Valor econômico, v. 17, n. 4346, 22/09/2017. Política, p. A11.

 

 

Briga com PMDB não afeta análise da denúncia, diz Maia

Andrea Jubé

22/09/2017

 

 

As relações entre DEM e PMDB atingiram a temperatura máxima nesta semana, coincidindo com a chegada da segunda denúncia contra o presidente Michel Temer na Câmara dos Deputados. Ontem o silêncio de Temer e do PMDB contrastou com as declarações enfáticas de líderes do Democratas de que o Planalto não deveria interferir na disputa política entre as duas siglas pela ampliação das bancadas.

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), declarou que não permitirá que o embate entre as duas legendas se confunda com a votação da nova denúncia da Procuradoria Geral da República contra Temer, mas nos bastidores da sigla o ambiente é de tensão.

No Rio, Maia voltou a reclamar do caso recente da filiação do senador Fernando Bezerra Coelho (PE) ao PMDB, depois do pernambucano ter acertado a migração do PSB para o DEM.

"Todos nós temos experiência suficiente, e eles [PMDB] mais do que eu, para entender que esse não é o melhor caminho para tratar um aliado. Um aliado que tem sido tão correto... Tenho certeza de que não poderiam ter enviado dois ministros [o da Secretaria-Geral, Moreira Franco; e o da Casa Civil, Eliseu Padilha] à filiação de um senador. Simbolizou a presença do Planalto em uma disputa política".

Anteontem Maia foi mais agressivo. Em um jantar na Embaixada do Chile, Maia falou em "facada nas costas". "Espero que o PMDB, entendendo tudo que o DEM fez até agora pelo governo tenha respeito e tire os pés da nossa porta. Se somos aliados, temos que ser aliados. A gente não pode ficar levando facada nas costas pelo PMDB".

O estopim, que motivou as duras declarações de Maia anteontem, foi o convite do PMDB para que outro dissidente do PSB, o deputado Marinaldo Rosendo, também de Pernambuco, filie-se ao partido de Temer. Rosendo cogitava aderir ao DEM.

Hoje Temer deve convidar Maia para um encontro no Palácio do Jaburu na tentativa de apaziguar os ânimos.

Apesar dos acenos públicos de que o embate não contaminará a votação da denúncia na Câmara nas próximas semanas, o líder do DEM, deputado Efraim Filho (PB), alertou que as consequências da investida do PMDB sobre deputados em negociação com o DEM podem ser "imprevisíveis". Além de ser um dos aliados mais presentes, são 29 votos de deputados do DEM que o governo não pode colocar em xeque na segunda denúncia.

Ontem Maia passou o dia no Rio de Janeiro, enquanto Temer despachou no Planalto. Havia a expectativa de que se falassem por telefone tarde da noite, depois do jantar da cúpula do DEM com o prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB). Ao longo do dia, nem Temer nem o presidente do PMDB, senador Romero Jucá (RR), fizeram acenos concretos para desfazer o mal estar com o aliado.

A cúpula do DEM passou o dia reunida no Rio de Janeiro com Rodrigo Maia. O ministro da Educação, Mendonça Filho e o prefeito de Salvador, ACM Neto almoçaram com Maia e, à noite, embarcaram juntos para o jantar com Doria.

Um líder do DEM que conversou ontem com Maia confirmou ao Valor que as relações estão tensas. Lembrou que além do assédio do PMDB aos pernambucanos do PSB, os caciques da sigla fazem ofensivas em outros Estados. O governador do Espírito Santo, Paulo Hartung, que é do PMDB, está com um pé no DEM. Mas os pemedebistas atuam para contê-lo. No Mato Grosso do Sul, o ex-governador André Puccinelli, que controla o PMDB no Estado, redobrou o assédio à líder do PSB, Tereza Cristina, também com um pé no DEM.

O único cacique do DEM que falou um tom abaixo foi o presidente da sigla, senador Agripino Maia (RN). Disse que o assunto das filiações e convites em Pernambuco estava superado, porém "mal explicado".