Valor econômico, v. 17, n. 4348, 26/09/2017. Política, p. A9.

 

 

Lula e dono de imóvel se contradizem

Andrpe Guilheme Vieira

26/09/2017

 

 

Recibos apresentados pela defesa de Luiz Inácio Lula da Silva contrariam versão de Glaucos da Costamarques sobre o início do pagamento do aluguel de apartamento vizinho ao do ex-presidente, incorporado à sua residência. Costamarques é dono do imóvel e foi interrogado pelo juiz Sergio Moro em 6 de setembro.

A força-tarefa da Lava-Jato acusa Lula de ser o dono de fato do apartamento 121 do Edifício Hill House, em São Bernardo do Campo. O petista teria recebido o imóvel como propina da Odebrecht, fato que seus advogados negam. O apartamento é contíguo ao que Lula reside, o de número 122.

Lula é réu em ação penal por corrupção passiva e lavagem, apontado como destinatário de suposta promessa de propina da Odebrecht de R$ 12,4 milhões, consistindo no valor da compra de um terreno, pela empreiteira, que serviria como nova sede para o Instituto Lula, em São Paulo.

Os advogados de Lula juntaram ao processo cópia de "instrumento particular de contrato de locação para fins residenciais." Glaucos da Costamarques aparece como locador e a mulher de Lula, Marisa Letícia, já falecida, como locatária. A vigência do contrato apontada é de 1º de fevereiro de 2011 a 31 de janeiro de 2012. Ele é assinado pelas partes e por duas testemunhas.

Também foram anexados aos autos cópias de 26 recibos de pagamentos de aluguel assinados por Costamarques, sendo o primeiro de 5 de agosto de 2011 e o último de 5 de dezembro de 2015.

O de 5 de agosto de 2014 parece ter erro, já que fala em vencimento no dia 31 de agosto de 2014, data inexistente no calendário.

Costamarques, no entanto, disse a Moro que só começou a receber o aluguel do imóvel em 2015, por meio de depósitos não identificados em sua conta corrente.

Ele contou ter sabido por seu primo, o pecuarista e amigo do ex-presidente, José Carlos Bumlai, já condenado em primeira instância, e pelo advogado e compadre de Lula, Roberto Teixeira - também réu na ação penal - que o apartamento já era alugado para Lula pelo PT antes de ele ser eleito presidente.

Costamarques disse que o apartamento foi alugado pela secretaria da Presidência da República, mas que o dono morreu e o espólio o ofereceu preferencialmente ao locatário. Bumlai teria lhe pedido, entre junho e julho de 2010, para comprar o imóvel.

"A Presidência não ia comprar o apartamento, então eles sabiam que o apartamento ia se passar para alguém. E o José Carlos me falou: 'Olha, esse apartamento você pode comprar para mim? Porque eu estou sem dinheiro agora e não queremos que alguém estranho compre o apartamento e mude para lá'".

Na investigação relacionada a esse caso, o empresário Marcelo Odebrecht entregou à Polícia Federal (PF) e-mails que trocou com executivos do grupo sobre doação de R$ 4 milhões ao Instituto Lula associada à planilha "Italiano", codinome usado para se referir ao ex-ministro da Fazenda e da Casa Civil nos governos do PT, Antonio Palocci. Odebrecht apresentou também cópias de quatro recibos no valor de R$ 1 milhão cada, que segundo o empresário se referem a cada uma das doações feitas.

O delator disse que as mensagens foram entregues somente em agosto porque não haviam sido encontradas antes.