Valor econômico, v. 17, n. 4346, 22/09/2017. Política, p. A8.

 

 

Disputa no PSDB favorece presidente

Raymundo Costa

22/09/2017

 

 

O presidente Michel Temer pode ter mais votos do PSDB do que teve na apreciação da primeira denúncia do ex-procurador-geral Rodrigo Janot, em junho, especialmente em São Paulo, segundo avaliam dirigentes tucanos. A sucessão presidencial está na origem da mudança: o governador Geraldo Alckmin quer desfazer a impressão de que foi o grande responsável pela debandada do PSDB paulista na primeira votação, agora que o prefeito João Doria, seu adversário na disputa tucana, se aproximou do núcleo do PMDB e do DEM mais próximo do governo.

O PSDB rachou na votação da denúncia de Janot contra Temer por corrupção passiva. Dos 47 deputados do partido, 21 votaram contra o relatório do deputado Paulo Abi-Ackel (PSDB-SP) que recomendava a rejeição da denúncia. A pior situação para o presidente, que é paulista, ocorreu justamente no Estado no qual fez carreira política. Da bancada de 12 deputados, apenas um cerrou fileiras com o presidente. Numa primeira aproximação, fontes do PSDB chegam a falar num placar de 8 a 4 a favor da denúncia de Janot. O mesmo fenômeno é esperado em relação a bancadas de outros Estados.

Alckmin, de acordo com os tucanos, acompanha com preocupação o namoro de Doria com o PMDB e o DEM. O próprio presidente Temer disse ao prefeito de São Paulo que as portas do PMDB estaria "sempre abertas" para sua eventual candidatura. O DEM, cuja cúpula tinha um jantar marcado para ontem a noite com Doria, também tem se mostrado acessível à candidatura do prefeito, muito embora tenha uma espécie de acordo pré-eleitoral com Alckmin.

Apesar de Temer contar com a aprovação de apenas 3,4% da população, o presidente tem a máquina nas mãos e demonstrou que sabe como usá-la a seu favor e contra os adversários. Ele ainda tem seis meses com caneta cheia de tinta para assinar convênios, antes da proibição do período eleitoral. Temer também tem influência na máquina do PMDB, o partido com maior capilaridade do país. Um apoio importante sobretudo numa eleição "sem dinheiro" nem superproduções de televisão, o que deve aumentar o poder das grandes estruturas partidárias.

Uma hipótese levada em conta é que Temer apoie Doria para presidente em troca do apoio do prefeito à candidatura de Paulo Skaf ao governo de São Paulo. Os tucanos estão sem um candidato forte no Estado, a menos que o senador José Serra resolva disputar o governo. Serra, no entanto, ainda não abdicou da ideia de disputar pela terceira vez a Presidência da República. O senador ainda tem quatro anos de mandato pela frente, mas precisaria se filiar a um outro partido, pois as portas do PSDB, no momento, estão escancaradas para Alckmin e meio abertas para João Doria.

A chance de Doria é disparar nas pesquisas. Nesse hipótese, segundo se reconhece no PSDB, até os governadores do partidos iriam em debandada engrossar as fileiras do prefeito - o importante, na cabeça de todos, é vencer a eleição. Alckmin, por seu turno, tenta imobilizar o adversário. Foi do governador a ideia de filiar Luiz Felipe D'Avila ao PSDB para concorrer ao governo de São Paulo, que poderia ser uma saída para Doria. E agora pode até mesmo fazer o que vinha evitando - se aproximar do presidente mais impopular do país desde a redemocratização.