Valor econômico, v. 17, n. 4341, 15/09/2017. Especial, p. A12.

 

 

PF faz busca e apreensão em endereços de Blairo Maggi

Cristiano Zaia e Andrea Jubé

15/09/2017

 

 

A Polícia Federal cumpriu ontem mandado de busca e apreensão no apartamento do ministro da Agricultura, Blairo Maggi, em Brasília, como parte da Operação Malebolge, mais uma a investigar um esquema de corrupção envolvendo políticos e empresários do Mato Grosso. O presidente Michel Temer, no entanto, determinou a permanência no cargo do ministro, que foi implicado na delação premiada do ex-governador do Mato Grosso Silval Barbosa (PMDB).

A ação foi autorizada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luiz Fux, para quem "são veementes os indícios" de prática dos crimes de obstrução de Justiça e organização criminosa por parte do ministro da Agricultura. As diligências aconteceram em São Paulo e Mato Grosso. Não houve ordem judicial para cumprir mandados no Ministério da Agricultura.

Segundo o Valor apurou com um auxiliar do presidente, Temer e Blairo falaram-se ontem pela manhã por telefone, enquanto o presidente cumpria agendas em municípios na divisa do Pará com o Tocantins. Temer avalia, em primeiro lugar, que se Blairo deixar o cargo o gesto será interpretado como admissão de culpa. "Se o Blairo sair do governo essa será uma decisão pessoal dele, porque o presidente Temer já garantiu que ele fica", disse um interlocutor do ministro.

Além disso, o presidente gosta de Blairo e do trabalho que vem realizando na Pasta, principalmente calcado na abertura de mercados internacionais para os produtos agropecuários brasileiros. Elogia também o envolvimento de Blairo no trabalho de resgate da imagem da carne brasileira arranhada pela Operação Carne Fraca, deflagrada pela PF em março e que apura um esquema de corrupção entre fiscais do Ministério da Agricultura e frigoríficos. A ideia do Planalto é que o ministro permaneça no comando da Pasta, de onde se defenderá das acusações do Ministério Público e da Polícia Federal.

Apesar disso, integrantes da bancada ruralista e do setor do agronegócio levantam incertezas quanto à sobrevivência de Blairo no governo, que chamam de "insustentável", e apostam que o ministro tende a pedir demissão mais cedo ou mais tarde.

Parlamentares ligados ao ministro demonstraram grande desconforto ontem ao saber da operação em sua casa. Alguns desmarcaram audiências com Blairo; outros cancelaram viagens para eventos em seus Estados com o ministro; muitos têm evitado aparecer em fotografias ao lado do ministro desde que vieram à tona recentes denúncias de corrupção, disse uma fonte.

Os policiais federais chegaram ontem ao apartamento de Blairo, na Asa Sul, bairro nobre da capital federal, quando ele se preparava para sair para o ministério, onde tinha duas agendas pela manhã, como apurou o Valor. A ação, que foi solicitada pela Procuradoria-Geral da República (PGR), aconteceu por volta das 7h e foi discreta, sem tumultos. O ministro, que costuma chegar antes das 8h ao trabalho, permaneceu em casa durante praticamente todo o dia e não compareceu ao ministério.

Dois policiais federais saíram da casa de Blairo levando computador e malotes com documentos apreendidos. Agentes da Polícia Legislativa do Senado, também estiveram na casa do ministro, uma vez que Blairo tem mandato de senador. A PF buscava provas para comprovar os crimes apontados por Silval, que informou às autoridades sobre um esquema de pagamento de propina pelo governo do Mato Grosso para deputados estaduais para aprovar projetos de interesse do Executivo e contratos para obras públicas - Blairo governou o Estado entre 2003 e 2010.

Três horas depois do início da operação, Blairo usou suas páginas no Facebook e Twitter para negar mais uma vez que tenha feito pagamento de propinas ou cometido atos ilícitos em sua gestão como governador. Disse ainda que respeita o papel da Justiça "no cumprimento do seu dever de investigação", mas que usará de meios legais para se defender.

Blairo também confrontou novamente o ex-governador Silval Barbosa, responsável pelas denúncias que tornaram o ministro da Agricultura alvo de inquérito aberto pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

O ministro chamou Silval de "mentiroso" e reiterou que "nunca houve ação, minha ou por mim autorizada, para agir de forma ilícita dentro das ações de governo ou para obstruir a justiça". Ele também negou que tenha pago propina ao ex-secretário de Fazenda de Mato Grosso Éder Moraes em sua gestão como governador, para que ele mudasse a versão de seus depoimentos no âmbito da Operação Ararath, que originou as investigações sobre corrupção no Estado e culminou com os mandados de busca de ontem.

"Jamais utilizei de meios ilícitos na minha vida pública ou nas minhas empresas. Sempre respeitei o papel constitucional das instituições e como governador, pautei a relação harmônica entre os poderes sobre os pilares do respeito à coisa pública e à ética institucional", afirmou Blairo em nota.

Ao todo, a ação policial de ontem incluiu 65 mandados cumpridos por 270 policiais federais e integrantes do Ministério Público Federal (MPF), expedidos pelo ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal (STF). E além de Brasília, foram alvo da operação a capital de São Paulo, e cidades de Mato Grosso como a capital Cuiabá, Rondonópolis, Primavera do Leste, Araputanga, Pontes e Lacerda, Tangará da Serra, Juara, Sorriso e Sinop.

Ontem pela manhã, o STF também determinou o afastamento cautelar de cinco conselheiros do Tribunal de Contas de Mato Grosso (TCE-MT), investigados no âmbito da Ararath: José Carlos Novelli, Waldir Júlio Teis, Antônio Joaquim Moraes Rodrigues Neto, Walter Albano da Silva e Sérgio Ricardo de Almeida. Eles teriam cobrado propina de R$ 53 milhões como condição para a continuidade de obras para a Copa do Mundo de 2014 em Cuiabá, de acordo com a PGR.

Segundo a Procuradoria, o inquérito judicial que pediu as buscas da PF ontem, investiga crimes de corrupção, lavagem de dinheiro, organização criminosa, gestão fraudulenta de instituição financeira, crimes contra a ordem tributária e ainda a prática de obstrução de investigação criminal, que consistiu em pagar colaborador para mudar versão de depoimentos e pagar investigado para não celebrar acordo de colaboração. "A organização criminosa instalou-se no alto escalão do Estado de Mato Grosso e funcionou especialmente entre 2006 e 2014", informou a Procuradoria.