Título: Discurso pronto para PIB fraco
Autor: Caprioli, Gabriel
Fonte: Correio Braziliense, 06/03/2012, Economia, p. 11

IBGE divulgará hoje taxa de crescimento do país de 2,8% em 2011, conforme as previsões do mercado. Para o governo, resultado é passado e desempenho da economia deverá se acelerar no segundo semestre

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apresenta hoje o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro ano de mandato da presidente Dilma Rousseff. E, diferentemente da vigorosa taxa de crescimento de 7,5%, em 2010, que ajudou a elegê-la, a chefe do Executivo terá que explicar uma forte desaceleração da atividade em 2011. A estimativa preponderante entre os economistas é de que o avanço foi de 2,8%. Também é consenso no mercado que, embora tenha que registrar em sua biografia política um desempenho mais modesto do que o que gostaria, Dilma não terá dificuldades em justificar a pisada no freio.

Com o número em mãos e o discurso na gaveta, a presidente já está preparada para ressaltar que o arrefecimento ficou no retrovisor do país. Além disso, deve insistir nos primeiros números de 2012, que mostram a atividade doméstica em leve recuperação, devendo se acelerar no segundo semestre. Várias mensagens nesse sentido já foram emitidas por membros da equipe econômica. O Banco Central espera crescimento de 3%, enquanto o Ministério da Fazenda aposta em 3,2%. Mas, mesmo o ministro Guido Mantega, que começou 2011 apostando em alta de 5%, já sinalizou que será difícil chegar a 3%..

A desaceleração, segundo o analista da Tendências Consultoria Rafael Bacciotti, refletirá a estagnação da atividade observada no terceiro trimestre, quando a produção industrial e as vendas pararam em resposta às medidas do BC de contenção de crédito e ao processo de elevação dos juros. Mesmo com uma pequena recuperação nos últimos três meses do ano, o crescimento será afetado. "Depois de um terceiro trimestre estável, o último deve ter sido minimamente positivo (com salto máximo de 0,4% ante os três meses anteriores), mas a indústria ainda puxou para baixo", afirmou Bacciotti. A Tendências trabalha com avanço de 2,7% do PIB no ano passado e crescimento industrial de 1,1%. "A baixa produtividade e o impacto dos altos salários ainda continuam comprometendo o desempenho do setor", explicou.

Impulso Pela ótica da oferta, o maior destaque, segundo o economista, será do setor de serviços, que virá impulsionado pela resistência do mercado de trabalho e pela manutenção da taxa de desemprego em patamar baixo. Para a economista Fernanda Consorte, do Banco Santander, os serviços também serão impulsionados pelas vendas de automóveis, que empurraram para baixo o comércio no terceiro trimestre, mas se recuperaram nos últimos três meses do ano.

Fernanda destacou que, pelo lado da demanda por produtos e serviços, o consumo das famílias brasileiras continuará liderando o avanço do PIB. Para o Santander, os gastos nessa rubrica subirão 3,9% no ano, acima dos 2,8% projetados para o total da economia. "É esse cenário que a gente vê, uma vez que o crédito para o consumidor e a volta no rendimento médio aceleraram a partir de novembro e dezembro", destacou.

O consultor econômico e ex-diretor do Banco Central Carlos Eduardo de Freitas destaca que, embora mais fraco do que o projetado inicialmente, o PIB não deve surpreender nem o mercado, nem a equipe econômica. "Não vai assustar. Deve ficar entre 2,8% e 3%, como espera o governo. Além disso, as medidas responsáveis pela estagnação mais forte do que se previa, já foram desfeitas e ainda não tiveram o seu efeito totalmente incorporado, o que pode fazer a economia acelerar já no primeiro trimestre", comentou.