Valor econômico, v. 17, n. 4350, 28/09/2017. Política, p. A9.

 

 

Temer tenta salvar tucano para barrar denúncia

Andrea Jubé e Bruno Peres

28/09/2017

 

 

Com o novo afastamento do senador Aécio Neves (PSDB-MG) do exercício do mandato, o presidente Michel Temer perde, num momento delicado, um jogador estratégico na articulação pelo arquivamento da segunda denúncia da Procuradoria-Geral da República. Ontem, enquanto discutia com aliados estratégias para salvar Aécio, Temer ainda administrou a insatisfação das bancadas de Minas Gerais e Pernambuco, que juntas somam 82 votos.

Representando 53 deputados descontentes da bancada mineira, o vice-presidente da Câmara, Fábio Ramalho (PMDB-MG), protestou ontem contra o leilão de quatro usinas da Companhia Energética de Minas Gerais (ver página B4) e alertou que a reforma da Previdência não será aprovada na Casa, onde haveria muita "insatisfação".

Em outra frente, Temer enfrentou a rebelião dos deputados de Pernambuco, que tem 29 representantes, incluindo quatro ministros: Cidades, Defesa, Educação e Minas e Energia. Todos determinados a barrar o projeto do ministro da Saúde, Ricardo Barros (PP-PR), de transferir tecnologia da Hemobrás de Pernambuco para uma nova unidade da empresa em Maringá, no Paraná - base eleitoral do ministro.

É nessa conjuntura de turbulência que Temer terá de contornar a ausência de seu principal aliado no PSDB, o senador Aécio Neves, em plena articulação para arquivar a segunda denúncia. Ontem Temer discutiu a situação do senador mineiro com um grupo de senadores, incluindo o líder do governo, Romero Jucá (PMDB-RR), e o presidente do Conselho de Ética, senador João Alberto (PMDB-MA).

Na votação da primeira denúncia, em 3 de agosto, 22 tucanos votaram com Temer, enquanto 21 defenderam a continuidade da acusação. Na ocasião, um auxiliar presidencial admitiu que a atuação de Aécio foi determinante para garantir este resultado. A leitura era de que Aécio e o ministro da Secretaria de Governo, Antonio Imbassahy, juntos haviam vencido o grupo dissidente, encabeçado pelo governador de São Paulo, Geraldo Alckmin.

Fontes do Planalto ponderam que é cedo para avaliar o impacto do afastamento de Aécio, que ainda pode ser revertido pelo plenário do Supremo Tribunal Federal ou pelo Senado. Além disso, há uma avaliação interna no PSDB - mesmo na ala oposicionista ao governo -, que o senador é vítima de uma decisão equivocada que atropelou a Constituição.

Embora Alckmin tenha recuado nas críticas ao governo, persiste a divisão interna no partido. A ala dos "cabeças-pretas" sustenta a oposição a Temer, o que ficou claro em recente movimentação na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), que nos próximos dias julga o recebimento da segunda denúncia. Saiu o deputado Jutahy Júnior (PSDB-BA) e, em seu lugar, entrou outro baiano, João Gualberto. Ambos votaram contra Temer na primeira denúncia.

Aécio havia sido afastado do exercício do mandato por ato individual do relator da Lava-Jato, ministro Edson Fachin, em maio. Quase dois meses depois, uma decisão liminar do ministro Marco Aurélio Mello, no fim de junho, restabeleceu suas funções de senador. Imediatamente, Aécio retomou as articulações para reverter votos de dissidentes do governo a favor de Temer. Essa articulação, na avaliação do Planalto, evitou por um voto a vitória da ala dissidente na primeira denúncia.