Correio braziliense, n. 19928, 14/12/2017. Política, p. 6

 

Buscas em gabinetes da Câmara

Renato Souza 

14/12/2017

 

 

CONGRESSO » Dois deputados de Tocantins são investigados por desvio de dinheiro público de obras de terraplanagem e pavimentação asfáltica

Equipes da Polícia Federal realizaram buscas nos gabinetes dos deputados Carlos Henrique Gaguim (Pode-TO) e Dulce Miranda (PMDB-TO), na manhã de ontem, na Câmara. Os parlamentares são investigados na Operação Ápia, que apura desvios de recursos públicos em obras de terraplanagem e pavimentação asfáltica em Tocantins. De acordo com a PF, um esquema de corrupção foi montado para direcionar contratos e desviar a verba destinada para os projetos de infraestrutura no estado. Os recursos que estão sob suspeita chegam a R$ 850 milhões.

Por volta das 7h30, policiais chegaram à Câmara e recolheram computadores e documentos. Mandados de buscas também foram cumpridos em apartamentos funcionais dos deputados investigados. No Tocantins, as equipes foram a endereços ligados a Gaguim e Dulce. A casa do governador do estado também foi alvo de diligências. Esta é a 6ª fase da operação, que é considerada a maior ação policial da história de Tocantins. Foram cumpridos 16 mandados de busca e apreensão e 8 intimações foram entregues.

De acordo com a PF, o governo de Tocantins captou R$ 1,2 bilhão em empréstimos para financiar obras públicas. Os recursos foram adquiridos em bancos internacionais e no Banco do Brasil, no qual o governo federal participou como avalista. Carlos Gaguim foi citado como integrante do esquema pela empresária Rossine Aires, durante acordo de delação premiada com a Justiça.

Eleita com 75 mil votos, um número recorde no estado, Dulce é mulher do atual governador de Tocantins, Marcelo Miranda (PMDB). Ela é acusada, assim como Gaguim, de integrar o núcleo político do esquema criminoso. As ações da operação foram solicitadas pela Procuradoria-Geral da República, e autorizadas pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Os envolvidos no núcleo político são acusados de corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

Empréstimos

De acordo com o MPF, os políticos teriam recebido propina repassada pela Construtora Rio Tocantins (CRT), que é a executora dos contratos investigados. Em contrapartida, eles garantiam as contratações e o recebimento de verbas públicas, repassadas ilegalmente para o grupo empresarial. A reportagem tentou entrar em contato com representantes da empresa. No entanto, todos os telefones estavam desligados.

Nas fases anteriores da operação, os ex-governadores Sandoval Cardoso (SD) e Siqueira Campos foram investigados. Sandoval chegou a ficar preso por 15 dias na Casa de Prisão Provisória de Palmas. A dupla é acusada pelo Ministério Público de utilizar contatos no Banco do Brasil para mediar empréstimos realizados em outros países. O BB servia como uma ferramenta para facilitar a liberação de recursos no exterior.

Em nota, o deputado Carlos Henrique Gaguim afirmou que “refuta as acusações infundadas” e diz “que não recebeu qualquer tipo de repasses ilegais por parte dos delatores da operação”. O político afirmou ainda que as “acusações não têm provas e têm como único objetivo manchar a sua imagem e conceder benefícios para delatores”.

A deputada Dulce Miranda lembrou que este é o primeiro mandato dela e afirmou que “respeita o trabalho do poder Judiciário e da Polícia, entretanto, desconhece o teor do processo e da investigação”. O depoimento de Dulce foi agendado pela PF. A parlamentar afirma que vai comparecer para prestar esclarecimentos sempre que for convocada.

A investigação

Na 6ª fase da Operação Ápia, os alvos foram os deputados Carlos Henrique Gaguim (Pode-TO) e Dulce Miranda (PMDB-TO). Eles são acusados de integrarem o núcleo político de um esquema de corrupção em Tocantins

A operação é considerada a maior ação policial da história de Tocantins. Os investigadores apontam que recursos foram desviados de obras públicas

De acordo com a PF, os contratos investigados nesta fase movimentaram R$ 850 milhões. Foram realizadas buscas na Câmara e em apartamentos funcionais dos parlamentares

O governo estadual pegou R$ 1,2 bilhão em empréstimos internacionais para financiar as obras cujos contratos são investigados. A União agiu como avalista em uma dívida adquirida junto ao Banco do Brasil.