O Estado de São Paulo, n. 45300, 27/10/2017. Política, p.A8

 

 

 

 

Temer perde e ganha apoios na Câmara

Análise das votações das denúncias na Casa mostra que houve defecções em 7 bancadas, mas também em 7 siglas peemedebista ampliou base

Por: Daniel Bramatti

 

Daniel Bramatti

 

A comparação das duas votações de denúncias contra o presidente Michel Temer (PMDB) revela que ele perdeu apoio em sete bancadas partidárias, e ganhou em outras sete. Na sessão de anteontem, os deputados favoráveis ao prosseguimento da acusação por organização criminosa e obstrução da Justiça obtiveram 233 votos, seis a mais do que no início de agosto, quando foi analisada a denúncia por corrupção passiva. Nos dois casos, eram necessários 342 votos para que as denúncias avançassem.

Em números absolutos, foi no PSD que Temer perdeu mais votos: quatro. Em termos proporcionais, as maiores reduções de apoio ocorreram no PROS e no PSD. No PROS, entre uma votação e outra, a taxa de deputados contrários ao presidente da República passou de 40% para 50%. No PSD, a variação foi de 37% para 46%.

Os demais partidos em que o apoio caiu foram DEM, PTB, PODE, PSDB e PR. Entre os tucanos, o número de deputados favoráveis a dar continuidade às investigações passou de 21 para 23. Na votação da segunda denúncia, os contrários a Temer foram 50% da bancada do PSDB, em comparação com os 45% da decisão anterior.

Os tucanos estão divididos sobre a permanência do partido no governo. A ala favorável a Temer é comandada pelo senador Aécio Neves (PSDB-MG), presidente licenciado do partido. Entre os deputados tucanos de Minas, Estado de Aécio, 6 dos 7 votos foram contra o prosseguimento da denúncia.

No PMDB, partido de Temer, o número de votos contrários ao presidente foi o mesmo nas duas sessões: 6. Isso corresponde a pouco menos de 10% da bancada.

 

Apoio. Os partidos em que Temer ganhou apoio, graças à redução da taxa de votos contra o prosseguimento da denúncia, foram PPS, PP, Avante (antigo PT do B), SD, PDT, PRB e PSOL. Neste último, o fenômeno foi involuntário. A votação contra Temer só não foi unânime no PSOL, como na primeira denúncia, porque o deputado Edmilson Rodrigues (PA) só se manifestou no plenário depois de perder a chamada feita pela Mesa e ser considerado ausente.

Com isso, os votos contra Temer caíram de 6 para 5 entre uma votação e outra.

Dos 23 deputados ausentes anteontem, dois terços (15) votaram a favor de Temer quando a Câmara barrou a primeira tentativa de prosseguir a investigação sobre o presidente.

Do outro lado, apenas cinco dos faltantes na sessão de anteontem se alinharam à oposição na votação da primeira denúncia. O fator de aliados de Michel Temer estarem super-representados nesse universo sugere que governistas tenham optado por faltar em vez de votar a favor dele.

Três parlamentares do PRB (Carlos Gomes, César Halum e Ronaldo Martins) e um do PR (Adelson Barreto) trocaram de posição e passaram para o campo governista entre uma votação e outra.

Já os que foram favoráveis a Temer e depois se voltaram contra ele formam um contingente maior, de oito deputados. Desses, quatro parlamentares são do PSD, dois do PMDB, um do DEM e um do PRB.

 

Mudança. Cesar Halum, do PRB, passou para o lado governista entre uma votação e outra

 

Comparação

233

deputados votaram a favor do prosseguimento da denúncia contra Temer anteontem; em agosto, na primeira votação, 227 parlamentares se posicionaram contra o presidente

 

 

 

 

 

Planalto prepara lista para punir deputados ‘infiéis’ da base

Retaliações do governo estão sendo avaliadas pelos ministros Eliseu Padilha e Antonio Imbassahy

 

O Palácio do Planalto pretende retaliar os deputados de partidos da base governista que foram infiéis ao presidente Michel Temer na votação das denúncias contra ele. Um dos critérios em discussão é punir os deputados considerados “casos perdidos”, os que reiteradamente votaram contra Temer e já indicaram que não apoiarão a agenda de reformas e projetos impopulares, por medo de perder votos por causa da proximidade do calendário eleitoral de 2018.

A lista de deputados federais ainda está em preparação. Ontem, auxiliares da Casa Civil prepararam planilhas comparativas de como os deputados se comportaram nas votações da primeira e da segunda denúncia. Na Secretaria de Governo, ficam controles sobre as demandas dos parlamentares, como emendas empenhadas e nomeações de apadrinhados para cargos comissionados na administração federal.

