Correio braziliense, n. 19929, 15/12/2017. Política, p. 3
Leonardo Cavalcanti e Rodolfo Costa
15/12/2017
Depois da confirmação do adiamento da votação da reforma da Previdência para fevereiro, integrantes do Palácio do Planalto iniciaram um processo de avaliação de erros. E o principal alvo dos ataques do alto escalão é o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin. O governo federal não digeriu bem o atraso no cronograma. E, por mais que internamente os peemedebistas soubessem que não tinha quantidade suficiente de votos para aprovar atualmente a proposta, a falta de apoio dos tucanos é um incômodo latente. O fechamento de questão da sigla com apenas metade dos 46 votos da legenda na Câmara dos Deputados é encarado dentro do Planalto como uma clara demonstração de falta de apoio e articulação de Alckmin, presidente nacional do PSDB.
Ter o apoio massivo do PSDB seria fundamental para as aspirações do governo em colocar a reforma para votação na próxima semana. O entendimento do Planalto é de que, com uma convicção da maioria fechando questão, obrigaria o DEM e outros partidos a também seguirem o mesmo caminho. “O efeito manada pode ser positivo ou negativo. O que o partido apresentou na quarta é o que já tinha desde a segunda denúncia. Alckmin teve a chance de se credenciar com o mercado, e não fez. Colocou um viés de baixa nesse efeito manada”, criticou um interlocutor do presidente da República, Michel Temer.
A avaliação do Planalto é de que Alckmin poderia ter tido um papel mais incisivo de influência na bancada do PSDB. Pessoas próximas de Temer entendem que o governador de São Paulo poderia ter liberado o secretário-chefe da Casa Civil, Samuel Moreira, e o secretário de Desenvolvimento Social, Floriano Pesaro, ambos tucanos, para fazer um trabalho de convencimento junto à outra metade contrária ao fechamento de questão. “Se manda para cá, seria outro clima. Se o partido não entrar para valer na reforma, vai se queimar”, advertiu o interlocutor.
Viagem cancelada
O governo não estuda a adoção de nenhuma medida drástica contra o PSDB. Mas colocará Alckmin e os tucanos contrários à proposta em saia justa. A ideia é pautar a reforma em 19 de fevereiro e mantê-la na ordem do dia no plenário da Câmara até a aprovação. “Quem acha que a reforma deixará de ser debatida está enganado. Não é algo que será empurrado para debaixo do tapete. O Alckmin está acostumado a ganhar. Mas agora vai ter que dizer se é contra ou a favor. Não vai ter estelionato eleitoral. Enquanto não votar, os deputados vão ter que se justificar”, ressaltou outro interlocutor do presidente.
A manobra já havia sido levantada pelo próprio Temer, na terça-feira, em reunião com dirigentes empresariais. “Isso (a reforma) ficará na pauta o tempo todo. E isso significa que não haverá candidato a senador, a deputado, a governador, e a presidente, que não será questionado a respeito da sua posição sobre a reforma. Seja em 2018, ou em 2019. E não queremos que aconteça. Acontecendo isso agora (a votação na próxima semana, já adiada para 2018), tira isso da frente”, alertou.
O adiamento da votação do texto, no entanto, permitirá a Temer colocar o pé no freio na rotina até então adotada. Com a saúde fragilizada, a expectativa é de que ele possa ter mais tempo para descansar. “Nas últimas semanas, ele ‘tomou café da manhã, almoçou, e jantou’ a reforma. Trabalhou para fechar questão, cobrou agilidade na liberação de emendas, se reuniu com prefeitos, governadores e empresários. Agora, vai mudar o ritmo”, afirmou um interlocutor. Inclusive, ele cancelou uma viagem que faria ao Sudeste Asiático, prevista para o período entre 5 e 13 de janeiro de 2018.
Antes de frear o ritmo, Temer empossará hoje o vice-líder do PMDB na Câmara, deputado Carlos Marun (MS), como ministro da Secretaria de Governo, cargo responsável pela articulação política com o Congresso. Na próxima semana, ele marcará presença na convenção nacional do PMDB, em que o partido deve discutir questões como a mudança de nome do partido, que voltará a ser MDB.