Valor econômico, v. 17, n. 4351, 29/09/2017. Política, p. A5.

 

 

Corrupção mantém presidente preso no fundo do poço

Raymundo Costa

29/09/2017

 

 

Num país com quase 14 milhões de desempregados, o noticiário sobre a falta de postos de trabalho perde feio para as malas com R$ 51 milhões do ex-ministro Geddel Vieira Lima na lembrança da população, segundo a mais nova rodada da pesquisa CNI-Ibope divulgada ontem. A popularidade do presidente Michel Temer sempre consegue encontrar um pouco mais de fundo no poço, mas não parece ser a crise econômica o principal motivo da erosão do prestígio do presidente, mas a corrupção renitente.

Às vésperas de o presidente enfrentar mais um julgamento político na Câmara, do qual outra vez deve escapar, no tribunal da opinião pública o veredicto é de culpado. O noticiário sobre a corrupção transpira por todos os poros do governo Temer. Quando o entrevistado não consegue citar um assunto específico como a Operação Lava-Jato (11%), as malas de Geddel (7%) ou os irmãos Batista (4%), a grande maioria (23%) aponta o dedo para "corrupção no governo".

As reformas trabalhista (já aprovada) e previdenciária (empacada no Congresso), ambas com 2%, não comovem tanto a população. Nem o aumento do preço da gasolina (1%), capaz de causar comoção em outros períodos, nem a crise financeira dos Estados (1%), dois assuntos que afetam diretamente o bolso do contribuinte. A corrupção é corrosiva para a imagem de um governo que sucedeu a outro igualmente marcado por denúncias de malfeitorias.

Só o lobby barulhento dos ambientalistas conseguiu enfiar uma cunha na atenção do eleitorado, uma vez que 5% da população estava atenta à mão grande do governo sobre as reservas de cobre da Amazônia.

A lição a ser tirada é que o governo Michel Temer não pode continuar com sua postura olímpica em relação à corrupção. O presidente, ao que tudo indica, sobreviverá ao novo julgamento da Câmara, mas se quiser passar para a história como um "presidente reformista" que foi capaz de entregar ao sucessor um governo pronto para a retomada do crescimento econômico, Temer terá também de dar demonstrações efetivas de apreço à boa causa pública, antes de sair.

Com a recuperação da economia, o compromisso sincero com o combate à corrupção é o que pode levar o presidente a sair pela porta da frente.