Título: Fôlego para a Grécia
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Fonte: Correio Braziliense, 16/03/2012, Economia, p. 13

Fundo Monetário aprova crédito de 28 bilhões de euros para o comprometido país europeu, após Atenas conseguir renegociar mais de 100 bilhões de euros em dívida soberana

Washington — Após reestruturar sua dívida junto aos credores privados, a Grécia conquistou ontem um novo plano de assistência do Fundo Monetário Internacional (FMI). O resgate é de 28 bilhões de euros (cerca de R$ 65 bilhões). As autoridades gregas podem fazer a primeira retirada, de 1,65 bilhão de euros, imediatamente. Apesar da resistência de alguns membros do Fundo, a ajuda já era esperada. Mas o montante superou as expectativas.

Depois de manter o silêncio sobre as cifras durante semanas, até que a União Europeia e Atenas completassem, na semana passada, o perdão da dívida soberana de 107 bilhões de euros, a diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde, avalizou o novo crédito. O empréstimo facilitado, denominado Serviço de Financiamento Ampliado (EFF, na sigla em inglês), é utilizado para ajudar países membros que sofrem de problemas estruturais de longa duração. Na quarta-feira, o FMI disse que estenderá a duração máxima dos EFFs de três para quatro anos.

Do crédito passado de 30 bilhões de euros concedido à Grécia, o FMI já tinha desembolsado 20,3 bilhões. A sobra foi cancelada e incluída no novo programa anunciado ontem. Os 20,3 bilhões de euros que Atenas recebeu deverão ser reembolsados entre 2013 e 2015.

A decisão do Fundo acontece após vários meses de longas negociações em paralelo, que permitiram o plano de ajuda europeu ao país e a reestruturação da dívida em mãos privadas. A Grécia tem sido frequentemente comparada pela imprensa à Argentina, que em 2001 declarou default, mesmo tendo recebido linhas de crédito do Fundo nos anos anteriores à moratória.

O FMI garante ter aprendido as lições desse episódio, assim como do fracasso de seu primeiro crédito à Grécia. O setor financeiro, no entanto, permanece cético e interpreta o novo crédito como um sinal de que o FMI e a comunidade internacional verão a Europa fazer mais por seu sócio grego.

Não há espaço para deslizes no pacote de resgate da economia da Grécia, e falhas na implementação das políticas acertadas podem desencadear uma “dívida dinâmica insustentável”, alertou ontem o chefe da missão do FMI em Atenas, Poul Thomsen.

O maior risco para a implementação do novo programa do FMI com a União Europeia (UE) para a Grécia é que o país atrase reformas econômicas necessárias para suprir grandes lacunas de competitividade, afirmou o dirigente em audioconferência com repórteres.

“Para seguirmos com a recuperação, precisamos obter um forte impulso das reformas de estímulo à produtividade e a falta de lançamentos dessas reformas poderia, inclusive, significar que a economia da Grécia manteria tendência de queda”, acrescentou Thomsen.

Desemprego recorde A taxa de desemprego da Grécia subiu para 20,7% nos últimos três meses de 2011, um novo recorde trimestral. O resultado aumenta o mal-estar no país, obrigado a adotar severas medidas de austeridade, condição para ter acesso à ajuda internacional. Dados da agência de estatísticas ELSTAT mostraram que o ritmo do desemprego é rápido. No terceiro trimestre, o índice foi de 17,7%; no anterior, de 14,2%. Ontem, a agência de classificação de risco Standard & Poor’s (S&P) informou que manterá o rating de crédito externo soberano de longo prazo da Grécia em “default seletivo” até a conclusão da troca de títulos sob jurisdição da lei internacional.

-------------------------------------------------------------------------------- adicionada no sistema em: 16/03/2012 10:50