Valor econômico, v. 17, n. 4354, 04/10/2017. Empresas, p. B1.

 

 

Oi joga conta da 'salvação' a Temer

Daniel Rittner, Alex Ribeiro e Bruno Peres

04/10/2017

 

 

O empresário Nelson Tanure e três representantes do conselho de administração da Oi deixaram claro ao presidente Michel Temer, em encontro no Palácio do Planalto, que a posição de órgãos públicos na assembleia de credores marcada para o dia 23 de outubro vai ser crucial na definição sobre o futuro da empresa.

O relato sobre a delicada situação financeira da operadora foi entendido por assessores presidenciais como uma forma de envolver diretamente Temer e a cúpula do governo em sua tentativa de salvação. Tanure e os conselheiros da Oi foram ao Planalto acompanhados de três parlamentares - os deputados Baleia Rossi (SP), líder do PMDB na Câmara, Simone Morgado (PMDB-PA) e Tenente Lúcio (PSB-MG).

Tanure não constava da agenda inicialmente divulgada pelo Palácio do Planalto. Ele saiu pela garagem, sem dar entrevistas, mas o governo confirmou sua presença. Estavam no encontro também os conselheiros da operadora Hélio Costa, José Mauro Mettrau (presidente do colegiado) e Luís Palha (da Pharol).

Na saída da reunião, Costa negou que tenha havido um pedido específico a Temer sobre o posicionamento dos credores oficiais na assembleia do dia 23. Ele fez questão de ressaltar, no entanto, que os bancos públicos vão receber "tratamento privilegiadíssimo" na renegociação de dívidas.

Segundo ele, a Oi não quer "nem um real" do governo, mas seria importante o "entendimento" da situação pelas instituições financeiras sob controle da União - BNDES, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal. Costa, que foi ministro das Comunicações na gestão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, também classificou como "impossível" o cumprimento de termos de ajustamento de conduta (TACs) que convertem multas aplicadas pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) em investimentos com execução em quatro anos.

Para ele, esse prazo não é factível e precisa ser ampliado para algo entre 10 e 12 anos. A agência foi alvo de uma crítica de Costa por ter mencionado, em nota, um suposto conflito entre conselheiros da Oi e sua diretoria em torno do plano que será apresentado aos credores. "O conselho não tem que estar permanentemente de acordo com a diretoria-executiva. Às vezes, há discordância", justificou. O ex-ministro logo emendou: "Vão ter que nos explicar qual conflito é esse".

Fontes envolvidas nas negociações veem na postura de Tanure e conselheiros ligados a ele como uma tentativa de angariar apoio dos bancos públicos. Se isso ocorrer, ele teria muito mais facilidade em um acordo também com os bancos privados e aumentaria as chances de sucesso na assembleia de credores. Para essas fontes, porém, o desconto na dívida buscado pela Oi é alto demais e teria um objetivo no fim do caminho: a venda da companhia e a realização de grandes lucros por seus atuais controladores.

Nenhum representante do governo quis se pronunciar.

Na audiência com Temer, os representantes da Oi mostraram a importância da tele para os serviços do mercado brasileiro de telecomunicações e lembraram ao presidente que a operadora ainda é a "quarta ou quinta" maior contribuinte do país com tributos e taxas setoriais. "A Oi está em recuperação judicial, mas tem mantido e até melhorado seus indicadores econômicos e operacionais", comentou Mettrau, após a reunião no Planalto.

O presidente do conselho da Oi disse que a proposta da operadora não agradará a todos os credores. "É impossível satisfazer a todos. Se todo mundo estiver um pouquinho chateado, é por aí", afirmou, ressaltando que todo processo de recuperação envolve perdas.

Auxiliares de Temer têm flertado com a hipótese de intervenção na Oi e já chegaram à conclusão de que não é preciso editar uma medida provisória para fazer esse movimento. Por um lado, avalia-se no governo que a decisão de intervir não pode ficar para muito tarde. Uma eventual reprovação do plano levaria à falência da companhia. Por outro lado, essa atitude radical poderia criar passivos para a União e o risco de indenizações futuras aos atuais controladores.

Ontem, o presidente da assessoria financeira G5 Evercore, Corrado Varoli, afirmou em nota que é "impensável" e "sem precedentes" que a Oi tenha se recusado a se envolver em discussões com credores relevantes como os que ele representa, em conjunto com a Moelis & Co. "A administração se recusa a se envolver em qualquer tipo de discussão, como seria esperado caso a companhia realmente estivesse tentando resolver seus problemas", afirmou.