Valor econômico, v. 17, n. 4351, 29/09/2017. Política, p. A7.

 

 

Suspeitos de desvio de recursos, filhos de Jucá são alvos de operação da PF

André Guilherme Vieira, Murillo Camarotto e Fabio Murakawa

29/09/2017

 

 

Alvos de conduções coercitivas e ações de busca e apreensão realizadas ontem em Roraima e em Brasília, os filhos do líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RO), e da ex-mulher dele, Teresa Surita (PMDB), prefeita de Boa Vista, são suspeitos de desviar recursos públicos e integrar uma organização criminosa que movimentou R$ 3 bilhões em dois anos, de acordo com relatório de investigação da Polícia Federal (PF) que embasou os mandados autorizados pela Justiça Federal. Os investigados foram indiciados.

A Operação "Anel de Giges" identificou desvios de R$ 32 milhões na construção de empreendimento do Minha Casa, Minha Vida, que teria contado com a participação do superintendente da Caixa Econômica Federal em Roraima, Severino Ribas, segundo a PF. São apurados indícios de peculato (uso indevido de dinheiro público) e lavagem de dinheiro. Foram cumpridos 17 mandados judiciais em Brasília e Boa Vista. Foi feita a quebra dos sigilos bancário e fiscal.

Tiveram buscas e apreensão em seus endereços e foram conduzidos coercitivamente a depor na PF de Brasília os filhos de Jucá, Rodrigo de Holanda Menezes Jucá e Marina de Holanda Menezes Jucá, e os filhos de Teresa Surita, Luciana Surita da Motta Macedo e Ana Paula Surita Motta Macedo. O mandado de busca contra Luciana foi cumprido na casa da prefeita Teresa Surita, em Boa Vista. Marina e Ana Paula também foram levadas a depor na PF de Brasília. Seus endereços no Distrito Federal também foram vasculhados pelos investigadores.

O marido de uma das filhas da prefeita, Frederico Macedo, foi preso em flagrante em Boa Vista por porte ilegal de arma de uso restrito. Com ele a PF encontrou um fuzil com mira telescópica e uma pistola calibre 45, além de munição.

Segundo o advogado de Jucá, o criminalista Antônio Carlos de Almeida Castro, o senador não é alvo da investigação."Essa operação é contra os familiares do Jucá. O meu escritório apenas acompanhou a condução coercitiva da filha da prefeita", disse.

Também são investigados Hamilton José Pereira, Elmo Teodoro Ribeiro e Francisco José de Moura Filho, ligados à empresa CMT, que teria sido usada para lavagem de recursos, de acordo com a PF.

Ao chegar para uma reunião na presidência do Senado, ontem, Jucá partiu para o ataque contra a juíza federal que autorizou os mandados de busca e condução dos filhos dele, Ana Emília Aires, da 4ª Vara Criminal Federal de Boa Vista.

"Ninguém vai me intimidar (...) isso é ação de uma juíza de Roraima que está acionada no Conselho Nacional de Justiça. Portanto, é uma retaliação", afirmou.

Em nota, Jucá classificou a operação da PF como "mais um espalhafatoso capítulo de um desmando que se desenrola nos últimos anos".

No comunicado, o senador disse que ele a família não temem as investigações. "Investigações contra mim já duram mais de 14 anos e não exibiram sequer uma franja de prova. Todos os meus sigilos, bancário, fiscal e contábil já foram quebrados e nenhuma prova. Só conjecturas".

Na nota, Jucá chamou a investigação da PF de "agressão". "Recebo essa agressão a mim e à minha família como uma retaliação de uma juíza federal, que, por abuso de autoridade, já responde a processo no Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Tornarei público todos os documentos que demonstrarão a inépcia da operação de [ontem] hoje." afirmou. A operação foi inspirada em "A República", de Platão. Na obra, quem usa o Anel de Giges fica invisível e comete crimes impunemente.