Valor econômico, v. 17, n. 4347, 25/09/2017. Brasil, p. A5.
Exportações para UE crescem 8,4% até julho
Marta Watanabe
25/09/2017
As exportações brasileiras para a União Europeia (UE) cresceram 8,4% de janeiro a julho deste ano contra iguais meses do ano passado. O desempenho está abaixo dos 10,1% de alta das exportações à União Europeia originadas de países fora do bloco, mas está acima do crescimento de 4,1% e de 7,4% das vendas aos europeus com origem nos Estados Unidos e na China, embora esteja bem aquém do avanço da Rússia e da Coreia do Sul, cujos embarques cresceram 30% e 21,4%, sempre respectivamente. As variações são divulgadas em euros pela Eurostat, que reúne os dados estatísticos do bloco europeu.
O desempenho dos embarques brasileiros rumo a países o velho continente mostrado pela Eurostat difere do que indica a balança comercial brasileira. Segundo dados do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (Mdic), a exportação brasileira à União Europeia cresce apenas 0,4% de janeiro a julho contra iguais meses do ano passado. Um desempenho aparentemente muito aquém dos 18% de alta das exportações totais brasileiras no período.
O câmbio e a valorização em curso do euro em relação ao dólar, dizem analistas, contribui em grande parte para a diferença entre os dados do Mdic, divulgados na moeda americana, e os números em euro referentes à União Europeia. O euro avançou 12,1% em relação ao dólar em 2017, até o fim de julho, numa tendência de reversão da desvalorização da moeda europeia que vinha acontecendo desde 2014.
José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), diz que o desempenho pelos números da UE mostram que o país tem conseguido aproveitar ao menos parte do crescimento das importações pelos países do bloco europeu. Ele pondera, porém, que o valor exportado pelo Brasil é relativamente pequeno em relação a Estados Unidos e China. No topo da lista dos exportadores para o bloco - considerando sempre países fora da União Europeia -, a China responde por embarque de € 206,9 bilhões de janeiro a julho. Os Estados Unidos exportaram para a UE € 151,8 bilhões enquanto o Brasil, em décimo lugar, embarcou €18,57 bilhões, sempre no mesmo período.
Barral destaca que um crescimento de 8% das exportações brasileiras aos europeus não é certamente "algo extraordinário", mas ele avalia que a recuperação da economia europeia cria oportunidade de avanço para o Brasil. "Um crescimento em torno de 1,5% pode parecer pequeno, mas a União Europeia é uma economia muito grande e madura."
A pauta de exportação brasileira para o bloco europeu, diz Castro, também permite elevação de embarques não somente de commodities. Os básicos representam atualmente cerca de 50% do valor embarcado pelo Brasil rumo à UE. Os manufaturados são 34%.
Os dados em dólar de exportação do Mdic indicam que o comportamento das exportações rumo aos 28 países que compõe o bloco europeu é heterogêneo. Os embarques brasileiros para o principal destino da UE, a Holanda - que funciona em grande parte como ponto reexportador - caiu 25% de janeiro a agosto. Neutralizando o efeito de uma plataforma de petróleo embarcada para os holandeses no ano passado e não repetida este ano, a queda fica mais amena, em 13%. Para o segundo destino de exportação, o recuo foi de 15%. Para a Espanha, em terceiro lugar, as vendas do Brasil avançaram 20%. Portugal está em oitavo no ranking, mas chama a atenção porque comprou 55% a mais do Brasil, sempre no acumulado até agosto, na comparação com iguais meses do ano passado.
Abrão Neto, secretário de comércio exterior do Mdic, avalia que o comércio com os países da UE têm oportunidade de avançar com o acordo em negociação entre Mercosul e o bloco europeu. Ele lembra que está marcada para a primeira semana de outubro a entrega, pela União Europeia, da complementação da oferta do bloco, com a fixação de cotas para carnes e etanol. A partir disso, diz ele, os dois blocos passarão a discutir as listas ofertadas, negociando prazos, tarifas e produtos.
Segundo o secretário, um acordo propiciaria avanço das exportações de manufaturados, não somente de básicos. "Embora a média tarifária da União Europeia para esses bens seja relativamente baixa, uma redução de 4%, 5% ou 6% faz diferença para a competitividade do produto." Ele lembra que muitos dos países concorrentes já possuem acesso preferencial ao mercado europeu. "É preciso lembrar que o acordo não deve se restringir às tarifas, alcançando também as barreiras não tarifárias, além de serviços, investimentos e compras governamentais. "