O Ibope apresentou aos entrevistados seis cenários diferentes. Como informou ontem a coluna do jornalista Lauro Jardim, no GLOBO, Lula aparece com 35% a 36% das intenções de voto, dependendo de quem são os concorrentes. Em segundo lugar, aparece Bolsonaro, que tem entre 13% e 18%, e Marina Silva (Rede), que varia entre 8% e 19%, de acordo com o cenário testado.

No primeiro, aparecem quase todas as pessoas que tiveram seus nomes vinculados à campanha presidencial. Neste caso, os eleitores escolheram Lula (35%), Bolsonaro (13%) e Marina (8%) — 18% disseram que anulariam o voto e 5% não responderam.

CENÁRIO INDEFINIDO

CEO do Ibope Inteligência, Marcia Cavallari afirmou que se trata de uma primeira sondagem eleitoral feita pelo instituto sobre a sucessão presidencial e que, diante da indefinição de candidaturas para 2018, ela serve mais para conhecer a força de cada um dos potenciais candidatos do que para projetar o resultado das urnas.

— O quadro de candidaturas ainda está muito indefinido e, além disso, o eleitor não está ligado nesse debate. Então, muita coisa ainda vai mudar. É muito difícil prever cenários sobre quem estará ou não num segundo turno, por enquanto — diz Marcia.

Vera Chaia, cientista política e professora da Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP), acredita que a popularidade de Lula e Bolsonaro se deve ao fato de ambos estarem na lembrança do eleitor.

— Tanto Lula quanto Bolsonaro estão sempre viajando pelo Brasil. O Bolsonaro, por exemplo, vai de comemorações religiosas a formatura de militares. Essa visibilidade o favorece. Já o Lula, tem feito as caravanas pelo país — conclui.

Ricardo Caldas, professor de ciência política da Universidade de Brasília (UnB), avalia que Lula se beneficia do fato de ser o candidato mais lembrado pela população.

— O Lula tem um recall mais elevado do que qualquer outro político. Ele é associado a um período de estabilidade econômica no segmento de baixa renda. Esses eleitores são uma espécie de colchão — analisa o professor.

Para João Paulo Peixoto, também professor da UnB, a mudança de postura de Bolsonaro foi decisiva para ele avançar nas intenções de voto. Segundo o cientista político, o abandono do discurso radical e também as declarações liberais sobre economia foram importantes para conquistar mais adeptos.

O cientista político e professor do Insper Carlos Melo diz que outro fator que pode explicar a popularidade de Bolsonaro é sua postura mais conservadora, que agrada boa parcela da sociedade brasileira.

— Para alguns, a sua candidatura é contra tudo o que está aí. Ele representa aquele eleitor mais conservador — avalia.

A pesquisa mostra que os eleitores de Lula e de Bolsonaro têm perfis diferentes. A maioria dos que escolheram o nome do petista na enquete tem entre 25 e 34 anos, estudou até a 4a série do ensino fundamental e mora no Nordeste. Entre os que escolheram Bolsonaro, a maioria é de homens de 16 a 24 anos, com ensino superior completo. Homens nessa mesma faixa etária e com nível superior de escolaridade também compõem o eleitorado do prefeito de São Paulo, João Doria, na pesquisa. Doria apresenta desempenho entre 4% e 5%, dependendo do cenário.

O PT comemora a liderança de Lula na pesquisa — apesar das investigações da Lava-Jato.

— Lula tem uma raiz muito forte, e as maldades do Temer estão fazendo o povo sentir saudades de seu governo — disse o líder do PT na Câmara, deputado Carlos Zarattini (SP).

Já o deputado Rubens Bueno (PPS-PR), ex-líder do partido na Câmara, criticou a postura de Lula e de Bolsonaro de anteciparem a campanha.

— É muito cedo (para se falar no cenário da eleição). Mas os dois (Lula e Bolsonaro) estão em campanha descarada. Eles estão no dia a dia, criando polêmica, falando um monte de bobagens. É natural esse resultado por isso, estão criando fatos midiáticos — avaliou Rubens Bueno.

HUCK É ELEMENTO SURPRESA

O elemento surpresa da pesquisa foi o apresentador Luciano Huck — que, dependendo dos concorrentes, aparece na com até 8% das intenções de voto. Para Peixoto, é preciso aguardar para ver se ele tem fôlego para chegar à disputa. Já Caldas acredita que o apresentador está ocupando um espaço recorrente em eleições, que é o do comunicador com canal direto com a população.

— Sempre há um espaço nas campanhas para um comunicador. Já teve o Datena, o Tiririca — lembrou o cientista político.

Carlos Melo, do Insper, afirma que os outros nomes da pesquisa são ainda pouco conhecidos:

— Embora a Marina Silva seja bem conhecida no Brasil, ela está um pouco afastada do cenário eleitoral. Já o prefeito de São Paulo, João Doria, ainda tem uma presença pouco expressiva no país, assim como o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin.

O Ibope ouviu 2002 pessoas, entre 18 e 22 de outubro. A margem de erro é de 2 pontos percentuais para mais ou para menos.