Correio braziliense, n. 19921, 07/12/2017. Política, p. 2

 

Números para vencer a rejeição dos deputados

Paulo de Tarso Lyra, Rodolfo Costa e Alessandra Azevedo 

07/12/2017

 

 

PREVIDÊNCIA » Governo aposta em duas pesquisas para convencer os parlamentares a votarem positivamente e ainda este ano a reforma: uma mostra a crescente aprovação das mudanças por parte da população; a outra fala dos resultados eleitorais depois das alterações de 1998

O governo expôs abertamente aos aliados que o momento de aprovar a reforma da Previdência é agora. Dois levantamentos serão apresentados para vencer a resistência dos deputados. O primeiro, uma pesquisa encomendada pela Secretaria de Comunicação da Presidência (Secom), mostrando que a rejeição dos brasileiros à reforma, após a veiculação das propagandas mostrando que as mudanças visam acabar com privilégios, caiu de 46% para 30%. E a aprovação subiu de 18% para 26%.

O discurso ensaiado para convencer os deputados é de um avanço surpreendente. O governo sempre propagou a ideia de que a reforma já estaria aprovada se as denúncias do ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot não tivessem sido apresentadas. A história, porém, não é tão simples. As gravações de Joesley Batista vazaram em 17 de maio. Um mês antes, 61% dos entrevistados pela Secretaria de Comunicação eram contrários às mudanças nas regras de aposentadoria e apenas 14% defendiam as alterações.

Em novembro, esse hiato havia caído de 46% para 18%, mas os parlamentares aliados já haviam alertado o Planalto de que era preciso mudar a estratégia de comunicação em relação à reforma. Foi então que surgiu a propaganda, que passou a ser veiculada com o mote de combater aqueles que “ganham muito, trabalham pouco e se aposentam cedo”. A publicidade chegou a ser suspensa, mas acabou retomada na semana passada. Hoje, o governo se anima com o empate técnico.

Ministros que trabalham diretamente na articulação para aprovar a reforma também fizeram chegar aos parlamentares outro levantamento, feito pelo consultor legislativo do Senado Federal Pedro Fernando Nery, mostrando que 69% dos senadores que votaram a primeira reforma da Previdência, apresentada em 1998 pelo presidente Fernando Henrique Cardoso, se reelegeram para um novo mandato em 1999. E apenas 50% dos que votaram contra voltaram ao Congresso no ano seguinte.

Em outro ponto da reforma aprovada em 1998 e também considerado impopular — o estabelecimento de uma idade mínima para aposentadoria por tempo de serviço no regime geral da Previdência —, os efeitos deletérios dos votos positivos foram ainda menores: 72% dos parlamentares que apoiaram o governo conseguiram a reeleição e apenas 50% dos que eram contra a reforma tiveram êxito nas urnas.

Café com dados

Esses dados serviram para embasar o discurso feito ontem pelo presidente Michel Temer durante café da manhã com líderes aliados no Palácio da Alvorada. Embora ninguém tenha puxado explicitamente o assunto, o chefe do Executivo sabe que, temendo o desgaste, muitos parlamentares afirmam que seria mais fácil aprovar a reforma se o assunto fosse colocado em pauta após as eleições de outubro do ano que vem.

Para Temer, esse discurso não pode ser adotado. Ele defendeu que, quanto antes a reforma for aprovada, mas rápido virão os efeitos positivos na economia e, consequentemente, o desgaste em votar a favor da reforma acabaria diluído. “Se não votarmos, esse assunto inevitavelmente estará no debate eleitoral e vocês serão cobrados da mesma maneira pelos eleitores”, disse o presidente, segundo relato de um dos presentes.

Temer reuniu novamente os parlamentares e presidentes de partidos para um jantar ontem, no Alvorada. O dia foi de fechamentos de questão. PMDB e PTB decidiram pelo voto unido a favor da Reforma. O líder do PP na Câmara, Artur Lira (AL), disse que o partido não agirá assim, mas deve entregar 90% dos votos favoráveis ao governo. O PP tem 46 deputados e comanda os ministérios das Cidades, da Saúde e da Agricultura, além da Caixa Econômica Federal.

As maiores preocupações seguem sendo as bancadas do PR — na qual 8 dos 30 deputados tendem a votar com o Planalto —; PSD, partido do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles — apenas 15 dos 38 deputados defendem a mudança na reforma da Previdência —; e o próprio PSDB, que oscila em torno da proposta. O próprio relator da reforma, Arthur Maia (PPS-BA), foi à reunião da executiva nacional do PSDB prestar esclarecimentos. “Estou indo dar os esclarecimentos que se façam necessários para que os deputados possam tomar juízo de valor”, disse, após o café da manhã com Temer.

A ideia dos governistas é chegar ao fim da semana com 290 votos. “Assim, você acaba trazendo muitos parlamentares que estavam na dúvida. Fica faltando algo em torno de 25 votos, que não é algo difícil de conseguir”, avaliou o vice-líder do governo na Câmara, Beto Mansur (PRB-SP). Nas contas dos líderes, há em torno de 120 indecisos a serem trabalhados. “Temos gordura para queimar até semana que vem e buscar o restante dos votos necessários”, ressaltou Mansur.

COMO ERA

Rejeição dos brasileiros à reforma chegava a 46% antes das propagandas explicando as mudanças

COMO FICOU

Depois dos anúncios, o número caiu para 30% e o governo decidiu levar os números aos deputados

NAS URNAS

Dados apontam que, na reforma de 1998, 72% dos parlamentares que votaram “sim” foram reeleitos

QUEDA

No entanto, segundo a mesma pesquisa, apenas 50% dos que eram contra a reforma voltaram ao Congresso