O globo, n.30831 , 04/01/2018. PAÍS, p.3

A VOLTA DO HOMEM-BOMBA

LETICIA FERNANDES

CRISTIANE JUNGBLUT

GABRIELA VALENTE

 
 

 

 

 Surpreendido pelo pedido de demissão de dois ministros em uma semana, o presidente Michel Temer começou o ano obrigado a fazer trocas no seu time, antecipando parte da reforma ministerial que continuará até abril. Ontem foi a vez de Marcos Pereira (PRB), que comandava o Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC), deixar a Esplanada. A saída dos ministros resultou na indicação da deputada Cristiane Brasil (PTB-RJ) para comandar o Ministério do Trabalho, 12 anos depois de o seu pai, o ex-deputado e presidente do PTB, Roberto Jefferson, sacudir Brasília ao denunciar o mensalão. Cristiane substitui Ronaldo Nogueira, que saiu em 27 de dezembro. A decisão de Temer simboliza o retorno do deputado e ex-presidiário ao comando direto da máquina pública. Jefferson foi condenado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro pelo Supremo Tribunal Federal (STF) pelo recebimento de R$ 4 milhões. O pagamento fez parte do acordo para a venda do apoio do PTB ao governo Lula, segundo entendeu a Corte. Emocionado, Jefferson confirmou o nome da filha após conversar com Temer no Palácio do Jaburu e disse que a indicação não teria partido dele, e sim “da cabeça do Temer”. Ele também disse que Cristiane não será candidata nas eleições de 2018 e deverá ficar na pasta até o fim do governo. Jefferson confirmou que quer ser candidato a deputado federal por São Paulo. — É um orgulho, uma emoção que me dá. É um resgate (ao nome da família) — disse Jefferson, que, em março de 2016, recebeu indulto (perdão) do STF. A nova ministra afirmou ontem que se sente “empoderada” com a escolha. Cristiane ressaltou que mulheres sofrem dificuldades na política e destacou que, por isso, será um “grande prestígio” assumir o cargo: — Meu pai, com certeza, está muito emocionado. É um cargo de grande prestígio. Sinto-me empoderada. No lugar de Cristiane, assumirá como suplente Nelem son Nahim (PSD-RJ), irmão do ex-governador do Rio Antohony Garotinho. Assim como o irmão, Nahim já esteve preso, mas sob acusação de participar de rede de exploração sexual. Ele nega e foi solto por decisão do STF.

Até abril, prazo máximo para ministros que queiram se candidatar em 2018 deixem os cargos, pelo menos outros 13 ministros devem deixar a Esplanada. Não há ainda uma definição ou ordem do governo sobre o momento em que essas baixas devam ocorrer. Interlocutores de Temer dizem que as trocas acontecerão de forma gradual e que a reforma não deve ser acelerada em função das perdas recentes.

— A saída dos ministros não será antecipada, se dará naturalmente até abril — disse ao GLOBO o ministro Moreira Franco, da Secretaria-Geral.

Demissionário de ontem, Marcos Pereira alegou que sai para cuidar de sua eleição e das candidaturas de seu partido, o PRB, que presidiu até chegar à Esplanada. Apesar de deixar o cargo reiterando apoio ao governo e às reformas, especial a da Previdência, o Planalto não confirmou que a pasta ficará com a legenda.

Em outubro, Pereira apareceu em conversa gravada pelo empresário Joesley Batista, hoje preso, que fala com o ex-ministro sobre um suposto “saldo” e indica que seria propina. À época, Pereira classificou as gravações como ilícitas e disse que provaria sua inocência.

Não só Temer, mas a equipe do MDIC também foi pega de surpresa com a demissão do ministro. Segundo o relato que Pereira fez à equipe, o ministro teria colocado o nome do secretário-executivo, Marcos Jorge de Lima, à disposição para permanecer interinamente à frente da pasta. No entanto, nem Lima estava preparado para a mudança porque estava de recesso, com a família em Roraima. Acabou convocado às pressas para assumir o posto.

Lima também é filiado ao PRB e será candidato. Por isso, deve permanecer no máximo até o fim do primeiro trimestre à frente da pasta. Pereira disse a interlocutores que ofereceu a Temer nomes do PRB para assumir o posto.