Correio braziliense, n. 19928, 14/12/2017. Política, p. 4

 

Mercado financeiro reage mal a "acordo"

Antonio Temóteo e Rosana Hessel 

14/12/2017

 

 

PREVIDÊNCIA » Índice das principais ações da B3 fecha em baixa de 1,22% após líder do governo no Senado afirmar que a que a reforma do sistema previdenciário deve ficar para 2018

A afirmação do líder do governo do Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), de que a votação da reforma da Previdência deve ficar para fevereiro do próximo ano, foi mal recebida no mercado financeiro. A insatisfação com o anúncio, feito no meio da tarde, inverteu a trajetória de alta da Bolsa de Valores de São Paulo (B3) e levou o pregão a fechar em queda de 1,22%, com o Ibovespa, principal indicador dos negócios, recuando para 72.914 pontos. Apesar de o dólar ter terminado o dia em baixa de 0,54%, negociado a R$ 3,309 para venda, os contratos futuros da divisa estrangeira subiram após o comunicado de Jucá.

Às 17h30, os contratos de dólar para janeiro subiam 0,45%, a R$ 3,327. A tendência é de que o mercado continue mostrando volatilidade hoje. Apesar do resultado negativo de ontem na bolsa, analistas avaliam que o preço dos ativos já reflete em grande parte as apostas de que a votação da reforma previdenciária ficará para o próximo ano, ou até mesmo para 2019.

O economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale, disse que, desde o início da crise política, em maio, não acreditava que o governo conseguiria aprovar a reforma da Previdência neste ano. “Acho que isso apenas confirma que o Executivo não tem mais força para aprovar temas tão polêmicos, por mais necessários que sejam. De qualquer maneira, não vejo problema, pois não será possível passar 2019 sem que a reforma seja feita”, disse.

Segundo Vale, o tema deve ser debatido de maneira mais ampla pelo próximo presidente. “Quem for eleito vai ter que fazer a reforma de qualquer maneira, não existe alternativa. Creio que o governo atual seguirá nessa toada de ir postergando mês a mês, dizendo que não tem quórum, até de fato não ser mais possível”, disse. Para Vale, o Planalto está perdendo tempo por não discutir a reforma tributária. “É uma reforma igualmente relevante para a economia e não tem rejeição dos congressistas, como a da Previdência”, afirmou.

Na opinião de Vale, as mudanças nas regras de aposentadoria são fundamentais para reequilibrar as contas públicas e para que o país volte a crescer de maneira sustentável. Sem isso, avalia, a economia voltará para a trajetória de recessão e inflação alta. “As consequências de não aprovar agora a reforma previdenciária serão temporárias, sendo muito mais grave se, de fato, ela não passar em 2019. As agências de classificação de risco certamente diminuirão a nota do Brasil, o que será um ótimo sinal para Brasília perceber para onde estamos caminhando se a reforma não for aprovada até 2019”, alertou.

Pressões

O adiamento da votação da reforma da Previdência não deve influenciar significativamente os preços dos ativos, avaliou o economista-chefe do Banco Fibra, Cristiano Oliveira. Para ele, parte do mercado está desinformada ou não tem acompanho o noticiário que já indicava que a proposta não seria votada ainda em 2017. “Surpreende-me que parte relevante do mercado esteja mal informada. A tendência é que o texto seja votado depois das eleições. Em fevereiro, teremos carnaval e, em seguida, o debate eleitoral se intensificará. O governo Temer pode ser bem sucedido em votar o tema depois das eleições”, comentou.

Para Oliveira, a mudança também não deve influenciar a decisão do Banco Central (BC) de reduzir  novamente os juros na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), marcada para 6 e 7 de fevereiro. O BC sinalizou, após o último encontro, na semana passada, que pode cortar a taxa Selic em 0,25 ponto percentual e levá-la a 6,75% ao ano. “Quando BC se refere às reformas, está levado em conta os juros estruturais, por quanto tempo os juros podem ficar baixos. É uma decisão de longo prazo e não deve interferir no debate que ocorrerá daqui a 45 dias”, disse.