O Estado de São Paulo, n. 45267, 24/09/2017. Política, p.A8

 

 

 

PSDB alimenta Bolsonaro

Magalhães, Vera

Imerso em sua eterna crise existencial, sem conseguir decidir o que pensa sobre o governo Michel Temer, sem ser capaz de definir um calendário para a escolha de seu candidato a presidente e assistindo inerte a uma disputa que ainda é velada, mas tende a se tornar explícita, entre seus dois nomes mais viáveis para 2018, o PSDB vai perdendo relevância política nacional e alimentando o crescimento de Jair Bolsonaro.

Os tucanos parecem ter ficado aturdidos com a debacle do PT. Diante da revelação pela Lava Jato de que o PT, juntamente com seus aliados nos governos Lula e Dilma, ergueu um esquema para se perpetuar no poder à custa de contratos com estatais, o PSDB, em vez de se mostrar capaz de ser uma alternativa àquele modelo de clepto-estatismo, resolveu chafurdar na lama junto com seus arquirrivais.

A disseminação do instituto das delações premiadas fez com que, instados a falar de suas traficâncias com partidos e governos, empreiteiros dissessem o óbvio: que as práticas eram as mesmas no governo federal e em Estados governados por siglas de Aa Z, inclusive e em grande medida o PSDB.

Levados à ribalta da Lava Jato principalmente depois do impeachment, os tucanos passaram a agir em uma espécie de pacto dos afogados com petistas e peemedebistas para melar as investigações. O furacão colheu Aécio Neves, presidente do partido e seu mais bem-sucedido presidenciável desde Fernando Henrique Cardoso.

Desde então, o PSDB agoniza em praça pública e não consegue se apresentar como uma opção viável de poder numa eleição que se dará sob o signo da reconstrução (política, econômica, ética, estrutural e institucional) do Brasil.

Surgido da costela do PMDB no fim da década de 80 justamente sob um discurso da renovação das práticas políticas e de negação do quercismo, o PSDB foi apenas um partido-butique até o Plano Real: os eleitores admiravam alguns de seus líderes, associados à luta pelas Diretas-Já e a uma centro esquerda iluminista, mas não sufragavam seus nomes em eleições majoritárias.

FHC virou ministro da Fazenda de Itamar Franco, escolheu a equipe que erigiu o Real e, de senador com dificuldade de se reeleger, se tornou presidente eleito em primeiro turno.

Desde aquela eleição e em todas as que se seguiram, o PSDB viu a necessidade de se aliar a partidos à sua direita para chegar ao poder e governar. Foi um Cavalo de Troia para ela, de bom grado.

A roubança promovida pelo PT, que desmoralizou a esquerda e implodiu até os ganhos sociais do primeiro mandato de Lula, encorajou a direita a sair do armário. E o antigo “hospedeiro”, o PSDB, não se mostra capaz de propor uma agenda econômica e política para reconquistar o eleitorado que esteve com ele nesses anos de polarização com o petismo.

Paradoxalmente, ainda são tucanos os dois nomes enxergados pelo mercado e pelas forças políticas tradicionais como viáveis para empunhar as bandeiras das reformas e com a austeridade fiscal. Mas Geraldo Alckmin e João Doria, aliados até ontem, já estão bastante avançados numa disputa por espaço interno e alianças que pode inviabilizar qualquer acordo e levá-los a disputar por partidos diferentes no ano que vem.

Enquanto grassa essa mixórdia no ninho tucano, Bolsonaro cresce sem contraponto, sem questionamento no campo da política e sem que se saiba o que propõe para a economia, educação, saúde ou qualquer tema que não seja segurança pública e uma duvidosa noção de “pureza” política.

Ondas políticas podem se tornar fenômenos irreversíveis se a sociedade se convencer de que não há alternativas. PSDB e seus aliados, de um lado, e o PT e a esquerda, de outro, insistem em fertilizar esse campo.

 

 

 

 

Desaprovação de Lula cai e de Moro sobe, diz instituto

Dados da pesquisa mensal de credibilidade do Ipsos foram colhidos entre os dias 1º e 14 de setembro e comparados com o mês anterior

Por: Adriana Ferraz / Gilberto Amendola

 

Adriana Ferraz

Gilberto Amendola

 

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva teve seu índice de desaprovação reduzido e sua taxa de aprovação ampliada em setembro na comparação com o mês anterior, segundo o mais recente Barômetro Político, pesquisa mensal de credibilidade realizada pelo instituto Ipsos. O porcentual da população que não concorda com a atuação de Lula caiu de 66% para 59%, enquanto a parcela da sociedade que o aprova subiu de 32% para 40%, a maior em dois anos de levantamento – apenas 1% não soube opinar.

Ao mesmo tempo, o juiz federal Sérgio Moro, que condenou Lula e é símbolo da Lava Jato, alcançou uma taxa de desaprovação de 45%, recorde desde setembro de 2015. As impressões da população sobre Lula, Moro e demais personalidades foram colhidas entre os dias 1.º e 14 deste mês, ou seja, antes e depois do depoimento de Antonio Palocci, ex-ministro da Fazenda de Lula e da Casa Civil de Dilma Rousseff.

