Correio braziliense, n. 19935, 22/12/2017. Economia, p. 9

 

Boeing pretende comprar a Embraer

22/12/2017

 

 

EMPRESAS » Presidente Michel Temer diz que não permitirá a perda do controle acionário. As ações da empresa dispararam 22,5% na Bolsa de Valores de São Paulo

A gigante americana Boeing e a Embraer, terceiro maior grupo aeronáutico do mundo, confirmaram ontem que discutem uma aliança empresarial. Porém, afirmaram não haver garantias de fecharem um acordo, que vai depender da aprovação do governo brasileiro. A notícia de uma possível fusão das duas companhias pegou o governo, que anunciava o plano de negócios da Petrobras, de surpresa, mas o Executivo confirmou as informações.

Internamente, a posição do presidente Michel Temer, transmitida ao ministro da Defesa, Raul Jungmann, foi de aprovar todo tipo de negociação, exceto o que colocar em jogo o controle acionário da companhia. “Em meu governo, a Embraer jamais será vendida”, afirmou o presidente, segundo interlocutores. A União detém a golden share (ação de ouro, com poder de veto) da Embraer, portanto, o governo tem a palavra final.

Os primeiros relatos da aproximação das duas aéreas, que se daria por uma compra de ações da Embraer pela Boeing, fizeram os preços das ações da empresa brasileira dispararem na Bolsa de Valores de São Paulo (B3), com alta que chegou a superar 30% durante a sessão, fechando com avanço de 22,5%. A alta dos papéis da Embraer, a maior do pregão, puxou o Ibovespa, principal índice de lucratividade da bolsa paulista, para cima: valorização de 2,41% aos 75.133 pontos.

Conforme um comunicado conjunto emitido em São Paulo e Chicago (EUA), Boeing e Embraer estão em discussões “em relação a uma potencial combinação de seus negócios. O documento destacou, contudo, que “qualquer transação estará sujeita à aprovação do governo brasileiro e dos órgãos reguladores, dos conselhos de administração das duas companhias e dos acionistas da Embraer”. O comunicado ainda ressaltou que as duas empresas “não pretendem fazer comentários adicionais sobre essas discussões”.

A reação dos mercados ocorreu após o Wall Street Journal afirmar que a Boeing fez uma oferta de alto valor para adquirir as ações da Embraer e que as duas partes aguardariam a aprovação do governo brasileiro, que tem a ação de ouro, com poder de veto. Foi a partir da notícia do jornal norte-americano que o governo brasileiro tomou conhecimento da negociação.

O poder do governo, com a golden shate, pode ser aplicado em várias situações. Entre elas, na mudança no nome da companhia ou de seu objeto social, na criação ou alteração de programas militares que envolvam ou não o Brasil, na interrupção de fornecimento de peças de manutenção e reposição de aeronaves militares e na transferência de controle acionário.

Repúdio

O Sindicato dos Metalúrgicos repudiou o projeto. “A Embraer emprega hoje cerca de 16 mil trabalhadores no Brasil e já vinha adotando uma profunda política de desnacionalização da produção. A venda para a Boeing vai comprometer esses postos de trabalho e a própria permanência da fábrica no país”, indicou o sindicato. “A Embraer é estratégica para o país e não pode ser vendida para o capital estrangeiro. Exigimos que o governo federal vete a venda e, enfim, reestatize a Embraer como forma de preservar e retomar este patrimônio nacional”, acrescentou.

A Embraer foi criada pelo governo em 1969 e privatizada em 1994. O grupo americano estaria interessado em reforçar sua posição no mercado de aviões de médio alcance. A Embraer tem forte presença nesse nicho, com a produção de aeronaves de 70 a 100 assentos. Seu valor de mercado, até a disparada das ações no mercado ontem, era estimado em cerca de US$ 3,7 bilhões. As negociações seriam uma resposta à aproximação entre a maior concorrente da Boeing, a Airbus, e a canadense Bombardier, que disputa setores de mercado semelhantes aos da Embraer.