Valor econômico, v. 17, n. 4339, 13/09/2017. Política, p. A8.

 

 

Janot deve entregar hoje ao STF segunda denúncia contra Temer

Murillo Camarotto

13/09/2017

 

 

O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pretende entregar hoje a segunda denúncia contra o presidente Michel Temer. Janot reuniu-se longamente ontem com o grupo de trabalho da Lava-Jato na PGR para acertar os últimos detalhes da acusação. A denúncia, assim, chega ao Supremo Tribunal Federal (STF) no mesmo dia em que o plenário da Corte analisa o pedido de suspeição de Janot, feito pela defesa de Temer. A tendência, no entanto, é de que o comandante da PGR não seja considerado suspeito.

Temer deve ser denunciado por obstrução de Justiça e por organização criminosa. Inicialmente, Janot pretendia oferecer três denúncias separadas contra o presidente, mas acabou mudando de ideia por questões técnicas e também pela proximidade do fim do seu mandato. A sucessora de Janot na PGR, Raquel Dodge, assume o cargo na manhã de segunda-feira, em solenidade que contará com a presença de Temer.

Janot oferece a segunda denúncia em seu momento mais difícil desde que assumiu o controle da PGR, em 2013. As revelações dos áudios entregues pela JBS há duas semanas abalaram profundamente o procurador. Ainda assim, ele acredita ter reunido indícios mais do que suficientes para denunciar o presidente. Um de seus trunfos é a delação do operador Lúcio Funaro, que citou a participação de Temer em pagamentos de propina.

Apesar de os últimos reveses de Janot terem favorecido o presidente, a PGR ainda pode dar grandes dores de cabeça a Temer. Uma eventual delação premiada do ex-ministro Geddel Vieira Lima já é vista como bastante provável e poderá ser o primeiro grande teste para Raquel Dodge na Lava-Jato.

Janot estava em situação bem mais favorável quando apresentou a primeira denúncia contra Temer, em junho, por corrupção passiva. Isso não impediu, entretanto, que o presidente barrasse a acusação com o apoio da base aliada na Câmara dos Deputados.

A atuação do procurador foi alvo ontem novamente de ataques verbais do ministro do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes. Ele afirmou que a Procuradoria Geral da República vive um estado de "putrefação" e afirmou imaginar que o ministro Edson Fachin, responsável pela Lava-Jato no Supremo, tenha ficado constrangido por homologar a delação da JBS. Em resposta a Gilmar, Fachin afirmou que sua alma "está em paz".