O Estado de São Paulo, n. 45377, 12/01/2018. Economia, p. B1

Governo e Congresso Nacional fazem jogo de empurra

 

O Ministério da Fazenda reafirmou o compromisso do governo em aprovar medidas de ajuste fiscal, como a reforma da Previdência, depois do rebaixamento da nota de crédito do Brasil pela agência de classificação Standard & Poor’s. Segundo a Fazenda, o governo tem tido o apoio do Congresso Nacional para tocar essa agenda. “Sempre contamos com o apoio e com a aprovação das medidas necessárias para o País pelo Congresso Nacional e temos certeza que o mesmo continuará a trabalhar em favor das reformas e do ajuste fiscal fundamentais para o Brasil”, diz a nota. Uma primeira versão do comunicado foi divulgada às 20h47 no site do Ministério da Fazenda, mas depois foi retirada. Nessa versão, não constava o trecho acima, que menciona o apoio dado pelo Congresso. A nova versão, que incluiu o parágrafo, foi publicada às 21h01.

Segundo apurou o Estadão/Broadcast, o trecho foi incluído a pedido do presidente Michel Temer para tentar apaziguar os ânimos depois que o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, disse ao blog do jornalista João Borges, da Globo News, que lamentava a não aprovação das medidas fiscais pelo Congresso Nacional. A declaração de Meirelles, feita antes da divulgação da nota, foi criticada pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). “Resposta de um candidato, uma pena”, alfinetou Maia, que tem atacado o ministro, de olho nas eleições.

Maia e o presidente do Senado, Eunício Oliveira (MDB-CE), tentaram retirar do Congresso o peso pelo rebaixamento do rating do Brasil. Eles atribuíram a queda à “energia dispensada” pelos parlamentares para barrar as duas denúncias apresentadas pela Procuradoria-Geral da União (PGR) contra o presidente pelos crimes de corrupção passiva, obstrução à Justiça e organização criminosa. “O que pesou foram duas denúncias que atrasaram a votação da Previdência. De fato, o governo ficou fraco após as denúncias”, afirmou Rodrigo Maia ao Estadão/Broadcast. “Nós não faltamos com o governo. Muitas vezes ultrapassamos nossos limites para entregar o que a equipe econômica pedia. Ninguém pode cobrar o Congresso, nem a equipe econômica, nem o governo, porque o Congresso fez além do dever de casa, mesmo com toda crise econômica, ética e política”, disse Eunício.

O emedebista afirmou que o único item pendente do ano passado entre os pedidos da equipe econômica foi a reforma previdenciária, mas criticou a proposta que foi enviada. “O governo mandou um monstrengo com sei lá quantos artigos, quando na realidade precisava apenas da idade mínima e do combate aos privilégios”./ IDIANA TOMAZELLI, RENAN TRUFFI, IGOR GADELHA E JULIA LINDER