Título: Chance remota de vida
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Fonte: Correio Braziliense, 28/01/2012, Brasil, p. 10
Para a Defesa Civil, é praticamente impossível a existência de sobreviventes em meio aos destroços do desabamento de três edifícios no Centro do Rio. Mas espaços entre os entulhos levam familiares a acreditar que ainda haja parentes vivos no local do desastre
Após 48 horas trabalhando no resgate de vítimas nos escombros dos três edifícios no Centro do Rio de Janeiro, a Defesa Civil estadual deu uma triste notícia aos amigos e parentes que aguardavam angustiados por informações. "Finalmente, entramos na parte onde nós acreditávamos que houvesse o maior número de corpos, mas, lamentavelmente, a gente não trabalha mais com a possibilidade de sobreviventes. Todos os corpos encontrados até agora estavam muito machucados. Esse cenário mostra que houve um impacto muito forte da estrutura", afirmou, na tarde de ontem, o secretário do órgão, coronel Sérgio Simões. Segundo os bombeiros que trabalham no local, 80% dos entulhos na região já foram remexidos e cerca de 20 mil toneladas, retiradas.
Até o fechamento desta edição, 15 mortos haviam sido encontrados nos escombros — sendo cinco homens, quatro mulheres e seis sem o sexo identificado. Desse total, sete corpos foram reconhecidos por familiares. As tatuagens de Kelly Menezes, 24 anos, ajudaram no processo. Também foram identificados Alessandra Alves Lima, 29; Celso Renato Cabral Filho, 44; Nilson de Assunção Ferreira, 50; Elenice Maria Consani Quedas, de aproximadamente 50 anos; Cornélio Ribeiro Lopes, 73, porteiro do prédio número 44 da Avenida Treze de Maio; e sua mulher, Margarida Vieira de Carvalho, 65.
Segundo relatos dos bombeiros, os últimos corpos foram encontrados, com a ajuda de cães farejadores, próximos a um local onde seria uma das saídas do Edifício Liberdade — o mais alto e primeiro a desabar. Uma das hipóteses apresentadas é de que essas vítimas fizessem parte de um grupo de alunos de um curso de tecnologia da informática que, no momento do desabamento, assistia a uma aula no 6º andar. Os estudantes teriam escutado barulhos do desabamento e tentado correr. A 13ª vítima foi encontrada pela Companhia Municipal de Limpeza Urbana (Comlurb) em um posto de descarte de entulhos. A 14ª e 15ª, no subsolo do Edifício Liberdade, um espaço que nem os bombeiros sabiam que existia.
As buscas continuarão nos próximos dias, sem data para serem encerradas. Não foi divulgada uma lista oficial ou até mesmo o número exato de pessoas procuradas. O secretário municipal de Assistência Social, Rodrigo Bethlem, disse que representantes de 26 famílias procuravam ontem notícias de desaparecidos. "Pode haver gente sendo procurada que não esteja aqui nos escombros", afirma. Segundo os bombeiros, a chuva fina na madrugada de sexta diminuiu a poeira no local. "A chuva fraca estabiliza o terreno e pode até facilitar. Mas a chuva forte desestabiliza a região, prejudicando nosso trabalho", avalia o tenente-coronel do Corpo de Bombeiros Rodrigo Bastos.
Sobreposição Coronel da Defesa Civil, Sérgio Simões informou ontem que o modo como o desabamento parece ter ocorrido dificulta ainda mais as buscas. "O volume de material é muito grande. A essa altura já era para nós termos encontrado mais corpos, mas a sobreposição das lajes efetivamente é um dificultador", avalia. Segundo ele, os bombeiros estão trabalhando sob risco iminente. "A dificuldade agora é porque estamos numa área mais perigosa. Todos os pesadões de concreto do prédio ainda estão em partes altas da edificação. Na medida em que mexemos com as máquinas, essas peças podem cair e machucar algum bombeiro."
Ontem, algumas testemunhas prestaram depoimento. Entre elas o operário Alexandro da Silva Fonseca Santos, 31 anos, salvo na noite de quarta pelos bombeiros. Ele trabalhava havia duas semanas em uma obra no prédio e chegou a derrubar uma parede que dividia dois banheiros pouco antes do desastre.
Além das vítimas e dos desaparecidos, a tragédia deixou seis feridos. De acordo com a Secretaria municipal de Saúde, o quadro mais grave é de uma mulher que teve uma lesão no couro cabeludo, passou por uma cirurgia e segue internada em um hospital particular.
Vítimas
Dos 15 corpos retirados dos escombros até a noite de ontem, a Polícia Civil já havia identificado quatro:
Celso Renato B. Cabral Filho, 44 anos Margarida Vieira de Carvalho, 65 anos Nilson de Assunção Ferreira, 50 anos Cornélio Ribeiro Lopes, 73 anos Kely Menezes, 24 anos Alessandra Alves Lima, 29 anos Elenice Maria Consani, 50 anos
Focos de incêndio e a sobreposição de lojas tornam, de acordo com a Defesa Civil, praticamente impossível a presença de sobreviventes
No descarte Após encontrar o corpo de uma das vítimas em um posto de descarte de entulhos da Companhia Municipal de Limpeza Urbana, na área do Píer Mauá, também no Centro do Rio de Janeiro, o secretário da Defesa Civil Estadual informou que o local será revirado. "Não vejo como uma falha nossa, isso aconteceu em um momento crítico, com chuva, durante a madrugada, e o corpo estava em muito mau estado", disse. Ainda segundo o coronel Sérgio Simões, não está descartada a hipótese de outros corpos serem encontrados nos montes de entulho já retirado do local da tragédia.