Título: Três meses para definir o destino de Gabrielli
Autor: Correia, Karla
Fonte: Correio Braziliense, 28/01/2012, Política, p. 4

Jaques Wagner tem até abril para vencer resistências internas e fazer do ex-presidente da Petrobras seu candidato natural à sucessão no governo baiano

Com as malas prontas para Cuba, como integrante da comitiva da presidente Dilma Rousseff, o governador da Bahia, Jaques Wagner, carregará na bagagem uma preocupação: como acomodar em seu governo o petista José Sérgio Gabrielli. De saída da presidência da Petrobras, apontado como possível candidato ao Palácio de Ondina, Gabrielli terá de encontrar espaço no secretariado de Wagner para pavimentar seu caminho para o pleito de 2014. Ao governador baiano, caberá a tarefa de encaixar o antigo companheiro de militância sem desalojar aliados ou ferir interesses de outros petistas igualmente interessados na disputa pelo governo do estado.

A transmissão do comando da Petrobras para Maria das Graças Foster está marcada para 13 de fevereiro. Gabrielli ainda terá que passar por um período de quarentena antes de assumir qualquer função fora da Petrobras, o que dá a Wagner prazo até meados de abril para desenhar uma solução e encontrar espaço para o companheiro de legenda. A Secretaria de Infraestrutura do estado é considerada um caminho natural para Gabrielli, mas é comandada pelo vice-governador Otto Alencar (PSD) e Wagner tem dito a interlocutores que vai preferir "cortar na própria carne". Ou seja, sacrificar o PT.

Entre as pastas petistas, as mais "confortáveis" para Wagner seriam a de Fazenda e a de Desenvolvimento Social, ocupadas respectivamente por Carlos Martins, candidato à prefeitura de Candeias (BA), e por Carlos Brasileiro, candidato à prefeitura de Senhor do Bonfim (BA). Nenhuma das duas, contudo, correspondem ao perfil de Gabrielli. Também são consideradas as Secretarias de Indústria e Comércio, hoje comandada por James Correia, e a de Planejamento, capitaneada pelo deputado federal Zezéu Ribeiro (PT-BA).

A engenharia necessária para garantir a Gabrielli um lugar na equipe de Wagner faz parte da pauta entre o governador e a presidente Dilma. Wagner foi supreendido com a decisão da presidente pela saída precoce de Gabrielli, resultado, segundo aliados do governador, de uma conjunção entre o cenário político baiano e a esfera federal.

Rivais Desde o início do governo, Dilma já pretendia colocar Maria das Graças Foster no comando da Petrobras. Não o fez mais cedo atendendo a pedido do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que queria manter Gabrielli na presidência até, no mínimo, o fim deste ano. Mas a posse do novo secretário da Casa Civil no governo baiano, Rui Costa, ajudou a acelerar a saída de Gabrielli, selada em uma conversa entre Dilma e Jaques Wagner durante as férias da presidente, na Base Naval de Aratu (BA).

Licenciado do mandato na Câmara dos Deputados, Costa foi o deputado mais votado do PT nas eleições de 2010. Embora negue ter planos para 2014, ele é apontado como um dos quadros mais fortes da legenda para a sucessão ao governo do estado.

Ao lado do senador Walter Pinheiro (PT-BA), é mais um dentro da sigla a disputar a predileção de Jaques Wagner para o processo sucessório. "Nenhum deles pode ser considerado automaticamente como um nome natural para a sucessão, todos terão que construir seus espaços", analisa o deputado Nelson Pellegrino (PT-BA). "Mas se deixasse para retornar ao cenário baiano mais tarde, no fim do ano, certamente Gabrielli perderia posições importantes nessa corrida", observa Pellegrino.