Valor econômico, v. 17, n. 4341, 15/09/2017. Política, p. A8.

 

 

Decisão sobre candidatura de Lula sai em dezembro

Raymundo Costa

15/09/2017

 

 

A novela sobre a candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2018 acaba em dezembro. Se Lula não puder disputar as eleições, o PT está entre três alternativas: o voto nulo - "Eleição Sem Lula é Uma Fraude", seria o mote - escolher outro candidato dentro de suas fileiras ou apoiar o nome de uma sigla de esquerda aliada. Há defensores de todas essas possibilidades.

Até agora, segundo apurou o Valor, ninguém se mexeu efetivamente no PT para a troca de Lula por outro nome do partido ou de uma sigla aliada. Segundo as fontes, existe ainda quem defenda que Lula espere o julgamento do recurso à condenação lavrada pelo juiz Sergio Moro, mas este é um movimento que vem perdendo força. A sentença em segunda instância em meados de 2018, segundo se espera, deixando pouco tempo para o partido se adaptar à nova situação.

Essa seria a primeira vez que Lula não seria candidato à disputa presidencial, desde 1989, quando foram restabelecidas as eleições diretas para presidente da República. Lula foi condenado pela Justiça Federal do Paraná, supostamente por ter recebido um apartamento tríplex no Guarujá, em troca de favores a uma empreiteira, o que ele nega. Se a sentença for confirmada na segunda instância, o ex-presidente cai na lei da ficha limpa e se torna inelegível para 2018.

Na prática, mesmo sentenciado em segunda instância, Lula poderia ser candidato, mas para isso teria que obter uma sentença suspendendo a condenação, por meio de sucessivos recursos à Justiça Federal. Mas isso o levaria para a pior posição em que pode estar uma candidato a cargo eletivo - na defensiva, às voltas com os tribunais e com explicações sobre as acusações que pesam contra ele.

Lula sempre foi o Plano A do PT para a sucessão presidencial. Agora, apesar dos desmentidos oficiais, o maior partido da oposição já pensa como vai disputar uma eleição sem o ex-presidente na cabeça de chapa. O depoimento prestado por Lula ao juiz Sergio Moro, na última quarta-feira, caiu como um balde de água fria mesmo entre os petistas mais renitentes.

Lula teve de responder às acusações feitas por seu ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci, segundo as quais o ex-presidente estava à frente do esquema de corrupção da Petrobras, como suspeitava o Ministério Público Federal. Palocci confirmou inclusive que a campanha eleitoral de Dilma em 2010 foi financiada com dinheiro da Petrobras. Em resposta, Lula classificou Palocci como uma pessoa simuladora, "fria e calculista".

Para pessoas próximas do ex-presidente, Lula errou: deveria ter dito que Palocci falou por não aguentar mais a tortura da prisão. Segundo os críticos, falta estratégia à defesa de Lula.

Se o PT decidir ter candidato em 2018, abdicando da ideia do voto nulo, uma grande corrente do partido entende que Lula deve indicar o nome. As alternativas mais faladas, como o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad e o ex-governador da Bahia Jaques Wagner, fizeram um recuo tático, pois a movimentação de ambos estava sendo entendida como se eles estivessem "dando de graça que ele não será candidato" - e a possibilidade de absolvição, remota, existe.

O próprio Lula tem se referido a Haddad como um nome em potencial. Em conversas recentes tem dito que o ex-prefeito de São Paulo pode ser um personagem importante se dispuser a botar o pé na estrada e falar do que fez na educação. Haddad andou fazendo alguns movimentos, que não caíram bem no PT, e chegou a ser criticado por "ir com muita sede ao pote". À esquerda, o também ex-ministro Tarso Genro está afastado da direção do PT, ou "na geladeira", como dizem amigos do ex-presidente Lula.

Fora do PT, a opção mais considerada é - ou era - o ex-ministro Ciro Gomes, do PDT, partido que apesar de suas divisões sempre esteve próximo do PT. O problema é que as críticas cada vez mais ácidas de Ciro a Lula podem avariar de vez sua indicação. "É uma pancada porque fere a narrativa de Lula", disse Ciro, recentemente, ao comentar o depoimento em que Palocci disse que Lula era o chefe do esquema de cobrança de propina da Petrobras.