Título: PT liga o sinal de alerta
Autor: Lyra, Paulo De Tarso
Fonte: Correio Braziliense, 06/03/2012, Política, p. 3

Desempenho ruim em pesquisa eleitoral, internação de Lula e perda da propaganda partidária em junho preocupam o comando da campanha de Haddad à prefeitura da capital

A segunda-feira de múltiplas reuniões e telefones desligados mensurou exatamente a tensão que tomou conta do PT no início desta semana. Os articuladores da pré-campanha de Fernando Haddad para a prefeitura paulistana quebraram a cabeça para avaliar os recentes reveses da candidatura petista. Ao resultado pífio no Datafolha — 3% de intenções de voto, o que coloca o ex-ministro da Educação na última colocação dentre os principais candidatos à prefeitura — somaram-se a nova internação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (leia mais na página 4) e a proibição da propaganda partidária da legenda, marcada em junho, e que seria utilizada para apresentar ao eleitorado paulistano quem é Fernando Haddad. "Viveremos tempos difíceis até agosto", reconheceu o ex-líder do PT na Câmara Paulo Teixeira (SP).

Além disso, aliado certo dos petistas na disputa municipal, o PSB pediu um tempo maior para "dizer sim". O governador de Pernambuco, Eduardo Campos, esteve ontem em São Paulo para avisar ao prefeito Gilberto Kassab (PSD) que o partido não aceitará a Secretaria Municipal de Esporte, oferecida para que a legenda desista de coligar-se com o PT. O governador defende a aliança com Haddad, mas disse que a resposta só será dada em junho. "Quem decide as ações do PSB é o PSB", afirmou Campos.

O QG petista não esperava essas dificuldades no PSB. Provavelmente, nem Campos. Ele conversou com o ex-presidente Lula e com a presidente Dilma Rousseff há três semanas e assegurou que o partido estará com Haddad em outubro. Avisou que a única resistência partia do Diretório Estadual do PSB, presidido pelo secretário estadual de Turismo, Márcio França. Mas a oferta de Kassab de uma secretaria balançou os vereadores pessebistas.

Alianças Campos teve que escancarar aos correligionários paulistanos a decisão aprovada pelo Congresso Nacional do partido, no fim do ano passado, definindo que "em cidades com mais de 200 mil habitantes cabe ao Diretório Nacional decidir os rumos do partido e as coligações que devem ser feitas". Na essência, significa que a palavra final é dele e que o partido deverá apoiar o ex-ministro da Educação. Para valorizar o próprio passe e evitar traumas e desgastes desnecessários no partido, Eduardo Campos adiou a definição para junho.

Defensor do apoio a José Serra (PSDB), Márcio França reconheceu que, nacionalmente, o PSB tem afinidades maiores com o PT, o que poderá pesar na hora da decisão. Mas lembrou que em São Paulo a parceria com os tucanos é concreta. "O Congresso proibiu coligações com o DEM, não com o PSDB. Estamos juntos em várias capitais, como Curitiba e no estado de São Paulo. Campos terá que nos convencer", cobrou França. "O PT está desesperado porque o isolamento nas coligações e a entrada de José Serra nas pesquisas deram a eles uma possibilidade concreta de derrota", afirmou França. Serra ganhou ontem outro aliado: o PDT deve apoiar a candidatura do tucano após a oferta para assumir a Secretaria Estadual do Trabalho.

O PT adiantou a escolha do seu candidato, eliminando a realização das prévias, justamente para tentar torná-lo mais conhecido. Mas, até o momento, Haddad continua sendo um "estranho" para o eleitorado paulistano. "A campanha só vai esquentar, de fato, quando começar o horário político gratuito, em agosto", completou Teixeira. Para o presidente municipal do PT, Antonio Donato, o fundamental para o partido é ter calma nesse momento adverso. "Já vencemos eleições depois da data e vencemos outras antes da data. O PT precisa aprender que eleição se vence no dia", defendeu.

Donato afirma que o partido já tinha levado em conta, nos cálculos dos prejuízos eleitorais, a perda do direito à propaganda partidária deste primeiro semestre, que seria exibida em junho. "Não temos como fazer nada. Mas o Chalita (Gabriel Chalita, pré-candidato do PMDB) teve uma megaexposição na propaganda nacional e estadual do PMDB e cresceu de 5% para 7%. Propaganda antecipada não resolve porque o eleitorado ainda não está com preocupado com a eleição", minimizou Donato.