O globo, n.30832 , 05/01/2018. ECONOMIA, p.6

Jungmann não vê necessidade do Exército no julgamento de Lula

CRISTIANE JUNGBLUT

 LUIZA SOUTO

SERGIO ROXO

 

 

Pedido foi do prefeito de Porto Alegre, que teme ‘ invasão’ da cidade

O ministro da Defesa, Raul Jungmann, disse não ver necessidade no uso da Força Nacional e do Exército em Porto Alegre, para cuidar da segurança durante o julgamento do ex- presidente Luiz Inácio Lula da Silva pelo Tribunal Regional da Quarta Região ( TRF- 4), marcado para o próximo dia 24. Pedido nesse sentido foi feito pelo prefeito de Porto Alegre, Nelson Marchezan Júnior, que encaminhou ofício ao governo federal. No Twitter, o prefeito disse que líderes políticos “convocam uma invasão de Porto Alegre” e que tomou a iniciativa para “proteger o cidadão e o patrimônio público”.

Jungmann disse que a Brigada Militar — como a polícia militar do Rio Grande do Sul é chamada — é competente para enfrentar a situação e ressaltou que cabe ao governador e não a um prefeito, pedir a ajuda da Força Nacional, como determina a Constituição.

— Pessoalmente, não vejo necessidade para o emprego das Forças Armadas em Porto Alegre. Um prefeito não pode pedir o emprego das Forças Armadas, só o governador. E a Brigada gaúcha é experiente para lidar com isso — disse Jungmann.

 

FORÇA NACIONAL JÁ ATUA NO SUL

O presidente Michel Temer determinou que os ministros analisem a situação de Porto Alegre e dialoguem com o prefeito. O Ministério da Justiça informou que a Força Nacional já atua no Rio Grande do Sul desde 2016 e que a presença das tropas foi prorrogada por seis meses, a partir de 1 º de janeiro. Como o Ministério da Defesa, a Justiça esclareceu que cabe apenas ao governador de estado, no caso José Ivo Sartori ( PMDB), um pedido de colaboração e de alteração do número de efetivo já existente no local.

O governo federal já recebeu relatos de que o governo do Rio Grande do Sul não pretende pedir o reforço solicitado pelo prefeito de Porto Alegre, que é do PSDB. Segundo o Palácio do Planalto, Temer não conversou com o prefeito.

O secretário estadual de Segurança Pública, Cezar Schirmer, disse à rádio Gaúcha respeitar a posição de Marchezan, mas não considera necessário reforço da Força Nacional nem do Exército para o julgamento:

— Temos uma relação muito positiva na Segurança Pública. Decidimos criar um gabinete de crise para discutir todas as questões do dia 24. Obviamente que nesse gabinete estão integrados representantes do governo federal, do estado e do município. Decidimos uma série de questões, nenhuma delas pedindo Exército ou Força Nacional. Não há essa necessidade — afirmou.

Em nota, após uma reunião de dirigentes do partido com Lula, o PT considerou a atitude do prefeito de Porto Alegre uma provocação. Ainda não está definido se o ex- presidente irá à capital gaúcha no dia do julgamento. Um aliado disse que, se a Justiça não aceitar os pedidos dos advogados para que o petista seja ouvido na audiência, Lula deve ficar em São Paulo.

“Nossa causa é justa e não vamos aceitar provocações e palavras de ódio, como as proferidas pelo prefeito de Porto Alegre, que, sob falso pretexto, pediu a intervenção das Forças Armadas para impedir nosso movimento. A pequenez de seu gesto revela o desconhecimento do sentido da democracia e da liberdade de manifestação”, afirma nota do PT.

No encontro de ontem, foi definido o calendário de mobilizações para o julgamento de Lula. No dia 13, o partido planeja fazer manifestações em todos os estados. A partir do dia 22, em Porto Alegre, serão realizados atos com juristas e mulheres. No dia 23, está prevista uma vigília. No dia 24, haverá manifestação em Porto Alegre e nos estados, no dia 25 a Executiva do PT reafirmará a candidatura de Lula a presidente.