravam o governo ruim ou péssimo.

Temer é, de longe, o presidente que a população considera menos confiável, de acordo com a série histórica da CNI/Ibope. Só 10% dos entrevistados afirmaram que confiam nele, enquanto 87% responderam não confiar. Até esse novo recorde, o percentual mais baixo obtido por um presidente foi em junho de 1989, quando 16% dos entrevistados disseram confiar em Sarney, rejeitado por 80%. No auge do impeachment, Dilma tinha números parecidos: desconfiança de 80% e apoio de 18%.

A aprovação da maneira de governar é também a menor dos últimos 25 anos - o Ibope não fez essa sondagem com Sarney. Dilma e Temer quase empatam na desaprovação à forma de conduzir o país, com rejeição de 82% e 83% dos entrevistados, respectivamente. O suporte ao modo de gestão do pemedebista é ligeiramente menor, dentro da margem de erro - 11% aprovam seu jeito de governar, ante 14% da petista.

Na comparação direta com a petista, contudo, os entrevistados estão mais críticos à atual gestão. Para 52% da população, o governo Temer é pior que o de Dilma. O número era de 41% em março, 34% em dezembro e 25% em junho, quando o pemedebista assumiu interinamente. Para 35% dos entrevistados, PMDB e PT tem feito gestões iguais. Só 11% avaliam que o atual governo é melhor, número que vem diminuindo a cada pesquisa.

Para o gerente-executivo de pesquisa e competitividade da CNI, Renato da Fonseca, a má avaliação pode ser tributada, além da delação da JBS, à crise econômica. "Por mais que tenhamos visto nos indicadores que a inflação reduziu bastante e está gerando redução nos juros, isso não se faz ver na questão do emprego. E a inflação reduzindo não significa que os preços estejam reduzindo, significa crescendo menos", ponderou. Ele ressaltou que continuam as dificuldades nas negociações salariais e com o alto desemprego.

A resposta dos entrevistados sobre as notícias que mais lembram sobre o governo Temer pode dar uma pista do motivo para a alta rejeição. Em meio à Lava-Jato e com o presidente denunciado, questões sobre corrupção no governo são a principal lembrança, citadas por 33% dos que responderam ao questionário. Em seguida aparecerem as reformas - as mudanças na legislação trabalhista são lembradas por 10% dos entrevistados e as alterações na previdência, por 4%. Para 63% dos ouvidos, o noticiário é desfavorável ao presidente Temer.

A pesquisa aponta ainda que, às vésperas de a Câmara dos Deputados decidir se autoriza o Supremo Tribunal Federal (STF) a julgar a denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) de que Temer cometeu o crime de corrupção passiva ao supostamente negociar favorecimento à JBS em troca de propina, as expectativas da população sobre o futuro recrudesceram.

As perspectivas de que o resto do governo será ótimo ou bom caíram para 9%, ante 14% que responderam em março esperar uma boa gestão, e 65% opinaram que o período até o fim do mandato será ruim ou péssimo, frente a 52% na pesquisa anterior. Ainda assim, as expectativas estão um pouco mais otimistas que a avaliação atual do governo.

O Ibope ouviu 2 mil pessoas em 125 municípios entre os dias 13 e 16 de julho. A margem de erro é de 2 pontos percentuais, para mais ou para menos, com índice de confiança de 95%.