Título: Suspeita de câncer muda receita da Coca
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Fonte: Correio Braziliense, 10/03/2012, Economia, p. 15

Para não terem que colocar aviso de risco da doença no rótulo das garrafas e latas, a multinacional e a Pepsi anunciam alteração do ingrediente corante caramelo

A Coca-Cola e a Pepsi anunciaram ontem alterações na produção de um ingrediente de seus refrigerantes — o chamado corante caramelo — para evitar a necessidade de colocar um aviso em seus produtos sobre o risco de câncer. As mudanças não alterarão o gosto, a cor ou a fórmula do refrigerante, de acordo com pronunciamentos das duas empresas. Elas informaram que exigiram de seus fornecedores do ingrediente modificação no processo de fabricação com o objetivo de limitar a exposição do consumidor a substâncias tóxicas.

A alteração tem a finalidade de reduzir a quantidade de um componente usado na fabricação do corante denominado 4-metilimizadol ou 4-MI. Em janeiro deste ano, ele foi adicionado à lista de substâncias cancerígenas que o governo californiano divulga anualmente em decorrência de uma norma de 1986. Altos níveis dessa substância foram relacionados a câncer em animais, após testes com ratos.

No início da semana, uma organização norte-americana sem fins lucrativos da área de nutrição e segurança alimentar, o Center for Science in the Public Interest (CSPI), declarou que encontrou a substância em níveis perigosos em latas de Coca-Cola e Pepsi. O órgão fiscalizador do governo norte-americano, o U.S. Food and Drug Administration, informou que está analisando um requerimento do CSPI, mas afirmou que as bebidas ainda são consideradas seguras. Um porta-voz do FDA disse que uma pessoa teria de beber "bem mais de mil latas por dia para atingir as doses administradas nos estudos que mostraram a conexão com câncer em roedores".

Já o diretor executivo do CSPI, Michael F. Jacobson, está preocupado. "Quando a maioria das pessoas vê corante caramelo nos rótulos dos alimentos, elas provavelmente interpretam que o ingrediente é semelhante ao que se pode obter suavemente derretendo o açúcar em uma panela", disse. Mas a realidade, disse, é bem diferente. "Corantes feitos com amônia contêm substâncias cancerígenas. Eles não devem ser mascarados por um nome tão inofensivo como corante caramelo", criticou Jacobson. A direção da Coca no Brasil informou, em nota, que o corante utilizado não produz riscos à saúde e que já implementou mudanças no processo de fabricação de outros ingredientes, sem alteração no sabor do refrigerante. Procurada, a Ambev, que distribui a Pepsi no Brasil, não se manifestou.