Valor econômico, v. 17, n. 4354, 04/10/2017. Política, p. A6.

 

 

Temer reforça articulação às vésperas de votação

Andrea Jubé e Bruno Peres

04/10/2017

 

 

O presidente Michel Temer intensificou ontem o corpo a corpo com deputados a poucos dias do início da votação da segunda denúncia da Procuradoria-Geral da República na Câmara. Temer recebeu cerca de 60 deputados, mais de 10% da composição da Casa, a cerca de duas semanas da provável votação sobre o prosseguimento da acusação em plenário. O presidente foi às redes sociais justificar a articulação, alegando que "diálogo" é fundamental e que será preciso lidar com mais uma "denúncia inepta".

Hoje o presidente espera receber de seu advogado, o criminalista Eduardo Carnelós, o texto relativo à sua defesa na Câmara. O Planalto definiu que a melhor estratégia é realmente acelerar a votação da denúncia, que imputa ao presidente os crimes de obstrução à Justiça e organização criminosa, para que o assunto esteja encerrado até o final do mês. O governo ainda acredita que em novembro, superado o ambiente de crise com a provável suspensão da denúncia, haja "clima" para votar a reforma da Previdência.

Pelo calendário traçado pelo Planalto, Temer e os ministros Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Secretaria Geral da Presidência) encaminham suas defesas à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) até amanhã. O presidente da CCJ, Rodrigo Pacheco (PMDB-MG), já afirmou que pretende pautar a matéria na semana seguinte ao feriado de 12 de outubro. Por fim, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), declarou que o tema pode ser levado ao plenário a partir de 23 de outubro.

Temer começou a agenda ontem às 10 horas, em audiência com o relator da reforma trabalhista, deputado Rogério Marinho (PSDB-RN), e terminou após as 22 horas, com o deputado Fausto Pinato (PP-SP). Numa das reuniões, com deputados do PMDB do Mato Grosso, recebeu o prefeito de Cuiabá, Emanuel Pinheiro, que aparece em um vídeo recebendo dinheiro vivo na época em que foi deputado estadual. O material consta da delação premiada do ex-governador do Estado Silval Barbosa (PMDB), homologada pelo Supremo Tribunal Federal.

O Planalto tem sido implacável com os deputados da base que votaram contra Temer na primeira denúncia. Um alvo recente foi o deputado Ronaldo Martins, do PRB do Ceará, que perdeu uma diretoria do Departamento Nacional de Obras contra a Seca (Dnocs) para o DEM. Dos 23 deputados do PRB - que controla do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (Mdic), - Martins foi um dos sete que votou favoravelmente à acusação.

Uma liderança da base governista disse ao Valor que existe uma "insatisfação" represada entre os deputados da base, devido a promessas feitas na articulação pela suspensão da primeira denúncia, relativas à liberação de emendas parlamentares, que até hoje não se concretizaram. O governo contava com uma fatia do descontingenciamento de recursos anunciado pelo Ministério do Planejamento, de R$ 12,8 bilhões, para a execução de emendas congeladas nos ministérios que os deputados destinam às bases eleitorais.

Há descontentamento também com a promessa de nomeação para postos do governo federal. O Podemos - sigla do pré-candidato à Presidência, senador Álvaro Dias (PR), - indicou o presidente da Fundação Nacional de Saúde (Funasa), um dos cargos mais cobiçados da administração federal. Agora aguarda a nomeação de indicados para mais duas diretorias do órgão, vinculado ao Ministério da Saúde. A bancada rachou, mas garantiu nove dos 14 votos contra a denúncia.

"Tenho o dia cheio de reuniões com parlamentares. O diálogo é fundamental para a harmonia entres os poderes", publicou Temer ontem no Twitter. "Precisamos lidar com mais uma denúncia inepta e sem sentido, proposta por uma associação criminosa que quis parar o País. O Brasil não será pautado pela irresponsabilidade e falta de compromisso de alguém que se perdeu pelas próprias ambições", afirmou, sem citar o nome dos delatores, hoje presos: os executivos da JBS, Joesley Batista e Ricardo Saud.