As retaliações devem ser coor- denadas pela articulação política do Planalto, na qual se envolvem os ministros Antônio Imbassahy (Governo) e Eliseu Padilha (Casa Civil). Eles querem entender ausências, abstenções e mudanças de voto.

O Planalto diz que perdeu seis votos entre uma denúncia e outra, mas as retaliações devem ser mais amplas. Há casos como o do deputado Abel Mesquita Jr. (DEM-RR). Ele votara a favor de Temer, mas anteontem votou contra. Segundo correligionários, ele não vê vantagens em permanecer fiel a Temer porque se ressente de que as ações do governo em Boa Vista, capital de Roraima, são todas canalizadas para o senador Romero Jucá (PMDB-RR), líder do governo no Senado, e seus aliados.

Deputados com trânsito na Presidência reconhecem a perda de alguns votos por deman- das não atendidas. São, principalmente, cargos comissionados não entregues porque foram solicitados por mais de um parlamentar. Daí a importância de revisar a fidelidade dos deputados, desalojando os indicados de quem traiu o Planalto.

O governo quer, pelo menos, recompor a base para tentar aprovar uma reforma da Previdência, que exige 308 votos. O ministro Eliseu Padilha defende a aprovação da “reforma possível”. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), disse anteontem que a reforma precisa ser enxugada e que o essencial é estabelecer a idade mínima para aposentadoria.

Revisão semelhante já havia ocorrido entre a primeira e a segunda denúncia, com dezenas de demissões, por pressão de partidos do Centrão. Segundo auxiliares diretos de Temer, uma troca de cargos de primeiro escalão está no horizonte para março de 2018, data em que ministros pretendem se desligar por força da lei eleitoral, para disputar cargos eletivos.

 

Humildade. O líder do DEM, Efraim Filho (PB), disse que o governo precisa “agir com humildade” e apostar em uma pauta microeconômica e de mais fácil aprovação, como a Medida Provisória do Novo Fies (Fundo de Financiamento Estudantil). Segundo ele, os Poderes deverão ser “harmoniosos sem submissão” e a retaliação dos que votaram pela saída de Temer é um tema que cabe apenas ao Planalto. Ele afirma que ficou mais difícil de o governo conseguir apoio por meio de cargos ou emendas parlamentares. “Agora é virar a página, quebrar o retrovisor e cuidar da agenda para o País.”

 

Articulação. Os ministros do governo Padilha e Imbassahy

 

‘Página’

“Agora é virar a página, quebrar o retrovisor e cuidar da agenda importante para o País.”

Efraim Filho

LÍDER DO DEM

 

 

 

 

Cabral será transferido para prisão federal de Campo Grande

Por uma questão de segurança, no entanto, não foi divulgada a data em que o ex-governador deixará cadeia no Rio
Por: julia Affonso / Fausto Macedo

 

O ex-governador do Rio Sérgio Cabral (PMDB) será transferido para a Penitenciária de Campo Grande, em Mato Grosso do Sul. A data da remoção não foi informada pelo Departamento Penitenciário, vinculado ao Ministério da Justiça, por questões de segurança.

A decisão de mandar o ex-governador para um presídio federal foi tomada pelo juiz federal Marcelo Bretas, da 7.ª Vara Federal, do Rio, na segunda-feira passada, após pedido do Ministério Público Federal.

A ordem foi mantida pelo desembargador Abel Gomes, do Tribunal Regional Federal da 2.ª Região (TRF-2), na terça-feira, em habeas corpus da defesa do peemedebista.

Na segunda-feira passada, durante uma audiência em ação penal na qual é réu por lavagem de dinheiro por meio da compra de joias para ele e para a mulher, Adriana Ancelmo, o ex-governador discutiu com Bretas, que já o condenou a 58 anos de prisão – outros 14 anos, somando 72 anos de pena no total, foram aplicados a Cabral pelo juiz Sérgio Moro, de Curitiba.

 

‘Ameaça’. Na audiência, Cabral, além de afirmar que era “injustiçado” e que Bretas tentava se “promover” com o caso dele, disse que tinha informações sobre atividades da família do magistrado do Rio como vendedora de bijuterias. Bretas sentiu-se ameaçado.

“É no mínimo suspeito e inusitado o acusado, que não só responde a esta processo como outros, venha aqui trazer em juízo informações sobre a rotina da família do magistrado. Além de causar espécie, como bem observou o Ministério Público Federal, de que apesar de toda a rigidez ele tenha se privilegiado de informações que talvez ele não devesse”, disse Bretas durante a audiência.

Preso desde 17 de novembro de 2016, Cabral ocupa atualmente uma cela na Cadeia Pública José Frederico Marques, em Benfica, na zona norte do Rio.

A defesa do ex-governador considerou arbitrária a decisão de transferência. “Não teve uma ameaça”, afirmou o advogado Rodrigo Roca. / JULIA AFFONSO e FAUSTO MACEDO