O Estado de São Paulo, n. 45269, 26/09/2017. Política, p.A4

 

 

 

E- mail liga Instituto Lula a propina, diz Odebrecht

Lava Jato. Marcelo Odebrecht apresenta documentos para comprovar que doações de R$ 4 mi à entidade saíram de Setor de Operações Estruturadas, debitados de 'conta' do PT

 

Julia Affonso

Ricardo Brandt

Luiz Vassallo

 

O empresário Marcelo Odebrecht entregou à Polícia Federal documentos para comprovar que doações oficiais de R$ 4 milhões ao Instituto Lula saíram do Setor de Operações Estruturadas, o departamento de propinas da empreiteira. Marcelo apresentou e-mails enviados, em novembro de 2013, para executivos do setor. Nas mensagens, ele informa que os repasses seriam feitos por via legal, mas debitados de um total de R$ 15 milhões da planilha “Italiano” – apontada pela empreiteira como a “conta corrente” gerenciada pelo ex-ministro Antonio Palocci.

Os recursos seriam destinados ao codinome “Amigo”, que a Odebrecht diz ser uma referência ao ex-presidente Luiz Inácio Lula Silva. Além dos emails, o empresário apresentou notas fiscais em dois novos depoimentos prestados à PF em 8 e 21 de agosto, no inquérito que investiga suspeita de propinas pagas ao Instituto Lula e por meio de palestras do petista (via Lils Palestras e Eventos).

O material foi anexado à investigação na quinta-feira passada. Segundo o empresário – que cumpre prisão em Curitiba –, os e-mails só foram entregues agora porque não haviam sido localizados quando ele fechou seu acordo de delação.

No mesmo depoimento, Marcelo apresentou cópia de recibos de quatro parcelas da doação ao Instituto Lula, cada uma no valor de R$ 1 milhão. “As cópias desses recibos foram extraídas do computador de Fernando Migliaccio ( ex-executivo da construtora), com os impressos dos e-mails, o que corrobora que os valores foram efetivamente descontados da planilha Italiano, senão não haveria razão para estar de posse dele”, relatou o empresário.

O novo depoimento de Marcelo corrobora as declarações de Palocci, condenado a 12 anos e 2 meses de prisão pelo juiz federal Sérgio Moro na Lava Jato. O ex-ministro confessou a Moro ser o “Italiano”. Segundo Palocci, que tenta fechar acordo de delação com a força-tarefa em Curitiba, Emílio Odebrecht, pai de Marcelo, e o ex-presidente selaram um “pacto de sangue” de repasse de R$ 300 milhões ao PT, durante os governos Lula e Dilma Rousseff.

 

Mensagem cifrada. Em e-mail enviado em 26 de novembro de 2013 por Marcelo aos então executivos da Odebrecht Alexandrino Alencar e Hilberto Silva – chefe do Setor de Operações Estruturadas –, os três falam de forma cifrada sobre o pagamento, que seria feito oficialmente, mas com recursos debitados da planilha de propinas.

“Italiano disse que o Japonês vai lhe procurar para um apoio formal ao inst de 4m (não sabe se todo este ano, ou 2 este ano e 2 do outro). Vai sair de um saldo que o amigo de meu pai ainda tem comigo de 14 (coordenar com HS no que tange ao Credito) mas com MP no que tange ao discurso pois será formal”, escreveu Marcelo.

No depoimento à PF em 21 de agosto, o empresário indicou as siglas do e-mail. Segundo Marcelo, “Japonês” correspondia a

Paulo Okamotto, presidente do Instituto Lula. A palavra “inst”, disse, significava Instituto Lula e “4m” era uma referência ao valor de R$ 4 milhões. Marcelo também afirmou que “HS” são as iniciais de Hilberto Silva, exexecutivo da empreiteira.

Interrogado em 8 de agosto, Marcelo afirmou que os pagamentos a Lula acertados com seu pai não se limitaram aos registrados no codinome “Amigo” do total de R$ 15 milhões da planilha de propinas “Italiano”.

 

 

 

 

Há tentativa de criminalizar doação legal, diz advogado

O advogado Cristiano Zanin Martins, que defende o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, afirmou ontem que há a “tentativa de criminalizar o recebimento de doações legais para o Instituto Lula”. Zanin negou que Lula tenha recebido doação ilegal da Odebrecht. “As doações questionadas não tiveram Lula como beneficiário, mas entidade sem fins lucrativos que não se confunde com o ex-presidente”.

O presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto, afirmou, por meio do advogado Fernando Fernandes, que não há “relação de doações ao instituto com propina”. “As ‘delações’ vão sendo moldadas às necessidades acusatórias”, disse o advogado.

 

 

 

Defesa apresenta recibos de aluguel de apartamento

Advogados entregam a Moro documentos para negar que imóvel no ABC tenha sido ‘propina’ da Odebrecht a petista
Por: Luiz Vassallo / Ricardo Brandt / Júlia Affonso

 

Os advogados do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva entregaram ontem ao juiz federal Sérgio Moro recibos de aluguel do apartamento vizinho ao seu, em São Bernardo do Campo, um dos imóveis alvo da ação pe- nal à qual o petista responde na Lava Jato. Os advogados anexaram aos autos contrato da exprimeira-dama Marisa Letícia, morta em fevereiro, com Glaucos da Costamarques, dono do imóvel no cartório.

O imóvel, no valor de R$ 504 mil, é tratado pelo Ministério Público Federal como suposta propina ao petista. Para os procuradores, a Odebrecht custeou a compra do apartamento, em nome de Glaucos da Costamarques, primo do pecuarista José Carlos Bumlai, amigo do ex-presidente. Na mesma ação, o petista responde também por ter supostamente recebido da empreiteira terreno onde seria construído o Instituto Lula, no valor de R$ 12,5 milhões.

“Os documentos hoje apresentados comprovam que o imóvel não pertence a Lula e que o valor do aluguel previsto no contrato de locação firmado por sua falecida esposa foi pago e por isso foram emitidos recibos pelo locador”, escreveu o advogado Cristiano Zanin Martins, que defende o petista.

A denúncia do Ministério Público Federal sobre o apartamento 121 ainda aponta que propinas pagas pela Odebrecht, no esquema que seria liderado pelo ex-presidente, chegaram a R$ 75 milhões em oito contratos com a Petrobrás.

 

Provas. “Mais uma vez a acusação não fez qualquer prova da culpa de Lula ou de que ele tenha recebido qualquer valor proveniente de contratos da Petrobrás. A defesa faz a prova da inocência de Lula, que deverá ser reconhecida por um juiz imparcial e independente”, afirmou Zanin, ao entregar os documentos ao juiz Sérgio Moro.

Já o advogado João Mestieri, que defende Glaucos da Costamarques, afirmou que não vai se manifestar sobre o caso. / L.V., R.B. e J.A.