Título: Ajuda dos emergentes
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Fonte: Correio Braziliense, 28/01/2012, Economia, p. 17

Em época de crise dos países ricos, o pires literalmente mudou de mão. A União Europeia (UE) divulgou ontem uma série de propostas para tentar reforçar a capacidade comercial dos países em desenvolvimento. No documento, procurou mostrar o quanto é importante para as economias emergentes, destacando que compra mais dos países em desenvolvimento do que de qualquer mercado e constitui também o maior destino das exportações agrícolas deles, responsáveis por quase 70% das importações desses produtos pela UE.

Ao mesmo tempo, indicou que está colocando na mesa a intenção de retomar as conversas multilaterais de liberalização comercial. "O aparecimento de economias emergentes como a Índia, a China e o Brasil mostra que o desenvolvimento impulsionado pelo comércio é possível e que a liberalização dos mercados pode desempenhar um papel essencial na criação de crescimento", afirmou o comissário europeu responsável pelo Comércio, Karel de Gucht.

Rodada Doha Na avaliação do professor de economia do Insper, Otto Nogami, este momento é positivo para os emergentes negociarem maior acesso aos mercados da Europa para os seus produtos. "Agora é o momento para os países em desenvolvimento ressuscitarem a Rodada Doha (de negociações para a liberalização do comércio global que travou no meio da crise de 2008). Agora é o momento de buscar uma saída diferente ao tradicional protecionismo pós-crise", apostou.

O professor de relações internacionais do IBMEC-DF Creomar de Souza concorda com essa mudança de paradigma. "Essa crise terá como resultado fundamental a necessidade de flexibilização do comércio, mesmo que de maneira indireta. Acredito que alguns subsídios terão que ser cortados tendo em vista a impossibilidade dos Estados membros da UE em suportá-los", afirmou. Para Souza, no entanto, "a UE ainda está longe de ter uma solução realmente boa para a crise".

Socorro chinês Para o professor de economia do Insper, Otto Nogami, a China, o maior detentor de reservas em euro, é o país com mais condições de socorrer a Europa sem que os países da Zona do Euro precisem emitir mais moeda. No último trimestre de 2011, Pequim tinha US$ 3,18 trilhões em reservas internacionais. "Desde o início do enfraquecimento do dólar (após a crise financeira de 2008), o governo chinês procurou diversificar a sua cesta de moedas estrangeiras. Hoje, cerca de um terço delas são em euro", estimou.