Valor econômico, v. 17, n. 4356, 06/10/2017. Política, p. A15.

 

 

PSC cede vaga na CCJ a tucano para mantê-lo na relatoria de denúncia

Marcelo Ribeiro e Raphael Di Cunto

06/10/2017

 

 

O PSC indicou ontem o deputado Bonifácio Andrada (PSDB-MG) para uma de suas vagas na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara, depois que o PSDB destituiu o parlamentar da vaga de suplente no colegiado. A manobra foi feita para permitir que Andrada permanecesse como relator da denúncia contra o presidente Michel Temer pelos crimes de organização criminosa e obstrução de Justiça. Na quarta-feira à tarde, antes de o PSDB decidir pela destituição, o líder do governo no Congresso, deputado André Moura (PSC-SE), fez chegar aos ouvidos de Bonifácio a possibilidade de ele ocupar uma das vagas do seu partido na comissão.

"Estou prestando um serviço [à CCJ]. Não reivindiquei esse posto. O partido [PSDB] encaminha como quiser. Em política não há respeito, nem desrespeito. É uma coisa complexa. Ora tem elogio, ora tem crítica", afirmou Andrada, ao ser questionado se encarou como desrespeito a decisão do PSDB de destitui-lo da comissão. Ele negou que tenha se sentido traído em algum momento pela legenda.

O relator da denúncia também evitou fazer críticas ao líder do PSDB na Câmara, Ricardo Tripoli (SP), que, em mais de uma oportunidade, pediu que ele se licenciasse do partido para continuar na relatoria. Tripoli é tido como o responsável pela palavra final sobre a destituição. Para Andrada, a decisão das lideranças tucanas foi um "ato político".

Ao Valor, o presidente da CCJ, deputado Rodrigo Pacheco (PMDB-MG) foi econômico ao comentar a decisão do PSDB de destituir o relator da denúncia. "Lamento, mas respeito".

De acordo com Andrada, a atuação de Pacheco foi determinante na articulação para garantir que ele fosse abrigado em outro partido para continuar na relatoria. "O problema [insatisfação do PSDB com ele na relatoria] foi levado ao presidente da CCJ, ele se articulou e, em seguida, me ofereceu a vaga do PSC".

Antes de Andrada ser anunciado na vaga do PSC, ao ser questionado se atuaria para ajudar o tucano a encontrar uma legenda que o abrigasse e garantisse sua permanência na relatoria, o presidente da CCJ disse que essa atribuição não fazia parte de sua função.

O anúncio da destituição de Andrada da vaga do PSDB na CCJ foi feito no fim da tarde de ontem, após reunião de mais de uma hora entre o relator, o líder na Câmara, o líder do PSDB no Senado, Paulo Bauer (SC), e o presidente do partido, senador Tasso Jereissati (CE). Tripoli foi o primeiro a falar à imprensa sobre o tema. "Faremos o desligamento do deputado, num combinado com o presidente da. CCJ, para que ele seja indicado por outro partido", disse o tucano.

Ainda ontem, a CCJ fez uma estimativa de que a leitura do parecer de Bonifácio Andrada ocorrerá na terça-feira, dia 10, a partir das 10h. Ao ser indagado sobre quando entregará o relatório sobre a denúncia contra Temer e os ministros Eliseu Padilha e Moreira Franco, o tucano disse que será "entre terça-feira e a manhã de quarta-feira".

O presidente da CCJ pediu ao relator que entregasse o parecer até esta data, para evitar estourar o prazo de cinco sessões de plenário até a votação do relatório pela comissão. A primeira ocorreu ontem. Andrada, porém, disse que tinha muitos documentos a ler e ainda não informou se obedecerá o prazo.

Após a leitura do parecer, será concedida a palavra aos três advogados de defesa - além de Temer, os ministros da Casa Civil, Eliseu Padilha, e da Secretaria-Geral da Presidência, Moreira Franco, são alvos da denúncia - e começará a discussão do parecer. A previsão é que o grande número de discursos, que pode passar de 100, só termine depois do feriado de 12 de outubro.