O Estado de São Paulo, n. 45300, 27/10/2017. Política, p.A9

 

 

 

 

 

 

Preso, Alves tentou transferir bens, diz PF

Segundo investigações, ex-ministro do Turismo simulou a venda de patrimônio; ex-assessores do peemedebista são presos durante operação

Por: Julia Affonso / Ricardo Araújo

 

Julia Affonso

Ricardo Araújo

ESPECIAL PARA O ESTADO / NATAL

 

O ex-ministro Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) articulou, de dentro da cadeia, a transferência de seu patrimônio, afirmou a Polícia Federal, que deflagrou ontem a Operação Lavat. Ex-titular do Turismo nos governos Dilma Rousseff e Michel Temer, Alves está preso desde 6 de junho na Operação Manus, da qual a Lavat é um desdobramento.

A ação da PF começou com a apuração sobre os recursos oriundos da campanha de 2014 do ex-ministro. Ontem, a Lavat fez buscas no Ministério do Turismo e deu continuidade à investigação em busca de provas “da forma como o dinheiro ilícito veio, entrou na campanha e foi distribuído para fins de compra de apoio político”.

Para o delegado Osvaldo Scalezi Júnior, Alves, durante o processo, não queria demonstrar que tinha um grande patrimônio. “Depois da deflagração da Operação Manus, o ex-deputado federal passou a manter duas condutas mesmo preso”, informou Scalezi. Segundo o delegado, em uma dessas condutas Alves articulou com seus assessores a ocultação de seus bens, simulando venda de patrimônio para pessoas próximas ou ligadas a ele. “Ele (Alves) estava transferindo esse patrimônio, ou seja, um crime de lavagem de dinheiro.”

A Operação Lavat mobilizou 110 policiais federais para cumprir 27 mandados judiciais – 22 mandados de busca e apreensão, três de prisão temporária e dois de condução coercitiva em Natal e em outras quatro cidades do Rio Grande do Norte, além de Brasília.

 

Licitações. Outra frente da operação investiga ex-assessores de Alves, que foi presidente da Câmara e deputado por 11 mandatos. Segundo Scalezi, a investigação apura a “articulação” em prefeituras do Rio Grande do Norte “no sentido de direcionamento das licitações”.

De acordo com a investigação, houve uma diminuição da influência de Alves em Brasília desde sua prisão. “Entretanto, verificamos no decorrer desse lapso temporal, entre a deflagração, em junho, e nesse período, que ele continuava articulando localmente”, disse o delegado.

Foram presos três ex-assessores do peemedebista. A mulher e a filha do ex-ministro do Turismo foram alvo de mandados de busca e apreensão. Os policiais voltaram ao apartamento de Alves em uma área nobre da capital potiguar para coletar documentos e arquivos em mídia de posse da mulher dele, a jornalista Laurita Arruda Câmara.

Até a conclusão desta edição, a reportagem não conseguiu contato com a defesa do ex-ministro do Turismo.

 

Detido. Henrique Alves ao ser preso em Natal, em junho

 

‘Ocultação’

“( Henrique Alves) passou a manter duas condutas mesmo preso. A primeira era a forma que ele estava articulando com seus assessores diretos a ocultação de seus bens.”

Osvaldo Scalezi Júnior

 

 

 

 

Parlamentares de MT determinam que deputado deixe prisão

Acusado de obstrução da Justiça, Gilmar Fabris (PSD) é solto por decisão da Comissão de Ética da Assembleia do Estado
Por: Fátima Lessa

 

Fátima Lessa

ESPECIAL PARA O ESTADO / CUIABÁ

 

Após 40 dias preso preventivamente sob a acusação de obstrução das investigações da Operação Malebolge, da Polícia Federal, o deputado estadual de Mato Grosso e vice-presidente da Assembleia, Gilmar Fabris (PSD), deixou ontem o Centro de Custodia de Cuiabá (CCC). A operação da PF investiga desvio de dinheiro público e lavagem de dinheiro. Fabris nega.

A revogação da prisão do parlamentar ocorreu por decisão dos deputados que, contrariando determinação do desembargador Ney Bello, do Tribunal Regional Federal da 1.ª Região (TRF-1), votaram pela revogação da prisão e pela devolução do mandato. Fabris estava preso desde o dia 15 de setembro. Segundo a assessoria da Assembleia, o alvará de soltura foi enviado em forma de resolução.

A votação dos deputados na Assembleia teve como base a decisão do Senado que reconduziu Aécio Neves (PSDB-MG) ao mandato de senador, revogando decisão do Supremo Tribunal Federal.

A decisão dos parlamentares foi respaldada no artigo 53 da Constituição Federal e no artigo 29 da Constituição Estadual. A Comissão de Ética da Assembleia Legislativa de Mato Grosso emitiu parecer pela revoga- ção da prisão, das medidas cautelares, do afastamento do mandato e da comunicação com outros investigados ou testemunhas do deputado.

De acordo com o corregedor da Comissão de Ética da Assembleia Legislativa, deputado Saturnino Masson (PSDB), não cabe à comissão analisar os acertos da ordem do Supremo Tribunal Federal, mas compete à Casa parlamentar decidir pela manutenção ou não da prisão de um deputado.

 

Delação. Fabris foi citado pelo ex-governador Silval Barbosa (PMDB) em delação à Procuradoria-Geral da República como um dos que participavam do esquema de recebimento de propina com dinheiro desviado por meio do programa de pavimentação asfáltica MT Integrado e dos recursos desviados das obras da Copa 2014.

As imagens foram entregues à Procuradoria e veiculadas em emissoras de televisão em cadeia nacional. Ainda de acordo com a PF, ele repassou o conteúdo da pasta para dois advogados. A prisão a pedido da Polícia Federal havia sido determinada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal Luiz Fux.

O retorno às atividades parlamentares devem ocorrer na próxima terça-feira.