Valor econômico, v. 17, n. 4344, 20/09/2017. Brasil, p. A2.

 

 

Parceria entre Globo e ONU busca tirar agenda sustentável do papel

Daniela Chiaretti

20/09/2017

 

 

Nos países em desenvolvimento, 57 milhões de crianças continuam fora da escola. Em 2015, eram 2,4 bilhões de pessoas sem saneamento, sendo que 663 milhões não tinham água potável. No mundo, 1,1 bilhão de pessoas não têm eletricidade. A taxa de desemprego global ficou em 5,7% em 2016, e as mulheres são as mais afetadas, em todas as faixas etárias. Reverter esses cenários desalentadores e vários outros até 2030 está na pauta da agenda global das Nações Unidas há dois anos. Traduzida em 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, a pauta tem um grande desafio - tornar sua mensagem conhecida e palatável para a população.

Na Rio+20, a conferência das Nações Unidas sobre desenvolvimento sustentável realizada em 2012 no Rio, delegados de 193 países discutiram como avançar na agenda pós-2015. Tratava-se de encaminhar o desenvolvimento global a partir de 2016, quando expirou o prazo para cumprir os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, os ODM. Aqueles se referiam a acabar com a fome, a combater a Aids e a malária, a melhorar a saúde das gestantes apenas no mundo em desenvolvimento. Os ODS são muito mais ambiciosos, têm mais temas e envolvem o mundo todo. Têm, contudo, um problema de origem - a maioria das pessoas desconhece do que se trata.

"Nosso grande desafio é fazer com que essa agenda não seja um mero documento com o símbolo das Nações Unidas em uma prateleira. Queremos que seja algo enraizado no cotidiano das pessoas, dos chefes de Estado aos chefes de família", diz Haroldo Machado Filho, assessor sênior do Programa das Nações Unidas (Pnud) no Brasil. "É a agenda mais plural da ONU", diz. "A agenda tem dois anos e temos tido algum sucesso, mas é claro que não chegou a muitas pessoas."

No Brasil, uma parceria entre Pnud e a Rede Globo busca dar concretude aos 17 ODS que se traduzem em 169 metas, desde consumo sustentável à igualdade de gênero, de trabalho decente à redução das desigualdades. A Globo irá promover algumas ações para informar a população sobre o que são ODS e mobilizar a sociedade.

"O nosso papel é começar a tornar os ODS objeto de conversa e difundir a ideia de que cada um conta. Que podem existir ações individuais, não é só o ativista que conta, ou o governo, com políticas públicas", diz Beatriz Azeredo, diretora de responsabilidade social da Globo. "A Globo pode contribuir para estimular a mudança de comportamento. Falamos com 100 milhões de pessoas todos os dias."

Um dos canais da Globo é a "Plataforma Rep: Repercutindo Histórias". Trata-se de uma série de palestras curtas e autobiográficas, em formato similar ao TED. A plataforma já foi usada pela emissora para discutir questões de raça, gênero, educação e saúde, por exemplo. Agora será um meio de divulgar as mensagens dos objetivos globais da ONU com personalidades brasileiras de cada setor.

Os vídeos serão veiculados nas mídias sociais da Globo. Um filme de 30 segundos com o ator Mateus Solano apresentará o tema nos próximos dias, durante os intervalos da programação da emissora. "Esta é uma plataforma de longo prazo. Não vamos fazer uma campanha apenas e só. Será um trabalho permanente", diz Beatriz.