No dia 6, o petista afirmou a Moro que o ex-presidente tinha um “pacto de sangue” com a Odebrecht por propinas e que a empresa colocou à disposição do PT, no fim de seu mandato, um total de R$ 300 milhões. Entre agosto e setembro, Lula foi o presidenciável com a maior taxa de aprovação, perdendo apenas para Moro e o apresentador de TV Luciano Huck – os dois negam interesse em disputar o cargo.

O deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ), pré-candidato à sucessão de Michel Temer, soma dois revés no Barômetro Político deste mês: o total de entrevistados que o rejeita subiu de 56% para 63% (a pior taxa em dois anos) e a parcela que aprova sua atuação caiu de 21% para 19%, ainda que dentro da margem de erro de três pontos porcentuais para mais ou para menos.

Para Danilo Cersosimo, um dos responsáveis pela pesquisa Ipsos, o levantamento atual não colocou Bolsonaro consolidado em segundo lugar na preferência do eleitorado, mas mostrou que Lula alcançou talvez seu maior patamar. “Dificilmente ele passará disso. A rejeição a seu nome é ainda muito grande, difícil de reverter”, avalia.

Na mesma linha, o cientista político Carlos Melo, professor do Insper, afirmou que os gru- pos que aprovam e desaprovam o ex-presidente têm similaridades entre si. “Eles não mudam suas opiniões, a posição desses grupos não está conectada com os fatos. Não há como reverter isso. Lula tem um piso do qual ele não passa. Assim como, podemos dizer que ele tem um teto que não passará também. Nesse sentido, Lula é um candi- dato forte de primeiro turno, tem capacidade para fazer uma grande bancada na Câmara. Agora, isso também indica que ele deve enfrentar sérias dificuldades para vencer uma eleição de segundo turno”, analisa Melo.

Segundo o também cientista político Cláudio Couto, da FGVSP, o embate entre Lula e Moro parece estar criando uma vitimização do ex-presidente. “Além disso, a aprovação de Lula surfa na desaprovação do governo Temer”, afirmou Couto. A desaprovação a Temer alcançou 94%.

 

Tucanos. Entre os tucanos, o prefeito da capital paulista, João Doria, ainda é o que tem os melhores índices, apesar de sua credibilidade com a população estar caindo. “É a prova de como a imagem se desgasta rapidamente diante de altas demandas por serviços públicos de qualidade aliada a uma expectativa não correspondida da população”, afirma Cersosimo.

No último mês, quando intensificou sua agenda de viagens pelo Brasil com foco na corrida presidencial, Doria viu sua taxa de reprovação passar de 52% para 58% (um ponto abaixo de Lula) e sua aprovação cair de 19% para 16% – menos da metade de Lula e só três pontos acima do índice positivo do governador Geraldo Alckmin, com quem disputa a indicação do PSDB para a eleição de 2018. Os números do governador paulista oscilaram para baixo no mês passado, dentro da margem de erro. Seu índice de desaprovação passou de 73% para 75% e de aprovação, de 14% para 13%.

A pesquisa também mostrou a percepção dos entrevistados em relação ao ministro da Fazenda e presidenciável, Henrique Meirelles (PSD). O principal responsável pela agenda de reformas do governo Temer tem desaprovação alta, de 66%, e taxa de aprovação baixíssima, de 3% – índice que pode ser explicado pelo desconhecimento de seu nome.

Apontado como um possível “plano B” do PT, caso Lula seja impedido pela Justiça de concorrer, o ex-prefeito Fernando Haddad alcançou seus piores índices em dois anos. “A pesquisa mostra uma rejeição alta (57%) e comprova que essa desaprovação cai na medida em que seu nome fica mais conhecido. Isso quer dizer que Lula não repassa seu capital político para Haddad”, explica Cersosimo.

 

Lava Lato. Símbolo da operação, Sérgio Moro alcançou menor índice após o depoimento do ex-ministro Antonio Palocci

 

Teto

“Lula tem um piso do qual ele não passa. Assim como, podemos dizer que ele tem um teto que não passará também”

Carlos Melo

CIENTISTA POLÍTICO E PROFESSOR DO INSPER

 

 

 

 

 

Judiciário também é mal avaliado, aponta estudo

Por: Adriana Ferraz / Gilberto Amendola

A pesquisa Ipsos também apontou que figuras do Judiciário também estão sendo mal avaliadas pelo eleitor. O ministro do Supremo Gilmar Mendes e o exprocurador-geral da República Rodrigo Janot têm altos índices de desaprovação. Gilmar aparece com 70% de rejeição; Janot, com 58%. A própria Raquel Dodge, que acabou de assumir a PGR, tem 46% de desaprovação (e uma aprovação de apenas 4%). Metade dos ouvidos ainda não conhece Raquel.

Para o cientista político Carlos Melo, professor do Insper, “as escaramuças entre Gilmar e Janot fizeram com que os dois perdessem reputação”. Para ele, Janot teve o grande desgaste de uma delação que pareceu pouco apurada, somado ao fato de ter dado liberdade para os irmãos Batista. “Janot ficou com a fama de defender a JBS. Já o Gilmar tem uma figura muito vinculada à imagem do governo Michel Temer e do próprio Temer. Para a opinião pública, ele é quase um advogado de defesa desse governo”, disse Melo.

Para o também cientista político Cláudio Couto, FGV-SP, os números ruins de Raquel estão vinculados à reunião que ela teve com Temer antes de assumir a Procuradoria. / A.F. e G.A.