O globo, n.30829 , 02/01/2018. PAÍS, p.3

TRAGÉDIA QUE SE REPETE

 

 

Assim como 2017, ano começa com rebelião em presídio, desta vez em Goiás, com 9 mortos

Goiás teve três rebeliões em unidades prisionais na virada do ano, que, além dos nove mortos, deixaram 23 feridos

 Assim como ocorreu no ano passado, 2018 começou marcado por rebeliões e mortes em presídios brasileiros. Detentos se rebelaram ontem em três presídios de Goiás, e o motim mais grave terminou com nove presos mortos e 14 feridos. Uma outra rebelião não teve mortos, mas 9 detentos ficaram feridos. E no terceiro caso, durante a virada do ano, um tumulto entre presos foi contido por policiais. O caso mais sério ocorreu entre presos do regime semiaberto na Colônia Agroindustrial, do Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia, Região Metropolitana da capital, que teve nove mortos. Durante o conflito, 106 presos que cumpriam pena no regime fechado fugiram. Desses, 29 foram recapturados pelas forças de Segurança Pública até a noite de ontem, mas ainda havia 77 foragidos. Outros 127 apenados também saíram da unidade durante a confusão, mas retornaram quando a situação foi controlada. Por volta de 14h, presos de uma ala invadiram o setor onde estão detentos rivais, dando início ao motim. Colchões foram queimados pelos presos, e o Corpo de Bombeiros foi chamado para conter as chamas. Corpos foram carbonizados, e a polícia realizou o trabalho de identificação. Agentes do Grupo de Operações Penitenciárias Especiais (Gope) e do Batalhão de Choque da Polícia Militares conseguiram retomar o controle do presídio. A operação contou com um helicóptero, que monitorava os arredores da unidade para procurar eventuais fugitivos. Familiares dos presos foram para a porta do presídio em busca de informações.

VIGILANTE FOI RENDIDO

Mais cedo, pouco depois da virada do ano, presos da Unidade Prisional de Santa Helena, no Sudoeste de Goiás, renderam um vigilante com o objetivo de iniciar uma rebelião, que acabou deixando nove feridos. Os detentos queriam agredir rivais dentro da unidade. O agente foi liberado após 1h30m de negociação. Outro tumulto entre presos, na unidade prisional de Rio Verde, também durante a virada do ano, foi contido pela polícia. De acordo com a Seap, houve intervenção por parte dos agentes de plantão, e os responsáveis foram autuados na delegacia de Polícia Civil do município. O ministro da Justiça, Torquato Jardim, afirmou que o Departamento Penitenciário Nacional (Depen), vinculado à pasta, não foi procurado pelo governo de Goiás para comunicar ou pedir auxílio nas rebeliões deflagradas ontem, mas disse que está “alerta para outros eventuais episódios”. Na avaliação de Torquato Jardim, os dois episódios estão restritos a disputas locais e não têm similaridade com a guerra de facções deflagrada no início de 2017 e que culminou em mais de cem mortes em estados como Amazonas, Rio Grande do Norte, Paraíba e Roraima.

Um relatório divulgado em 2016 pelo Tribunal de Justiça de Goiás alertava para “iminente risco de nova rebelião” na Colônia Agroindustrial de Aparecida de Goiânia. Segundo o documento — intitulado “Relatório de inspeção aos presídios de Goiás” —, a unidade tem capacidade para 122 presos do regime semiaberto. Durante visita realizada em março de 2015, após um incêndio no local em 2014, o presídio abrigava 330 detentos. O documento relata que a penitenciária já chegou a abrigar 423 presos. Ainda segundo o relatório, a unidade tem dez alojamentos individuais e seis coletivos. O documento indica que presos de diferentes facções criminosas eram separados em alas diferentes por questões de segurança. A avaliação, na época, foi de que a segurança do local era ruim — “são apreendidos com frequência aparelhos de celulares e drogas de todos os tipos”, disse o relatório. No dia 28 de dezembro, um preso foi morto ao tentar fugir da Colônia Agroindustrial. Na ocasião, a Seap informou, por meio de nota, que Leonardo Rocha tentava escapar pelo telhado da unidade junto com outros dois detentos. Os agentes dispararam contra os presos depois que eles desobedeceram a ordens para desistir da fuga. Rocha foi atingido e morreu no local. Os outros dois presos conseguiram fugir.